• A formação de ciclos de festas cristãs: o ciclo do Natal

  • Continua após o anúncio
  • Continua após o anúncio
  • 17/02/2020 17:32

    Na tradição cristã, a Páscoa e o Natal são hoje claramente as festas anuais mais conhecidas e celebradas por todo o Cristianismo. O surgimento delas não se deu concomitantemente. A festa cristã da Páscoa é claramente mais antiga. Ela é por um lado a continuidade de uma festa já existente entre os judeus – cujo conteúdo foi reelaborado pelo Cristianismo – e por outro lado, o próprio texto bíblico coloca a morte e ressurreição de Jesus ligadas a esta festa judaica.

    Já a festa do Natal tem um outro desenvolvimento. Seu surgimento é mais tardio, por diversos motivos, mas principalmente pelo fato de não haver qualquer menção nos textos bíblicos sobre data do nascimento de Jesus, nem haver entre os judeus ou os primeiros cristãos o costume de se festejar aniversário. Este era um costume dos pagãos. Assim, a festa do Natal como festa do nascimento de Jesus vai aparecer aos poucos e se firmar somente a partir do século IV. 

    Se a festa do nascimento de Jesus é tardia, há neste contexto duas outras celebrações surgidas anteriormente, que são a festa da Epifania e a festa do Batismo do Senhor. Os testemunhos mais antigos a respeito delas advêm do Egito, onde elas ocorreriam já no início do segundo século, como afirmam textos de Clemente de Alexandria. A festa do Natal – e sua data 25 de dezembro – irá firmar-se a partir do século quarto. 

    Com a difusão desta festa por todo o mundo cristão, as festas da Epifania e do Batismo do Senhor começarão a ser entendidas como ligadas ao Natal. A celebração do Natal começa a se tornar assim o centro de um ciclo de festas. Além da Epifania e do Batismo, o Cristianismo irá começar a celebrar a circuncisão, no oitavo dia, seguindo o costume judaico. Também na oitava do Natal foram já no século V introduzidas celebrações como o martírio de Estevão, João Evangelista e os Santos Inocentes. 

    Vê-se desta forma que aos poucos festas diferentes foram reunidas formando um ciclo de celebrações que tinham como ponto de referência a festa do Natal e ocorriam em sequência desta data. Provavelmente por influência do ciclo da Páscoa, que incluía um tempo de preparação (com o jejum da quaresma), aparece também no ciclo do Natal o tempo de preparação. 

    Surgem assim as primeiras notícias de um tempo de jejum, fixado inicialmente em 40 dias antes da festa da Epifania. Este tempo irá se transformar posteriormente em tempo de espera do nascimento de Jesus e daí o seu nome: Advento (que quer dizer vinda). Atribui-se ao papa Gregório Magno (fi m do século VI e início do século VII) a fixação em Roma do tempo do Advento em 4 semanas antes do Natal.

    Irá demorar alguns séculos ainda até este costume ser assumido pelas comunidades cristãs do Ocidente. Nas Igrejas Orientais a duração do Advento irá se fixar em 6 semanas. Independente das datas, o Cristianismo irá formar assim um ciclo de festas do Natal, que se inicia com o tempo do Advento e termina com a festa do Batismo do Senhor 

    Últimas