• A emocionante história da paratleta Fabiana

  • 28/11/2016 17:55

    Fabiana Soares da Silva, 38 anos, sabe perfeitamente o que é driblar dificuldades para vencer. Mesmo com problemas físicos desde a infância, ela não deu bola para os problemas e, inspirada em seu pai, dedicou-se ao esporte praticando inúmeras modalidades, mas foi na esgrima adaptada que se encontrou. 

    A paratleta do Magnólia conquistou recentemente o vice-campeonato brasileiro em São Paulo, na categoria Florete. Ela abriu seu coração numa entrevista emocionante à Tribuna. 

    TRIBUNA –  Fabiana, no outro fim de semana você competiu em São Paulo e conquistou o vice-campeonato brasileiro de esgrima adaptada. Como você encarou esse brilhante resultado?

    Fabiana Soares –  “O torneio se deu do dia 17 ao domingo passado. Nossa! Fiquei muito feliz. Foi uma mistura de emoção, de nervosismo e ansiedade a cada partida que ia passando até chegar a final. Fui derrotando 1 a 1, tive bolhas na mão, mas nada me parava. Quando vi que podia ir mais e mais longe, me concentrava mais e conseguia os resultados, servindo de motivação ainda mais para as outras competições. Isso me mostrou que tenho capacidade de ir longe, que apesar da pouca estrutura que temos aqui em Petrópolis, percebi que com muita dedicação e força de vontade podemos ir longe. Perdi apenas para a menina que foi para as Paralimpíadas e representou o Brasil. Ela é pentacampeã brasileira da modalidade. E foi bom também para mostrar resultado para todas as pessoas que me ajudaram quando precisei comprar a cadeira de rodas, que era muito cara. Então, também foi uma forma de retorno para todas essas pessoas, que viram que não foi em vão”.

    TRIBUNA –  Faltou pouco para que pudesse representar o Brasil durante os Jogos Paralímpicos do Rio 2016. Por que não conseguiu ser convocada?

    Fabiana Soares –  “Para representar o Brasil nas Paralimpíadas faltou bastante em relação a dinheiro, porque disposição e força de vontade não me faltaram. Como sou nova na modalidade, teria que pagar tudo do meu bolso como a passagem, hospedagem, alimentação e material que são bem caros e multiplicado por dois. Sempre preciso de mais alguém para ir comigo, seja ele meu técnico ou alguém para me ajudar com os materiais, pois por ser deficiente tudo é mais complicado. O material só poderia ser o reconhecido pela FIE (Federação Internacional de Esgrima), então ficou difícil. Preferi pegar o dinheiro que consegui com as ajudas e investir em alguns equipamentos como luva, uma espada e máscara, mas preciso de mais coisas como roupa, outras armas para jogar, sempre precisamos de arma reserva. Mas 2020 está aí e quem sabe estaremos em Tóquio? (risos)!”

    TRIBUNA –  Como enxerga a esgrima adaptada no Brasil? Afinal, após os Jogos Paralímpicos, o esporte tende a crescer ou não?

    Fabiana Soares –  “Acho que a esgrima, por si só, já é um esporte não muito conhecido e divulgado. Em cadeira de rodas menos ainda, mas acho que com essa visibilidade das Paralimpíadas esperamos que ela cresça mais. Temos poucos atletas no Brasil. No estado do Rio de Janeiro, para você ter uma ideia, sou a única. Não temos muito incentivo para a prática, o gasto é grande, eu pago tudo do meu bolso, as viagens, os treinos, os materiais. Espero muito conseguir alguns incentivos financeiros ou patrocínio e assim tentar trazer mais deficientes e ajudar na prática dessa modalidade tão bonita, que é a esgrima em cadeira de rodas em nossa cidade”.

    TRIBUNA –  Qual é a importância do clube Magnólia na sua vida esportiva?

