• A inteligência (QI) de Santos Dumont

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  • 29/07/2023 08:00
    Por José Aparecido da Silva

    Ao adentrarmos na pré-escola, ou escola, já folheamos aquelas grandes enciclopédias histórico-geográficas, repletas de figuras, mapas e, principalmente, de fotos de personagens que jamais vimos em nossa vida. E nos perguntamos: por que estas fotos não são de nossos pais, amigos e outros conhecidos, e, menos ainda, conhecidos de muitos de nossos professores? A resposta não é imediata. É preciso que o tempo passe para tomarmos conhecimento de que tais faces foram de personagens que criaram algo que mudou, substancialmente, o destino da Humanidade. Muitos deles, engenheiros, arquitetos, cientistas, pintores, escultores, líderes político-religiosos e afins, conhecidos no mundo todo pelo que fizeram. Mas… Por que tão poucos?

    Gradualmente, ao longo de minha vida estudantil, fui descobrindo o segredo: que muitos desses personagens ocuparam muito espaço na história universal, unidos pelo elemento comum chamado genialidade. Todavia, o que é um gênio? São pessoas como Bill Gates, Nelson Mandela, Stephen Hawking, Stephen Spielberg, Paul McCartney, Meryl Streep, Garry Kasparov, Kobe Bryant, José Saramago, Machado de Assis e César Lattes, entre outros. Pessoas que tornam difícil imaginar a história do mundo civilizado sem sua contribuição específica. O que seria da Grécia, sem Aristóteles e Alexandre, o Grande? Da Itália, sem Dante e Michelangelo? Da Espanha, sem Cervantes e Goya? Da França, sem Descartes e Napoleão? Da Alemanha, sem Goethe e Beethoven? Da Holanda, sem Rembrandt e Vermeer? Da Inglaterra, sem Shakespeare e Newton? Dos Estados Unidos, sem Jefferson e Whitmam? Da Rússia, sem Tólstoi e Lenin? De Portugal, sem Saramago e Fernando Pessoa? Do Brasil, sem Santos Dumont e Pelé?

    Baseando-nos no estudo historiométrico de Catherine Cox, publicado em 1926, que estimou o QI de 301 figuras proeminentes que viveram antes da testagem do QI, nós usamos critérios similares para estimar o QI do nosso gênio Santos Dumont que, neste ano, se vivo fosse, completaria 150 anos. Neste estudo, Fox estimou a inteligência dessas personalidades a partir de dados biográficos, incluindo trabalhos escolares, narrativas, produções artístico-culturais e plásticas. Dentre as personalidades cujos QIs foram estimados, podemos citar, para interesse comparativo, os QIs de Galileu (185), Da Vinci (180), Faraday (170), Goethe (210), Newton (190), Michelangelo (180), Cervantes (QI 155), Thomas Jefferson (160), Lincoln (150), Napoleão (145) e Mozart (165), entre outros. Ademais, comparamos as realizações de Santos Dumont com aquelas cotejadas em relação às dessas grandes figuras, chegando à conclusão de que o QI de Santos Dumont poderia ser estimado em 162, valor que está em apenas 1% da população, o que o identificava como um gênio, com, talvez, somente Machado de Assis, dentre os brasileiros, aproximando-se do mesmo.

    Cada uma dessas culturas, em verdade, sofreria uma grande perda, não apenas em prestígio e influência, mas, sobretudo, no reconhecimento de sua própria identidade, se não detivesse seus gênios. A literatura inglesa, sem os poemas e as peças teatrais de Shakespeare, seria igual a uma Londres sem sua torre, ou sem a Abadia de Westminster, sem a Catedral de Saint Paul e sem o Big Ben. Ora, como imaginar o Brasil sem Pelé? Não obstante, mais do que conceber o impacto dos gênios, em termos da herança cultural mundial, podemos contemplar sua significância em relação a domínios particulares das realizações humanas. Onde estaria a Filosofia, sem Platão? A Matemática, sem Euclides? A Literatura, sem Saramago? A Astronomia, sem Copérnico? A Física, sem Einstein? A Química, sem Lavoisier? A Biologia, sem Darwin? A Medicina, sem Pasteur? A Arte, sem Picasso? A Tecnologia, sem Edison? A Aviação, sem Santos Dumont? O Futebol, sem Pelé?

    Seria muito diferente, não?

    Gênios fazem a diferença. Que tal, então, procurarmos gênios, bem como talentos excepcionais, em diferentes domínios, em nossos bancos escolares? Não tenho dúvida, e acho que jamais terei, de que o futuro da nação está nas mãos dos gênios e talentosos.

    **Sobre o autor: Professor Titular Sênior da Universidade de São Paulo (USP-RP) e Professor Colaborador da Universidade Católica de Petrópolis (UCP-RJ)

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