A Estrela e os Reis Magos
Com alegria, hoje, celebramos a Epifania do Senhor, isto é, a sua manifestação aos povos do mundo inteiro, representados pelos Magos, que vieram do Oriente, para homenagear o Rei dos Judeus. Os Magos representam todas as línguas e nações que se põem a caminho, chamados por Deus, para adorar Jesus (Mt 2, 1-12). Celebramos hoje Cristo, Luz do mundo, e a sua manifestação às nações. Desde o seu primeiro surgimento, então, a luz de Cristo começa a atrair a si os homens “que Deus ama” (Lc 2, 14), de todas as línguas, povos e culturas. É a força do Espírito Santo que suscita os corações e as mentes a buscar a verdade, a beleza, a justiça e a paz. É quanto São João Paulo ll afirma na Encíclica Fides et Ratio: “O homem se encontra num caminho de busca, humanamente infindável: busca da verdade e busca de uma pessoa em quem possa confiar” (n. 33 ): os Magos encontraram ambas essas realidades no Menino de Belém. No dia de Natal a mensagem da liturgia ressoava assim: “Hoje uma grande luz desce sobre a Terra”. Em Belém, esta “grande luz” apareceu a um pequeno grupo de pessoas, um minúsculo “resto de Israel”: a Virgem Maria, o seu esposo José e alguns pastores. Uma luz humilde, como faz parte do estilo do Deus verdadeiro; uma chama pequena acendida na noite: um frágil recém-nascido, que geme no silêncio do mundo… Mas aquele acontecimento escondido e desconhecido era acompanhado pelo hino de louvor pelas multidões celestes, que cantavam glória e paz (Lc 2, 13-14).
Os homens e as mulheres de todas as gerações, na sua peregrinação, têm necessidade de ser orientados: então, qual estrela podem seguir? Depois de pairar sobre “o lugar onde estava o Menino” (Mt 2, 9), a estrela que guiou os Magos concluiu a sua função, mas a sua luz espiritual está sempre presente na Palavra do Evangelho, que também hoje é capaz de guiar todos os homens até Jesus. Essa mesma palavra, que não é senão o reflexo de Cristo, verdadeiro homem e verdadeiro Deus, é ressoada competentemente pela Igreja em cada alma bem disposta. Por conseguinte, também a Igreja desempenha a missão da estrela em prol da humanidade. Mas, algo semelhante pode-se dizer de cada cristão, que é chamado a iluminar com a palavra e o testemunho da vida os passos dos irmãos. Como é importante então que nós, cristãos, sejamos fiéis à nossa vocação! Todo o crente autêntico está sempre a caminho no próprio e pessoal itinerário de fé e, ao mesmo tempo, com a pequena luz que traz dentro de si, pode e deve servir de ajuda para quem se encontra ao seu lado e, talvez, sente dificuldade de encontrar a estrada que conduz a Cristo.
Nos Reis Magos, vemos milhares de almas de toda a terra que se põem a caminho para adorar o Senhor. Passaram vinte séculos desde aquela primeira adoração, e esse longo desfile do mundo inteiro continua chegando a Cristo.
A festa da Epifania incita todos os fiéis a partilharem dos anseios e fadigas da Igreja, que “ora e trabalha ao mesmo tempo, para que a totalidade do mundo se incorpore ao Povo de Deus, Corpo do Senhor e Templo do Espírito Santo” (LG 17). Nós podemos ser daqueles que, estando no mundo, imersos nas realidades temporais, viram a estrela de uma chamada de Deus e são portadores dessa luz interior que se acende em consequência do trato diário com Jesus. Sentimos, pois, a necessidade de fazer com que muitos indecisos ou ignorantes se aproximem do Senhor e purifiquem a sua vida.
A Epifania é a festa da fé e do apostolado da fé. “Participam desta festa tanto os que já chegaram à fé como os que procuram alcançá-la. Participa desta festa a Igreja, que cada ano se torna mais consciente da amplitude da sua missão. A quantos homens é necessário levar ainda a fé! Quantos homens é preciso reconquistar para a fé que perderam, numa tarefa que é, às vezes, mais difícil do que a primeira conversão! No entanto, a Igreja, consciente desse grande dom, o dom da Encarnação de Deus, não pode deter-se, não pode parar nunca. Deve procurar continuamente o acesso a Belém para todos os homens e para todas as épocas. A Epifania é a festa do desafio de Deus” (São João Paulo ll, Homilia 6-l-1979).
