• A celebração da vida

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  • 09/08/2021 15:44
    Por Ataualpa Filho

    Uma vida simples não é uma simples vida, requer a tenaz convicção para resistir às tentações que a ganância, aguçada pela publicidade do consumo desenfreado, tende a aflorar pelo desejo de acumular bens com o objetivo de obter status em um contexto social imerso na futilidade.

    A ostentação da riqueza material é corrosiva, desvirtua a conduta moral de quem se deixa seduzir pelo luxo, pela luxuria. Os casos de corrupção, que a todo instante são estampados nos noticiários, evidenciam a apropriação indébita do erário por quem deseja enriquecer-se, mesmo ilicitamente. Tais atos são praticados, com frequência, por aqueles que se colocam como representantes do povo, mas só pensam em si.

    Os roubos, os furtos, geralmente, são consequências da vileza, por isso que muitos que acumulam bens demonstram uma grande pobreza, têm alma e coração vazios. Não é a ocasião que faz o ladrão, nem é o hábito que faz o monge. A cegueira da consciência tem consequências drásticas, não enxerga o direito do outro. E assim não há o devido respeito à propriedade alheia, nem ao bem público.

    A força do vil metal desumaniza, destrói “coisas belas”: irmão mata irmão, coloca filho contra pai, corta laços de amizades…

    Cenas de agressões físicas e morais são postadas, com frequência, nas redes sociais. O que mais me deixa indignado são as covardias praticadas contra criança. Confesso que tenho dificuldades para ler notícias sobre o assassinato de meninos e meninas em ambientes domésticos.Fato que se constata nas mais diversas camadas sociais.

    Nesta pandemia, estamos nos deparando com um lado perverso da humanidade, que banaliza a vida. O número de óbitos em decorrência da Covid-19 virou apenas uma estatística. Com mais de 560 mil mortos, a indiferença movida pela insensibilidade colocou a sociedade em uma letargia que tenta estabelecer um “novo normal” sobre cadáveres. Não me conformo com a perda de amigos e parentes nessa banalidade, vendo autoridades mais preocupadas com o pleito eleitoral que se aproxima do que com o padecimento do povo nas filas dos hospitais.

     As campanhas eleitorais já estão a todo vapor, principalmente dos fins de semanas. As aglomerações continuam a propagar as variantes do vírus que tanto tem ceifado vidas.Nesse apego a cargos políticos, geralmente, encontra-se a raiz de muitos enriquecimentos ilícitos. Há a velha máxima: “armar para se dar bem”. É a famosa “boquinha” no segmento público. Alguns acumulam nos cofres o que deveria ser repartido entre todos. Não há democracia sem justiça social. Quem luta para ter o pão sabe o que é fome de justiça…

     Eu vim lá do Sertão, posso lhe afirmar: vi muitos homens sem ter o que dar de comer aos filhos, sentiam uma dor profunda no peito, mas não pegavam em arma para roubar, por isso digo: a miséria não é a mãe da violência. Muitos mendigos estendem a mão para pedir, mas não roubam. Carregam na sua pobreza a dignidade de nunca ter se apropriado do alheio. Por outro lado, estamos assistindo ao desmoronamento de certos políticos e executivos que construíram fortunas na base da propina, do suborno, movidos pela ganância do poder, do querer ter a qualquer custo, mesmo vendendo a própria alma. Para mim, a maior pobreza é essa fincada na falta de ética e na ilicitude. Quem conduz a vida com o suor do próprio rosto sempre andará de cabeça erguida.

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