A fábula do jegue encarnado
Pois foi num dia qualquer, assim de repente, resolveram os animais de um país de tamanho continental aprimorar o sistema republicano. A política, até então, era exercida por um sem número de partidos e repartidos, amontoando-se as siglas umas sobre as outras, formando uma sopa de letras que transbordava nas beiradas do oceano e poluíam as baias, enseadas, istmos e outros acidentes de diminuta importância menos votados. O partido do governo era o PHC (Partido das Hienas Carniceiras), apoiado por coligação com cerca de cem agremiações das mais disparatadas combinações alfabéticas. Cada qual com um líder: Macaco Tião (PMT), Mico Leão Dourado (PMLD), Boi Zebú (PBZ), Onça Pintada (POP), Jaguatirica (PJ), Boto Rosa (PBR), Pirarucu (PP), Arara Azul (PAA), Jacaré Cascudo (PJC) e outros e outros zurros, balidos, apitos, latidos, trinados e por ai e adiante.
Um jegue sentindo-se alijado da ordenha láctea, entendeu abrir um partido: o PTE (Partido dos Trabalhadores Excluídos), logo arregimentando grande número de adeptos em virtude da exploração milenar sofrida pelos jegues durante pouco mais de 500 anos de existência do país tropical conhecido por Patropi. Seu sonho era se tornar um cavalo com estrela na testa, como vira um deles pastando nas proximidades. Adotou a estrela como símbolo e o encarnado como a cor de batalha. Através de sua esperteza estulta, crônica e atávica, conseguiu a adesão de outros bichos que tinham o mesmo problema da rejeição e atraídos pela zurraceira dos esbravejares muares descoordenados e ininteligíveis mas bem ao gosto de quem de nada entendia e nem captava, porem se impressionava com os vibrantes coices do espécime equino,
Os eleitores elegeram o jegue e ele cercado por exemplares da categoria com franjas enormes, caudas cacheadas , ferraduras de ouro, meteu as patas pelos cascos e botou pra quebrar sob o lema: Quem for contra receberá lavagem, os amigos terão rações balanceadas com a última novidade: grãos de dólares e euros para comerem até fartarem e à vontade. Estábulos gigantescos de madeira de lei foram erguidos com comedouros e bebedouros reluzentes e grandes tonéis para lavagem dos excedentes da alimentação. Eles surgiram tanto em patropi como em adjacentes currais com as cores e arabescos bolivarianos. E o herói dos Andes, Simon, sem nada a ver com isso! Mas o estrela na testa já se julgava inserido no seleto rol dos Libertadores das Américas.
Plumosas araras com enfeites coloridos e nobres e elegantes, os tatus, os gatos angorás, os cães de raças nobres, passaram à oposição, horrorizados com tanta falta de elegância e anacrônicos comportamentos políticos beirando a patéticos.
– Nunca tantos haviam comido o destinado a tão poucos ! – afirmara um personagem distante no tempo e no espaço mas de orelhas atentas ao zurrar dos ventos.
A república das bananas, finalmente, assumiu o Mico Leão Dourado como presidente, diante do impedimento da sucessora do jegue, a senhora Pavão de Leque Aberto, continuando o patropi no mesmo descompasso já que a salada partidária e a moscaria (a classe militante na política) continuava pousada no monturo do infelicitado país : mesma praça, o mesmo banco, as mesmas flores, o mesmo jardim. Sempre o mesmo!
Até que uma grande explosão sacudiu a república da bicharada e dos escombros emergiu tudo igual com triplicado zzzzzzzzz da moscaria. Logo, logo, os japoneses compraram máscaras contra gazes e continuaram suas vidas sentados no chão e comendo com palitinhos.
Moral da fábula : Quem nunca comeu melado quando come se lambuza para alegria geral das moscas e demais insetos antigos e novos pousados no banquete.