• A Língua Pátria

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  • 07/06/2020 00:01

    “A Pátria não é a raça, não é o meio, não é o conjunto dos aparelhos econômicos e políticos: é o idioma criado ou herdado pelo povo. Um povo só começa a perder a sua independência, a sua dignidade, a sua existência autônoma, quando começa a perder o amor do idioma natal. A morte de uma nação começa pelo apodrecimento de sua língua.”

    O parágrafo acima foi retirado de uma conferência com o título “Instrução e Patriotismo”, proferida, no Gymnasio Granbery em Juiz de Fora, pelo poeta, jornalista Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac, quando foi paraninfo dos bacharelandos de 1909.

    Pela licenciatura que me foi concedida para dedicar-me aos estudos da linguagem, pelo espírito nostálgico de civismo que recebi nas primeiras sérias primárias, diante das incoerências de um pensamento que se apresenta como conservador, senti a necessidade de exaltar a imagem de um verdadeiro patriota, defensor do serviço militar como estímulo do amor à Pátria, com uma verdadeira convicção nacionalista pautada na ética, na moral, na valorização da educação, da cultura e da arte:

    Olavo Bilac, homenageado como o Patrono do Serviço Militar, foi o autor do Hino à Bandeira. Em 1939, o então presidente Getúlio Vargas instituiu o “Dia do Reservista”, que passou a ser comemorado em 16 de dezembro, dia do nascimento do ilustre poeta parnasiano, um dos fundadores da Academia Brasileira de Letras, cujo nome completo é um verso alexandrino.

    Acho que já deu para perceber que me refiro ao Olavo do Bem, Príncipe dos Poetas Brasileiros. Fato este que revela o trato que ele dava à Língua Portuguesa.

    Fiz esse breve relato dos dados biográficos de Olavo Bilac com o propósito de dizer que é possível ser nacionalista sem danificar a Língua Pátria. Por ser um bem público, ela precisa ser preservada como qualquer outra instituição.  A tão citada Constituição que rege a República materializa-se através dela.  

    A palavra fere. O Código Penal também registra os crimes provocados por ela.  A liberdade de expressão tem limites, por isso o ato de externar o que pensa requer discernimento, bom senso para que não haja ofensa, nem calúnia, nem difamação. A ética deve estar presente também no uso da linguagem. Hoje o que se denomina de fake news é um ato ilícito e quem o pratica deve arcar com as consequências no cumprimento da lei. Mas:

    – Que nacionalismo é esse que não zela pela Língua Pátria? Que conservadorismo é esse que despreza a moral no uso da linguagem? Que cristianismo é esse que não respeita o próximo e não se comove com a dor dos mais necessitados? Que economia é essa que pretende “colocar granada no bolso” do servidor público, tratando-o como inimigo? Que política ambientalista é essa que promove desmatamento a “canetada”?…

    Retomo aqui as palavras do Olavo do Bem que afirmara em uma conferência aos estudantes da Universidade do Paraná em 17/11/1916:

    “O verdadeiro patriotismo, o patriotismo que deveis compreender e cultivar, é, antes de tudo, a renúncia do egoísmo. Nada valemos por nós, individualmente. Valemos muito, e tudo, pela nossa comunhão.”

    É preciso entender que a concepção de pátria remete para um sentimento de coletividade, por isso o bem comum deve ser colocado acima dos interesses individuais. Por isso que o Olavo do Bem afirmara que devemos renunciar ao egoísmo e ter uma conduta mais humilde.

    Em outra conferência realizada em 06/11/1915, ele afirmou:

    “A educação cívica, devemos ser os primeiros a aprendê-la, meditá-la e praticá-la. Melhoremo-nos, antes de melhorar o povo. Procuremos inaugurar uma nova política, a verdadeira e ‘sã política, filha da moral e da razão’, nacional e não corrilheira, sincera e digna, condenando e abolindo os artifícios em que vivemos, fraudes eleitorais, fraquezas governamentais, paliativos econômicos e sofismas judiciários.”

    No combate ao corrilho, é que resolvi escrever este texto para que a “Última Flor do Lácio” seja mais respeitada e que o Olavo do Bem seja espelho para os que erguem a bandeira do patriotismo. Não há Pátria sem língua. Continuo com Bilac:

    “Assim, a língua faz parte da terra. Se queremos defender a nacionalidade, defendendo o solo, é urgente que defendamos também, e antes de tudo, a língua, que já se integrou no solo e já é base da nacionalidade.”

    E, para encerrar, relembro a canção “Divina Comédia Humana” de Belchior que navega pelos versos do imortal poeta:

    “Ora direis, ouvir estrelas, certo perdeste o senso/ Eu vos direi, no entanto:/ Enquanto houver espaço, corpo e tempo e algum/ modo de dizer não/ Eu canto.”

     

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