• A ética também na linguagem

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  • 14/03/2021 08:00
    Por Ataualpa Filho

    A linguagem também requer uma conduta ética. As palavras podem ferir. As agressões verbais, às vezes, são indeléveis, não cicatrizam com facilidade. Mesmo com o pedido de desculpas, ficam as marcas das ofensas. Temos que aprender a medir as palavras e usá-las convenientemente.

    Em regime democrático, o diálogo é imprescindível, a troca de ideias pela dialética da vida promove o crescimento na busca da convergência de posições favoráveis ao equilíbrio de uma convivência pacífica.

    Ultimamente tenho visto muitos artigos de opinião e discursos parlamentares carregados de rancor e ódio. As divergências políticas vêm ocorrendo por meio de uma linguagem agressiva, rude, desrespeitosa.

    É possível discordar sem apelar para as ofensas pessoais. É compreensivo o calor das polarizações ideológicas ainda mais quando estão carregadas de interesses pessoais, mas nada justifica as ofensas, as calúnias que levam às reparações morais exigidas em juízo.

    O respeito também se manifesta através da linguagem. Não há dúvida de que a palavra é a melhor estrada para chegar ao coração e à mente. Por isso é que ela fere, faz sorrir, faz chorar, magoa, conforta…

    A linguagem é um bem social, podemos identificar o grau de respeito entre as pessoas a partir do padrão linguístico utilizado no processo de comunicação entre elas. Portanto a crise ética também é refletida no nível da linguagem.

    Afirmara o poeta, jornalista Olavo Brás Martins dos Guimarães Bilac, na conferência com o título “Instrução e Patriotismo”, proferida, no GymnasioGranbery em Juiz de Fora, quando foi paraninfo dos bacharelandos de 1909:

    “A Pátria não é a raça, não é o meio, não é o conjunto dos aparelhos econômicos e políticos, é o idioma criado ou herdado pelo povo(…) A morte de uma nação começa pelo apodrecimento de sua língua. Ainda hoje notamos que, para manter e consolidar a conquista de países subjugados, a primeira coisa que procuram fazer as nações fortes é impedir nas escolas desses países o estudo da língua materna”.

    Confesso que não entendo esse patriotismo que não zela pela Língua Pátria. Não entendo esse conservadorismo que despreza a moral no uso da linguagem, abusa dos palavrões. Temos que pensar bem antes de externar as nossas ideias. Geralmente o problema maior não está no que se diz, mas na forma como se diz. A verdade precisa ser dita, a sinceridade é imprescindível, porém é necessário saber expressá-la para que não haja mágoas. Em corações e mentes, há espaço para a verdade. Contudo, temos que apreender a conduzi-la com respeito, amor, ternura para discernir os caminhos que devem ser seguidos. Quando a palavra obedece a impulsos psíquicos revela o interior de quem a usa. Por isso é que se tem a certeza de que ninguém engana um povo eternamente. Cedo ou tarde, o fingimento é desmascarado.

    Foi Olavo Bilac que também afirmou: “a língua faz parte da terra, se queremos defender a nacionalidade, defendendo o solo, é urgente que defendamos também, e antes de tudo, a língua, que já se integrou no solo, e já é base da nacionalidade.”

    É preciso entender que a concepção de pátria remete a um sentimento de coletividade, por isso o bem comum deve ser colocado acima dos interesses individuais.

    Retomo aqui as palavras do Olavo do Bem que afirmara em uma conferência aos estudantes da Universidade do Paraná em 17/11/1916:

    “O verdadeiro patriotismo, o patriotismo que deveis compreender e cultivar, é, antes de tudo, a renúncia do egoísmo. Nada valemos por nós, individualmente. Valemos muito, e tudo, pela nossa comunhão.”

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