A empresa em que trabalho tem que dar lucro

Um empreendimento sobrevive basicamente por dois motivos: por que existem pessoas trabalhando para que ele funcione e por que há pessoas que se interessam pelo produto ou serviço oferecido. E isso vale tanto para empresas cuja finalidade é lucro, tanto para as do terceiro setor. O resultado oferecido só existe pois há trabalho para gerá-lo. Logo, nada mais justo que, em algum momento, essa força motriz seja homenageada: a força de trabalho, que é representada pelos trabalhadores. O trabalhador deve ser sempre tratado pelo empresário da melhor forma possível, mas dentro de uma lógica que permita a empresa ser lucrativa, o que permite o seu crescimento. Não ao paternalismo.

O trabalhador deve se sentir importante dentro da empresa. E isso pode ser resultado de fornecimento de treinamentos, uniformes, comemorações de alcances de planos de crescimento. Mas o que já se percebeu, desde a década de 1980, é que o trabalhador deve se sentir “em casa” na empresa. E isso pode passar por coisas estranhas à primeira vista. Mas podem fazer toda a diferença.

Na década de oitenta o empresário Ricardo Semler foi o primeiro do Brasil a discutir esse assunto. Através do livro “Virando a Própria Mesa”, de 1988, ele promoveu a discussão de como pequenas atitudes podem gerar grandes resultados. Tirar folga durante metade de um dia qualquer, abolir o cartão de ponto, investir em leitura, permitir que os operadores das máquinas as pintem da cor que se quiser, são alguns exemplos.

Mas é importante salientar que o trabalhador também tem que fazer a sua parte. Tudo isso é uma via de mão dupla. E o trabalhador deve entender que a empresa deve ter lucros. Sempre os maiores possíveis.

Parte dessa lucratividade deve ser revertida para o reinvestimento na empresa. Reinvestimento não significa comprar bens materiais. Significa também prover aos trabalhadores melhoria de vida: fornecer treinamento, promoções, bem-estar e segurança na empresa.

Mas deve ficar claro que o empresário não pode ser “preguiçoso” e se adaptar ao “modus operandi” do trabalhador que não se adequa a empresa. Da mesma forma que o trabalhador deve sair da empresa quando não se sente bem, o mesmo deve ser feito pelo empresário: tirar da sua empresa o trabalhador com o qual a empresa não se encaixa.

Por outro, o empresário deve perceber que nem sempre trabalhador aborrecido é sinônimo de problemas. O trabalhador aborrecido pode ser comparado ao cliente que reclama da empresa: pode ser que esse aborrecimento esteja apontando falhas internas na empresa. Portanto, antes que de uma forma unilateral o empresário o retire da empresa, é importantíssimo que verifique de forma profunda o que está causando esse aborrecimento.

Já que há pouco tempo se comemorou o dia do trabalhador, vamos aproveitar que o assunto ainda está no ar e, empregados e empregadores, procurem analisar e quebrar alguns dos paradigmas existentes entre esses dois personagens. 

mairom.duarte@csalgueiro.com.br.