A bênção, Circe Nigro, Madrinha de Petrópolis
Quem transitou pelos salões da Imperial Cidade de Petrópolis até bem pouco tempo já ouviu falar ou conviveu com Circe Nigro. Simpática e querida por todos, nessa época gostava de cantar e a todos encantava. Ao mesmo tempo em que transpunha os umbrais palacianos ela vestia damas, princesas e rainhas e desfilava no início em blocos e escola outra. Consagrou-se ao ser o centro das atenções dos belos carros alegóricos na Avenida do Imperador defendendo as cores da campeoníssima Escola de Samba Independentes de Petrópolis agremiação para quem durante muitos anos elaborei enredos, desenhei figurinos, desempenhei as funções de carnavalesco e por amor ao folclore por diversas vezes nela desfilei. Seu brilho se alastrava e a todos irradiava. Ele aplacava, quem sabe, a dor, a desventura, o desencanto e a falta de amor de tantos carentes de beleza e arte que se acotovelavam na avenida para ver as agremiações e blocos passarem? Faz tempo que Circe não nos brinda com sua presença e não há desfiles nesta cidade. Que pena! Sim tenho dó daqueles menos afortunados porque não possuem sequer um aparelho de TV, mesmo os modelos caixote e antiquados, muito menos condições de viajar por terra ou pelo ar ou ainda para fazendas, sítios, pousadas ou ao litoral… Por isso e por muito mais o dia hoje é reservado a Circe Nigro cuja simpatia e delicadeza é sem limites. À época, entrava nas redações dos jornais e repartições para os cumprimentos e não havia uma só vez que não oferecesse bombons, balas, lenços, gravatas e outros presentes. Sua bolsa era uma caixinha de surpresas. E eram para todos e isso não constituía primazia das festas de natal, páscoa, dia dos pais ou das mães… Por isso mesmo é a madrinha dos músicos, da imprensa (esse item ela e Dona Alice Carvalho Vieira) dos poetas, dos bombeiros, dos militares, dos bancários, dos desportistas, tanto que o jornalista Titto Santos a denominou “Madrinha Geral”. E é mesmo. Não havia um só aniversário que ela se esquecesse, inclusive, no dela próprio faziam fila para abraçá-la. Gostava de cantar e não sei se hoje ainda solta sua voz para a alegria de seus amigos e admiradores. Depois do falecimento de seu filho Hernandes, Circe parece que tem residido mais no Rio de Janeiro com os familiares enquanto nós temos perdido a oportunidade de falar de nosso carinho, das memórias e de tão significativa história. Mulher do bem, mulher bem, que veste a sandália franciscana não estabelecendo diferença entre classes sociais, por isso, amada e lembrada hoje e sempre. Sua ausência momentânea não arrefeça os laços fraternos e eternos que nos une. Sua popularidade marcou época e serviu como ainda serve de lição a tantos que do alto de seu pedestal pensam que o poder dura para sempre. A eternidade está nas obras, retidão de caráter, pureza de coração, desprendimento, fidelidade e benquerença. A Santa Igreja nos dá inúmeros exemplos: Madres Teresa e Dulce da Bahia, Teresinha de Jesus, Benedito, Francisco, Antônio, Clara e tantos mais… Continuamos de braços abertos a aguardá-la para ouvir sua voz e nos encantarmos com sua terna presença. Beijos Circe.