• A indicação que foi surpresa

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  • 16/03/2021 08:10
    Por Mariane Morisawa, especial para o Estadão / Estadão

    Todo o mundo esperava que Druk – Mais uma Rodada concorresse ao Oscar de filme estrangeiro – na verdade, o filme é o favorito da categoria. Mas quase ninguém apostava na indicação do dinamarquês Thomas Vinterberg como melhor diretor. “Essa é uma notícia maravilhosa. Muito obrigado à Academia e parabéns aos meus colegas indicados. É uma honra receber essas indicações. Fiz alguns filmes ao longo da minha carreira, mas nenhum deles significou tanto para mim como esse”, disse o cineasta em comunicado.

    Curiosamente, Druk – Mais uma Rodada, que tem estreia prevista no Brasil para 25 de março nos cinemas que estiverem abertos, é uma espécie de reação aos sistemas de medidas do mundo. “Tudo agora é racional, medido, contado, numerado e avaliado com notas”, disse Vinterberg em entrevista ao Estadão. “Até mesmo esta entrevista vai ser medida pela quantidade de cliques. Aqui está uma certa reação a isso tudo, uma certa rebelião.”

    Na trama, Mads Mikkelsen, que volta a trabalhar com o diretor depois de A Caça, é um professor de história desanimado com a vida. Junto com seus colegas professores Tommy (Thomas Bo Larsen), Nikolaj (Magnus Millang) e Peter (Lars Ranthe), Martin resolve colocar à prova uma suposta teoria do psiquiatra norueguês Finn Skårderud de que o ser humano tem um nível alcoólico no sangue 0,05% abaixo do ideal. Para alcançar o nível correto, basta ingerir bebidas alcoólicas.

    O álcool, aqui, é apenas uma ferramenta, e o filme é bem mais profundo do que quatro amigos bebendo durante o dia. “Queríamos fazer um filme sobre substituir o tédio pela vitalidade, a curiosidade, a exploração, o risco”, disse Vinterberg.

    O longa não é autobiográfico, frisa o diretor. Mas ele descreveu como uma “horrível circunstância” o fato de, como artista, estar constantemente esperando um veredicto. “Ou são as críticas, ou a bilheteria, ou a resposta sobre um roteiro, de um investidor ou um ator, ou os festivais. E é fácil de lidar quando os resultados são bons. Mas não quando são maus, porque é um fluxo constante de resultados”, disse o diretor. “Claro que isso não é privilégio só dos cineastas. Todo mundo está passando por isso, até por causa das redes sociais. Tudo é curtido ou não curtido.”

    No caso de Druk, os resultados têm sido quase todos positivos, desde a seleção do filme para o Festival de Cannes, que não aconteceu em 2020. Mas o cineasta tem um motivo a mais para comemorar os festivais de que participou, incluindo Toronto, a Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e San Sebastián, os quatro prêmios no European Film Awards (filme, direção, ator e roteiro), as quatro indicações para o BAFTA e, agora, as duas para o Oscar.

    Em maio de 2019, poucos dias depois do início da produção, sua filha Ida, de 19 anos, morreu num acidente de carro. Druk era um projeto que Ida amava e adorava – e, segundo seu pai, ela era muito sincera em suas opiniões. Foi por causa dela que o longa foi em frente apesar da tragédia, e foi por causa dela que se tornou uma obra sobre a celebração da vida. “Então agora, quando o filme ganha prêmios, atenção, indicações, é extraespecial, porque parece que é para ela”, disse Vinterberg. “É uma homenagem à sua memória, e há um elemento cicatrizante nisso.”

    As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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