• A Festa da Lavagem do Bonfim

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  • 21/10/2020 12:00

    A formação religiosa do Brasil se constitui a partir de matrizes culturais diferentes. Em termos amplos, se pode dizer que temos na base desta formação religiosa do país, três grandes fontes de tradições religiosas e culturais: as fontes autóctones, das culturas indígenas; as fontes africanas, de muitos povos para cá trazidos; e as fontes cristãs diversas, advindas da Europa. Embora se possa notar em nossa história muitos atritos entre estas tradições e inclusive perseguição religiosa, especialmente por parte dos cristãos que formaram sempre a população dominante desde a chegada dos portugueses no século XVI, há também nesta história elementos de interação e diálogo. Um fenômeno marcante que aponta para esta interação e diálogo é a chamada Festa da Lavagem do Bonfim. Esta festa é um momento especial dentro dos festejos da Igreja de Nosso Senhor do Bonfim, em Salvador da Bahia. Diz a tradição que o início desta festa teria acontecido no ano de 1773, quando devotos do Senhor do Bonfim teriam mandado seus escravizados lavar toda a Igreja, tanto a parte interna, quanto externa, em preparação à festa do Patronato, que ocorreria no domingo seguinte. Esta limpeza geral por parte de escravizados teria passado a ocorrer anualmente na quinta-feira anterior à festa, ou seja, na quinta-feira que antecede o segundo domingo depois da Festa de Reis (Festa da Epifania). Estes escravizados encarregados da lavagem da Igreja, passaram a interpretar esta ação a partir de um mito do Candomblé, segundo o qual súditos de Xangô teriam recebido como castigo lavar pedras por terem mantido Oxalá preso injustamente. Assim, o momento da Lavagem do Bonfim passou a ser interpretado, por parte dos fieis do Candomblé, como um ritual religioso, dedicado a Oxalá. Isto levou inclusive ao fato de todos se vestirem de branco, a cor deste Orixá. Com o passar do tempo, o ritual da Lavagem do Bonfim começou a atrair milhares de pessoas e nele se introduziu inclusive uma procissão, onde os fieis saem da Igreja da Conceição da Praia e vão até a Colina do Bonfim, num percurso de cerca de 8 quilômetros, carregando os recipientes com água de cheiro e flores, para lavar e perfumar atualmente não mais a Igreja toda, mas as escadarias e o adro. A Lavagem do Bonfim tornou-se atualmente um evento cultural religioso muito importante em Salvador, do qual participam grupos de tradições religiosas distintas, sendo a procissão inclusive aberta por uma celebração ecumênica. No cortejo há manifestações de grupos religiosos diversos e é costume que à lavagem da Igreja, siga uma grande festa popular.

     

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