    Fabiana Soares –  “O Sport Club Magnólia, junto com seu presidente Flávio Fiúza, já tinha a esgrima convencional. Então, ele junto com o meu mestre D’ armas, Guilherme Giffoni, abriram as portas e resolveram deixar começar a prática da esgrima em cadeira de rodas. No início foi bem difícil, porque nem a cadeira para a prática eu tinha, e foi através de uma campanha de arrecadação na internet e mais os amigos que ajudavam por fora que consegui dar entrada na cadeira. Mesmo assim, não obtive o dinheiro total para a compra e duas pessoas que hoje posso chamar de amigos fizeram questão de me ajudar com o restante, que foi Hingo Hammes e José Damasceno, fora toda a visibilidade que o esporte teve através de vários programas que pude participar nos canais 10, 16, 19, Inter TV e Tribuna de Petrópolis. E se esqueci de alguém ou de algum canal, peço desculpas, pois fui em muitos”.

    TRIBUNA –  Pelo que você sabe, qual o país está melhor na esgrima adaptada?

    Fabiana Soares –  “Tem alguns países fortes como a China, Hungria, Itália, Polônia, França ente outros. Nessas nações existem muito mais campeonatos durante o ano, mais atletas e isso tudo influencia, eles ganham para isso. Aqui no Brasil alguns de nós ainda temos que trabalhar, não podemos viver só do esporte, infelizmente”.

    TRIBUNA –  Voltando a falar do seu sucesso em São Paulo, quais são seus planos para a próxima temporada?  O resultado obtido no Brasileiro a animou a sonhar com voos mais altos?

    Fabiana Soares –  “Meus planos para o ano que vem são de conseguir participar de todas as Copas do Brasil e do Campeonato Brasileiro. Conseguir manter bons resultados, porque é difícil, pois temos muitas pessoas boas. O forte aqui do Brasil na esgrima está em Porto Alegre e Curitiba. Sei que em Curitiba a secretaria de Esportes ajuda muito eles nas viagens e na compra de materiais, e olha que lá são muitos atletas. Então, meu plano é obter algum patrocínio que possa me ajudar na compra desses materiais e com as passagens para as viagens, me dando uma melhor condição de treino, pois infelizmente nem o fixador que segura a cadeira para os treinos eu tenho. Tive que improvisar um de madeira, que não é muito legal, mas tem servido, porém só eu jogo sentada. Se tivesse o fixador, daria para colocar duas cadeiras de rodas e assim jogar de igual para igual. E com esse resultado me animou bastante a treinar mais e chegar mais longe. Quem sabe chegar a Tóquio em 2020? Nada é impossível se você acredita em seus sonhos”.

    TRIBUNA –  Conte um pouco a sua história de vida e o que te levou para a esgrima.

    Fabiana Soares – “O meu problema vem de nascença. Eu nasci com a perna esquerda menor que a outra, alguns acham que foi sequela de poliomielite, mas nunca ficou bem definido isso. Meus pais me levaram para fazer uma cirurgia para alongar, e ela não deu certo e acabou piorando a minha situação. Fiquei com a deficiência na perna, embora ela nunca me impediu de fazer o que eu quisesse. Sempre fiz esportes desde pequena, seguindo os passos do meu pai, que sempre foi um grande esportista, campeão brasileiro de canoagem, entre outras coisas. Então, o esporte sempre esteve no meu sangue. O esporte que eu praticava era o hóquei tradicional, fui goleira durante 12 anos e havia parado de praticar esportes. Estava há cinco anos sem fazer nada e como estava chegando a época das Olimpíadas e Paralimpíadas, porque não voltar a praticar alguma coisa? Tenho a deficiência e sempre joguei bem tudo que fiz. Resolvi partir para o Paradesporto, porém em Petrópolis não tem muita coisa. Acho que só o atletismo e a bocha. Como disse, descobri a esgrima convencional no Magnólia, não era nada voltado para os deficientes, por isso tive que pedir se eles tinham interesse em querer me treinar. E foi assim que tudo começou, graças a Deus conseguindo um ótimo resultado, sendo vice-campeã brasileira de esgrima em cadeira de rodas, na modalidade Florete”.

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