A Epifania recorda-nos que devemos esforçar-nos por todos os meios ao nosso alcance para que todos os nossos amigos, familiares e colegas se aproximem de Jesus.
Os Magos, seguindo a estrela, encontram o lugar onde estava o Salvador com Maria e José. E voltaram às suas regiões por outro caminho.
Quem encontra Jesus Cristo muda de caminho. Toma outro caminho. Um caminho novo, o caminho de Jesus Cristo que se apresenta como o Caminho. O encontrar Deus no menino transforma a vida das pessoas. Já não podem voltar a Herodes. Voltaram por outro caminho à sua região. Importa seguir a estrela que pousará onde está Jesus Cristo. Precisamos estar atentos à estrela. A estrela são todos os sinais de Deus para que encontremos o Messias Salvador: a Palavra de Deus, os Sacramentos, o Magistério da Igreja, uma boa palavra do sacerdote ou de pessoas amigas, os acontecimentos da vida.
Os Magos seguiram a estrela. Não duvidaram, porque sua fé era sólida, firme; não titubearam perante a fadiga de tão longa viagem, porque o seu coração era generoso. Não adiaram a viagem para mais tarde, porque tinham alma decidida. É importante aprender dos Magos a virtude da perseverança: mesmo durante o tempo em que a estrela se ocultou aos seus olhares continuaram à procura do Menino! Também nós devemos perseverar na prática das boas obras, mesmo durante as mais obscuras trevas interiores. É a prova do espírito, que somente pode ser superada num intenso exercício de fé. Sei que Deus assim o quer, devemos repetir nesses momentos: Sei que Deus me chama e isso basta! “Sei em quem pus a minha confiança” (2Tm 1, 12).
Sejamos estrelas que vão indicando o caminho ao próximo para que ele encontre o Messias Salvador. Há muitas maneiras de sermos estas estrelas, dando testemunho de Jesus Cristo. Isso na família, na Igreja e na sociedade. Que na festa da Epifania nos deixemos guiar pela estrela, iluminar por ela, e poderemos ser luz para os outros.
Voltemos aos Magos do Oriente! Eles eram também e sobretudo homens que tinham coragem; tinham a coragem e a humildade da fé. Era preciso coragem a fim de acolher o sinal da estrela como uma ordem para partir, para sair rumo ao desconhecido, ao incerto, por caminhos onde havia inúmeros perigos à espreita. Podemos imaginar que a decisão destes homens tenha provocado sarcasmo: o sarcasmo dos ditos realistas que podiam apenas zombar das fantasias destes homens. Quem partia baseado em promessas tão incertas, arriscando tudo, só podia aparecer como ridículo. Mas, para estes homens tocados interiormente por Deus, era mais importante o caminho segundo as indicações divinas do que a opinião alheia. Para eles, a busca da verdade era mais importante que a zombaria do mundo, aparentemente inteligente.
Queridos irmãos e irmãs, detenhamo-nos também nós idealmente diante do ícone da adoração dos Magos. Ele contém uma mensagem exigente e sempre atual. Exigente e sempre atual antes de tudo para a Igreja que, espelhando-se em Maria, está chamada a mostrar Jesus aos homens, nada mais do que Jesus. De fato, Ele é o Tudo e a Igreja existe unicamente para permanecer unida a Ele e dá-Lo a conhecer ao mundo. Ajude-nos a Mãe do Verbo encarnado a sermos discípulos dóceis do seu Filho, Luz das nações.
Mais uma vez, sentimos em nós um profundo reconhecimento por Maria, a Mãe de Jesus. Ela é a imagem perfeita da Igreja que doa ao mundo a luz de Cristo: é a Estrela da evangelização. Diz-nos São Bernardo: “olha para a Estrela”, tu que vais à procura da verdade e da paz; dirige o olhar para Maria, e ela mostrar-te-á Jesus, luz para cada homem e para todos os povos.
Peçamos à Virgem Maria que nos conduza ao seu Filho Jesus. Os Reis Magos tiveram uma estrela. Nós temos Maria!