• A festa de Águas de Oxalá

  • Continua após o anúncio
  • Continua após o anúncio
  • 18/09/2020 10:30

    A tradição religiosa do Candomblé tem sua origem na África, mais especificamente no povo iorubano. Muitos membros deste povo foram trazidos ao Brasil como escravizados, sobretudo no final do século XVIII e início do século XIX. Estas pessoas trouxeram consigo seus costumes, suas tradições culturais, sua língua, sua culinária, seu modo de pensar e também suas tradições religiosas. A sobrevivência disto tudo no Brasil foi, porém enormemente prejudicada sob as árduas condições da escravização. Assim sendo, em termos religiosos, o Candomblé é – como tal – uma forma específica de religião que não tem no Brasil sua organização exatamente como em sua origem, mas sim a organização que foi possível em terras brasileiras. Entre os muitos elementos que sofreram modificações nesta transição está o calendário. Do calendário original iorubano não restou praticamente nada e estes povos tiveram que assumir aqui no Brasil o calendário vigente, marcado então fortemente pelas festas católicas. Disto resulta que até hoje muitas festividades do Candomblé acontecem em dias de festas tradicionais de santos católicos. Uma das poucas festas que conservou ainda seu caráter da origem é a festa de Águas de Oxalá. Oxalá é um orixá muito importante na tradição iorubana. Ele é ligado à coletividade, à criação, à vida comunitária, à totalidade da existência. A existência individual é entendida, nesta religião, somente a partir de sua relação com o todo. A festa de Águas de Oxalá – cuja data pode se fixada em nosso calendário de forma diversa por cada comunidade de Candomblé – é uma festa de renovação da comunidade. A cor de Oxalá é o branco. É costume, pois, que nos dias desta festa, todos os membros da comunidade se vistam de branco e que o próprio ambiente receba enfeites brancos. Uma das cerimônias mais significativas é a renovação da água. Cada membro de uma casa de Candomblé tem ali, junto aos elementos de sua iniciação, um recipiente com água, chamado de quartinha. No dia de Águas de Oxalá, cada qual se veste de branco e logo ao amanhecer, pega sua quartinha e – em silenciosa procissão – todos se dirigem a alguma fonte onde então a água da quartinha é renovada e o recipiente posto novamente junto ao altar pessoal da iniciação. Esta cerimônia marca a abertura de um novo ano litúrgico no Candomblé, ou seja, de um novo ciclo de festas religiosas. Águas de Oxalá é, desta forma, uma espécie de festa de ano novo para o calendário religioso do Candomblé.

     

    Últimas