
A Cruz na Vida do Cristão!
A liturgia do XII Domingo, no Evangelho (Lc 9, 18-24), mostra o caminho do verdadeiro Messias e de quem quiser segui-Lo.
No final de sua atividade, na Galiléia, Jesus, depois de ter ORADO, provoca os Apóstolos a dizer o que pensam dele, de sua identidade e missão: “Quem diz o povo que eu sou? E vós, quem dizeis que eu sou?” (Lc 9, 19-20).
Eles lhes responderam: “Uns dizem que és João Batista; outros que és Elias; ou um dos antigos profetas que ressuscitou”. Reconhecem, em Jesus, um grande Mestre, um operador de milagres, mas um homem apenas…
Porém, os discípulos deviam ter compreendido algo mais, pois foram testemunhas de seus milagres e destinatários privilegiados de sua doutrina. Por isso, Jesus acrescenta: “E vós, quem dizeis que eu sou?” (Lc 9, 20). A essa interrogação, o Apóstolo Pedro, em nome de todos, respondeu com prontidão: “Tu és o Cristo de Deus, o Messias de Deus,” superando, desse modo, todas as opiniões terrenas que consideravam Jesus um dos profetas. A resposta era exata! E Jesus completa, apontando “o Caminho de Jesus”, falando pela primeira vez de sua Paixão… Segundo Santo Ambrósio, com essa profissão de fé, Pedro “abraçou, ao mesmo tempo, todas as coisas, porque expressou a natureza e o nome do Messias”. E, diante dessa profissão de fé, Jesus renova a Pedro e aos demais discípulos o convite feito a segui-lo pelo caminho exigente do amor até à Cruz. Também a nós, que podemos conhecer o Senhor mediante a fé na sua Palavra e nos Sacramentos, Jesus dirige a proposta de segui-lo todos os dias e também a nós recorda que, para sermos seus discípulos, é necessário apropriarmo-nos do poder da sua Cruz, ápice dos nossos bens e coroa da nossa esperança.
Para os discípulos, que esperavam um Messias-Rei, tal afirmação deve ter sido muito dura e decepcionante… Mas, Jesus não volta atrás, pelo contrário, reafirma que o Caminho do discípulo é o mesmo: “Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome sua Cruz cada dia, e siga-me” (Lc 9, 23).
Ele irá à frente para dar o exemplo: será o primeiro a levar a Cruz. Quem quiser ser seu discípulo, há de imitá-Lo. E conclui: “Pois quem quiser salvar a sua vida, vai perdê-la; e quem perder a sua vida por causa de mim, esse a salvará.” (Lc 9, 24). Para o discípulo de Cristo, a meta é a glória, a felicidade eterna, porém há que percorrer com Ele o caminho da Cruz. Negar-se a si mesmo, tomar a Cruz, perder a vida. Palavras difíceis de entender e aceitar para muitos em nossos dias.
O discípulo é chamado a imitar Jesus, não apenas uma vez, mas, dia após dia, negando-se a si mesmo, (vontade, inclinação, gostos) para se conformar com o Mestre sofredor e crucificado.
O cristão não pode passar por alto esses ensinamentos de Jesus Cristo. Deve arriscar-se, jogar a vida presente em troca de conseguir a eterna.
A exigência do Senhor inclui renunciar à própria vontade, para identificá-la com a de Deus, a fim de que não aconteça que, como comenta São João da Cruz, tenhamos a sorte de muitos “que queriam que Deus quisesse o que eles querem, e entristecem-se de querer o que Deus quer, e têm repugnância em acomodar a sua vontade à de Deus. Disto vem que, muitas vezes, no que não acham a sua vontade e gosto, pensam não ser da vontade de Deus e, pelo contrário, quando se satisfazem, creem que Deus Se satisfaz, medindo também a Deus por si, e não a si mesmos por Deus” (Noite Escura, liv. I, Cap. 7, nº. 3).
O fim do homem não é ganhar os bens temporais deste mundo, que são apenas meios ou instrumentos; o fim último do homem é o próprio Deus, que é possuído, como antecipação, aqui na terra, pela Graça, e, plenamente, e, para sempre, na Glória. Jesus indica qual é o caminho para conseguir esse fim: negar-se a si mesmo (isto é, tudo o que é comodidade, egoísmo, apego aos bens temporais) e levar a Cruz. Porque, nenhum bem terreno, que é caduco, é comparável à salvação eterna da alma. Diz São Tomás: “O menor bem da Graça é superior a todo o bem do universo” (Suma Teológica, I-II, q.113, a. 9).
