• A Amazônia na agenda global

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  • 04/12/2022 08:00
    Por Aldo Rebelo

    A Conferência da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre mudanças climáticas realizada no Egito terminou em um ambiente de pessimismo, sem registrar nenhum avanço significativo e anotando sinais preocupantes para a agenda mundial do meio ambiente.

    Como convencer os países pobres a renunciar ao direito ao desenvolvimento em nome da redução da emissão de gases de efeito estufa, quando países de economia forte como Estados Unidos, China e Índia anunciam a ampliação do uso de combustíveis fósseis, principalmente carvão, o mais poluente de todos? Há no mundo 9 mil usinas movidas a carvão em funcionamento e não há qualquer perspectiva de desativá-las a curto e médio prazos.

    As notícias não são boas para o Brasil, que deve esperar a escalada da pressão internacional no tema da Amazônia, que ocupou definitivamente a mesa principal no grande salão da geopolítica global que discute clima, meio ambiente e aquecimento.

    A Conferência do Egito repetiu as mesmas dificuldades das reuniões anteriores em administrar a contradição entre os países ricos, defensores da redução drástica da emissão de gases de efeito estufa, e as nações em desenvolvimento, partidárias da flexibilidade que permita aos seus habitantes alcançar um nível mínimo de consumo e conforto. 

    A divisão internacional do trabalho em assuntos envolvendo o meio ambiente proposta pelos países ricos para o Brasil é a seguinte: eu faço a emissão de carbono por aqui para manter meu padrão de vida e por aí vocês sequestram o carbono emitido nas áreas da Amazônia e do Cerrado, receita destinada a outros grandes detentores de florestas tropicais como o Congo e a Indonésia. Aliás, uma nota positiva do encontro de Sharm el-Sheikh foi exatamente o documento reunindo Brasil, Congo e Indonésia em consórcio de proprietários das maiores áreas de florestas tropicais do planeta. 

    A primeira grande conferência mundial do clima ocorreu em Estocolmo em 1972 e teve a diplomacia brasileira como grande protagonista. Na ocasião, o chefe da delegação do Brasil, embaixador Araújo Castro, impôs uma grande derrota à pretensão dos países desenvolvidos de separar a proteção do meio ambiente do direito ao desenvolvimento. O diplomata brasileiro acusava os países ricos de buscar o congelamento do poder mundial, e em nome do meio ambiente bloquear o acesso dos países em desenvolvimento aos recursos naturais e matérias primas. 

    Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, como ensinou o poeta, e a verdade é que o aquecimento global ofereceu aos ricos a justificativa moral, científica e política para subtrair o direito ao desenvolvimento do debate sobre as mudanças climáticas. No Egito o Brasil esteve dividido e fragilizado, representado por duas delegações, a oficial, do atual governo, e a oficiosa, do governo eleito, uma presença ornamental, sem peso nas decisões finais como demostrado no desfecho da conferência. A dupla missão da diplomacia brasileira – colaborar com o mundo na preservação do planeta e proteger nosso direito ao desenvolvimento – exigirá dela o melhor de sua memória e de suas virtudes.

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