A biblioteca de Fernando Py
Apesar de nome extenso é, apenas, Fernando Py, como todos o conhecem. Poeta, escritor, crítico literário e tradutor de obras, entre outras, de Marcel Proust. Uma mera apresentação, se não vou escrever sobre ele (o espaço seria curto) mas sim, sobre sua querida biblioteca.
Em função disto, entende-se o amor por livros e vê-lo alegre é presentear com um tomo e, se antigo, mais ainda – e é aí que a situação se complica. Com um acervo caminhando para os nove mil volumes – tudo registrado e catalogado – entre obras raras, especiais e diversificadas, além de várias estrangeiras – algumas traduzidas, outras na língua de origem e em paralelo, um arquivo importante de correspondência com vários escritores, como alguns velhos amigos da ABL. E sua maior preocupação é, enfim, com seu destino – a “menina dos olhos” – após sua eventual partida, para preservá-la, evitando sua desintegração. Só para se ter ideia, os livros que possui “de e sobre” Carlos Drumond de Andrade, ocupam uma pequena estante com mais de 200 unidades.
Seu desejo era que ela permanecesse nesta cidade, onde se fixou há 50 anos, por isto, em 2016 procurei uma entidade para oferecê-la e, infelizmente, o professor que faria avaliação, foi para a “cidade das alterosas”- BH. O assunto foi transferido para a bibliotecária, que se afastou, ficando para sua substituta, época em que a pessoa de contato saiu em férias por questões de saúde, justamente quando, por acaso, o assunto chegou ao conhecimento de outra entidade, que já programou uma visita e pondo o caso em pauta, mas sem se poder imaginar um desfecho positivo, em função do tempo. Assim, a finalidade é tornar publico uma situação, até certo ponto, angustiante psicologicamente, mas com esperança de surgir um local certo já que, anexando arquivo aos livros, mais importante ela se torna. O acervo não se encontra em leilão, mas sim, a quem lhe der mais “valor” e acesso à pesquisa literária.
O certo é que, nem a APL, que completou 95 anos, onde ele é titular, nem a ABP – “Casa de Raul de Leoni”, que chega aos 35 anos, onde é emérito, possuem sede própria para abrigar tal acervo, se carecem de atenção dos poderes públicos, muito diferente das coirmãs de Teresópolis e de N. Friburgo, que gozam de tal privilégio. E nem do município ou do estado, nem de qualquer outro setor, há interesse, porque ninguém se interessa por cultura. Caso tivéssemos nosso silogeu como sonhávamos com a Casa Paula Buarque, quando, há cerca de 8 anos, propusemos à CEF, em detalhado projeto da acadêmica Vera Abad, agora teríamos espaço e condições de agasalhar tal tesouro. Infelizmente a administração da CEF, indiferente, não teve, ao menos, a ética de dar qualquer resposta, mesmo que fosse um simples “vamos estudar” e depois arquivasse o projeto na lata de lixo, como deve ter feito. Lamentável, muito lamentável!
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