A forma sutil de dominação da mulher
Dia 8 de março é o dia internacional da mulher. Muitas comemorações marcam essa data. Eventos de beleza, palestras, exposições, entre outros. Poucos, no entanto, a associam à morte de mulheres operárias em uma fábrica de Nova York em 1908, fato que, de acordo com alguns autores, deu origem à celebração. Uma mirada para o passado torna difícil não reconhecer as conquistas das mulheres. Durante pouco mais de um século, conquistamos o direito ao voto, destaque no mercado de trabalho, centralidade nas famílias e protagonismo político.
Dados do IBGE mostram que em 2016, 33.9% de mulheres com mais de 25 anos possuíam nível superior completo, enquanto entre os homens este percentual não ultrapassou 27,7% de homens. No mesmo ano, 37,8% de mulheres ocuparam cargos gerenciais. Pesquisa publicada em 2018 revela que, entre 2001 e 2015, 28,9 milhões de famílias foram chefiadas por mulheres no país. Esta realidade reflete a capacidade das mulheres, fragilizando concepções que versam sobre uma suposta inferioridade feminina.
Contudo, apesar de muitas formas de dominação já terem sido superadas, uma observação mais atenta à realidade mostra que ainda estamos longe de uma igualdade de fato entre homens e mulheres. A violência, nas suas mais diversas expressões, continua assolando as mulheres em espaços públicos e também privados, causando indignação entre aqueles que entendem que direitos humanos devem ser condição sine qua non para uma vida minimamente digna.
Os casos de feminicídio permanecem como um desafio a ser enfrentado. De acordo com o Anuário Brasileiro de Segurança Pública de 2019, apenas no ano de 2018 foram registrados 1.206 casos no país. Engano pensar que um relacionamento começa com traços claros de violência. Na maior parte das vezes, formas de dominação muito sutis se fazem presentes, caracterizando comportamentos por vezes admirados por parte da sociedade. Refiro-me ao controle, à violência simbólica, à cultura machista e patriarcal que ainda marca a sociedade do Século XXI e que (re)cria mecanismos de dominação dos corpos femininos.
Este controle, muitas vezes presente nos relacionamentos, apresenta-se, com frequência, mascarado de cuidado. Quantos relacionamentos as leitoras desse pequeno texto já tiveram com homens que demonstravam uma atenção redobrada a todos os passos que elas deram? São namorados, companheiros, ou maridos que se preocupam com os horários de chegada e saída, que querem obter detalhes sobre os amigos, que se ocupam de saber se o celular está ligado.
Muitas vezes se prontificam a levar e buscar nos mais diversos compromissos: médico, trabalho, faculdade, atividades de lazer. Não precisa de muito tempo para que esses homens preencham todos os espaços do universo feminino. A ausência de referência sobre o ato de cuidar faz com que supostas manifestações de amor e de afeto sejam recebidas de braços abertos, sem limites, restrições e censura.
Ao invés de braços para abraçar, surgem tentáculos sufocantes capazes de minar quaisquer expressões de independência, autonomia e individualidade que possam vir de suas parceiras. Portanto, distinguir controle de cuidado é condição primordial para a prevenção da violência contra a mulher..