“Cristo repete-O, a cada um de nós, ao ouvido, intimamente: a Cruz de cada dia. Não só, escreve São Jerônimo, em tempo de perseguição ou quando se apresente a possibilidade do martírio, mas em todas as situações, em todas as atividades, em todos os pensamentos, em todas as palavras, neguemos aquilo que antes éramos e confessemos o que agora somos, visto que renascemos em Cristo. Vedes? A Cruz de cada dia. Nenhum dia sem Cruz: nenhum dia que não carreguemos com a Cruz do Senhor, em que não aceitemos o Seu jugo. E muito certo que, aquele que ama os prazeres, que busca as suas comodidades, que foge das ocasiões de sofrer, que se inquieta, que murmura, que repreende e se impacienta, porque a coisa mais insignificante não corre segundo a sua vontade e o seu desejo, tal pessoa, de cristão só tem o nome; somente serve para desonrar a sua religião, pois Jesus Cristo disse: aquele que queira vir após mim, renuncie a si mesmo, tome a sua Cruz, todos os dias da vida, e siga-me.”
A Cruz não só deve estar presente na vida de cada cristão, mas também em todas as encruzilhadas do mundo. Diz São Josemaria Escrivá: “Que formosas essas cruzes no cimo dos montes, no alto dos grandes monumentos, no pináculo das catedrais! Mas, também, é preciso inserir a Cruz, nas entranhas do mundo.
Jesus quer ser levantado ao alto, aí: no ruído das fábricas e das oficinas, no silêncio das bibliotecas, no fragor das ruas, na quietude dos campos, na intimidade das famílias, nas assembleias, nos estádios… Onde quer que um cristão gaste a sua vida, honradamente, aí deve colocar, com o seu amor, a Cruz de Cristo, que atrai a Si todas as coisas” (Via Sacra, XI).
A Cruz é sinal do cristão. Está presente em toda parte, com muitos nomes…
São Máximo, o Confessor, observa que “o sinal distintivo do poder de nosso Senhor Jesus Cristo é a Cruz, que ele carregou nas costas”. Com efeito, “a todos dizia: ‘Se alguém me quer seguir, renuncie a si mesmo, tome sua Cruz cada dia, e siga-me’” (Lc 9,23). Tomar a Cruz significa comprometer-se para derrotar o pecado que impede o caminho rumo a Deus, aceitar, diariamente, a Vontade do Senhor, aumentar a fé sobretudo diante dos problemas, das dificuldades e dos sofrimentos. A Santa Carmelita Edit Stein deu-nos este testemunho, num período de perseguição. Assim escrevia do Carmelo de Colônia, em 1938: “Hoje compreendo… o que quer dizer ser esposa do Senhor, no Sinal da Cruz, embora nunca se possa compreendê-lo completamente, dado que é um Mistério… Quanto mais se obscurece ao nosso redor, tanto mais temos que abrir o coração à luz que vem do alto”. Também na época atual, muitos sãos os cristãos no mundo que, animados pelo amor a Deus, tomam todos os dias a Cruz, tanto a das provações quotidianas como a provocada pela barbárie humana, que, às vezes, exige a coragem do sacrifício extremo. O Senhor conceda que cada um de nós deposite sempre a nossa esperança sólida nele, persuadidos de que, seguindo-o e carregando a nossa Cruz, chegaremos juntamente com Ele à luz da Ressurreição.
Que o Senhor nos conceda a graça de, também, segui-Lo na Cruz; de perder a vida, por causa de Cristo, para salvá-la.
Seguir a Cristo não tem apenas um momento heroico, espetacular, como nos mártires. Há uma doação menos chamativa, mas não por isso menos exigente, expressão da constância: “tome a sua Cruz de cada dia” (Lc 9,23). O caminho da Cruz passa através das horas e dos dias, da fidelidade contínua e escondida. E tudo que parece opressivo e mortificante se transforma diante dos nossos olhos contemplativos em um verdadeiro tesouro. A condição é não perdermos de vista Cristo: vai à frente e dê a graça por levarmos a Cruz de cada dia com garbo e elegância, e não resmungando. Tomar a Cruz de cada dia com Cristo, por Cristo e em Cristo é grande negócio, converte-se em fonte de alegria e amor, salvação e glória.
O ensinamento de Jesus é claro: é necessário fazer tudo, tendo em vista a vida eterna; para ganhar este bem, podemos gastar a vida terrena. Em outra ocasião, Jesus lembrou: “de que adianta a alguém ganhar o mundo inteiro, se vier a perder-se ou a arruinar-se si mesmo?” (Lc 9, 25).
O mundo diz: devemos aproveitar muito bem a vida. E nós, cristãos, sabemos como: com a Santa Cruz.
E, como a paixão do Senhor conduziu à alegria da Ressurreição, assim, o cristão, que carregue com a Cruz até perder a vida por Cristo, salvando-a, e encontrando-a nEle, na glória eterna.