• A arte e as artimanhas

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  • 09/09/2018 07:00

    Ainda estamos sob o efeito da tragédia que aconteceu no dia 2/9 no Museu Nacional, localizado na Quinta da Boavista, na zona Norte do Rio de Janeiro. O acervo de mais de 20 milhões de itens, conquistados ao longo de 200 anos, foi perdido em poucas horas. Lamenta-se profundamente a perda desse acervo, porém é impossível aceitar passivamente o descaso em relação ao patrimônio histórico do País. A indignação aflora os nervos de uma sociedade que se revolta diante de tanta irresponsabilidade e da falta de compromisso dos gestores públicos em preservar a memória nacional.

    A falta do exercício da civilidade se vê na pichação dos monumentos, no desvio de verbas, nas licitações superfaturadas, na sonegação de impostos, na ausência de uma política capaz de dar a atenção que a cultura e a educação precisam. Isso se constata na esfera Federal, Estadual e Municipal, dentro das devidas instâncias.

    Hoje, no País, o sinal vermelho está ligado para indicar a urgência de medidas administrativas que possam sanar as crises que se apresentam em diversos segmentos como educação, saúde, segurança, cultura, habitação… 

    Nesse caos, a sociedade precisa se mobilizar para não ter que lamentar, mais uma vez, diante de outra tragédia igual a que ocorreu no Museu Nacional.

    Todos sabem que a verba destinada ao setor cultural é pequena. Como se não bastasse o fato de ser restrita, é mal-empregada. Falta dinheiro para investimento em projetos culturais que visam afastar crianças e adolescentes da marginalidade, dando a eles oportunidades para desenvolver habilidades e competências, despertando assim novos talentos. Mas gastam milhões para pagar cachês por shows que pouco ou nada acrescentam na formação cultural da população. Há casos em que os contratos trafegam pelo caixa 2. A cultura também sofre por essa sangria. No campo artístico, também há artimanhas. 

    Outro ponto crítico está relacionado à falta de verbas para pesquisas científicas. Diminuiu o número de bolsa de estudo. Segundo a Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior), diante do corte do orçamento para 2019, há uma estimativa de que 245 mil beneficiários, entre alunos, professores, tutores, assistentes e coordenadores que oferecem 750 cursos em 600 cidades, podem ser prejudicados.  Esse é mais um fato que revela a falta de investimento no trabalho científico.

    Agora, para a festa das licitações com cartas marcadas, vem aí a terceirização na atividade-fim. Antes havia a terceirização na chamada atividade-meio como serviço de limpeza, segurança em hospitais, bancos e empresas de outros segmentos. Fica evidente a tendência ao neoliberalismo que não tem o compromisso de preservar o bem comum. Fundamenta-se na competitividade, no individualismo, “no salve quem puder”, no qual prevalece a conhecida teoria do darwinismo social. Não há a construção de uma mentalidade cívica, solidária, coletiva. 

    Vejam o que fizeram com a Petrobras! Há um desejo enorme em privatizá-la. Hoje o Museu Nacional está em ruínas. Qual o próximo patrimônio do povo a ser danificado? 

    Não se trata apenas de uma questão de falta de patriotismo, é muito mais, chega ao estágio da desumanidade, uma vez que é nítido o desrespeito pelo outro. Desviar dinheiro dos hospitais, da merenda escolar, limitar a pesquisa científica, deixar queimar a memória de uma Nação, isso consiste em tirar do povo aquilo que lhe é essencial para ter uma vida digna. Apesar de tudo, não vamos desistir do nosso Brasil. 


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