• 85 anos do Parque Nacional do Iguaçu – um passeio pela sua história

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  • 11/jan 08:00
    Por Marisa Guadalupe Cardoso Plum

    Criado pelo Decreto-Lei nº 1.035 de 1939, pelo presidente Getúlio Vargas, em 10 de janeiro de 1939, o Parque Nacional do Iguaçu completa seus oitenta e cinco anos.

    Pois bem, todos sabemos que Santos Dumont é o “Pai da Aviação”, pioneiro das transformações e avanços da humanidade.  E se pensarmos que podemos considerá-lo o “Pai do Parque Nacional do Iguaçu”?

    Santos Dumont estava com 42 anos de idade quando iniciou uma viagem pelas Américas de alguns meses e muitas aventuras. Retornando ao Brasil, concedeu uma interessante entrevista publicada no jornal O Estado de São Paulo de 11 de maio de 1916, contando detalhes sobre a sua experiência.

    Durante vários meses, ele visitou fábricas de aeroplanos nos Estados Unidos e representou o Aeroclube norte-americano no II Congresso Científico Pan Americano em Washington. Pelo canal do Panamá chegou ao Chile, onde participou da 1ª Conferência de Aeronáutica Pan-Americana.

    A viagem seguiu para Buenos Aires, de onde partiu de trem e, depois, por via fluvial,  chegou a Posadas, capital de Misiones. De lá, naquela época, vapores menores ligavam a capital da província até Puerto Aguirre, hoje  Puerto Iguazú, que faz fronteira com o Brasil e é famoso pelas cataratas argentinas. Naquela entrevista, Santos Dumont relatou os seus sentimentos: “Chegando ao Salto do Iguaçu fiquei positivamente maravilhado. Imagine você o Niágara … pois imagine uma imensa queda d’água, oferecendo o mais bizarro pitoresco deste mundo: cachoeiras numerosas e variadíssimas, ilhas espalhadas por ali, e a vegetação, e uma infinidade de aspectos belíssimos. O Iguaçu, sem exagero nenhum, é uma maravilha. Maior, muito maior que o Niágara. O Niágara é uma formidável queda d’água, mais nada. Não tem o lindo pitoresco do Iguaçu. Poder-se-ia dizer que há um Niágara saxônico nos Estados Unidos e um Niágara latino aqui no sul da América.”

    Tudo começou a ter outro rumo quando Frederico Engel, dono do rústico Hotel Brasil na então chamada Vila Iguaçu, atento às chegadas dos vapores para captar novos hóspedes, soube da estada de Santos Dumont num hotel concorrente. Rapidamente, Engel convenceu o prefeito e organizou uma comitiva para convidá-lo a conhecer o lado brasileiro das cataratas, chamadas, na época, de Saltos de Santa Maria. Teve sucesso.

    Santos Dumont atravessou para Porto Meira e hospedou-se no Hotel de Frederico Engel em 24 de abril de 1916. Logo, partiram a cavalo para as cataratas, lá ficando por dois dias. Foi  quando tomou conhecimento que a área das cataratas pertencia ao colono espanhol Jesus Val, recebida legalmente da antiga Colonia Militar do Iguaçu. A filha de Frederico, Elfrida Engel Nunes Rios, durante as comemorações do centenário do nascimento de Santos Dumont, apresentou premiado texto relatando:  “era tempo de enchentes e as águas desciam violentamente pelos barrancos arrancando árvores pelo caminho. Uma enorme tora ficara presa sobre o precipício de um local conhecido como Salto Floriano.

    E foi justamente para lá que Santos Dumont se dirigiu. Ficou na ponta do tronco, “de braços cruzados, imóvel, extasiado contemplando a maravilhosa Garganta do Diabo, sem medir consequências nem se importando com o tempo”. Meu pai, conhecendo o imenso perigo, não ousava dizer uma só palavra com temor de que se voltasse e escorregasse, caindo no precipício. Quando Santos Dumont retornou à terra firme, Frederico Engel expressou sua preocupação. Santos Dumont “bateu amigavelmente” no seu ombro procurando acalmá-lo dizendo: “As alturas não me perturbam, não se preocupe”. Em seguida, tomou a decisão: “Estas maravilhas  não podem continuar a pertencer a um particular. Eu vou a Curitiba falar com o presidente para providenciar, imediatamente,  a expropriação das cataratas” e mudou os seus planos de viagem, que o trariam para o Rio de Janeiro.

    Como não havia estradas a partir da Vila, iniciou a chamada “Cavalgada Patriótica Paranaense”. Durante seis dias, cavalgou  por mais de 300 quilometros na mata virgem, pelo aceiro que protegia a linha telegráfica e telefônica, erguida pela Comissão Telegráfica General Bormann do Exército, acompanhado pelo guarda-linha e um soldado. Seguiu em linha reta, subindo e descendo morros, atravessando área indígena, pântanos, riachos e utilizando as precárias pontes sobre rios, construídas para transporte dos fios.

    Após isso, seguiu de carro até Guarapuava, passou por Ponta Grossa, e, de trem, chegou a Curitiba. Por onde passava era recebido com homenagens e eventos.  Após 12 dias, em 8 de maio de 1916, Santos Dumont foi recebido no Palácio pelo Presidente do Estado do Paraná, Affonso Alves de Camargo, e o convenceu a desapropriar as terras ao lado das cataratas no dia em 8 de maio de 1916.

    Por isso, o dia 8 de maio foi instituído, em 2012, como o “Dia Nacional do Turismo”.

    O pedido de Santos Dumont foi atendido em menos de oitenta dias, com o Decreto Estadual nº 653, de 28 de julho de 1916.  

    O Parque Nacional do Iguaçu, com os seus 185 mil hectares, maior remanescente de floresta Atlântica da região sul é a primeira unidade de conservação do Brasil e instituído Sítio do Patrimônio Mundial Natural pela UNESCO, em 1986.

    Considerado o terceiro destino mais visitado no Brasil, é a sétima melhor atração turística do mundo pelo “Travelers’ Choice”. Eleito uma das Sete Maravilhas Mundiais da Natureza, recebeu cerca de  um milhão e oitocentos mil visitantes em 2023.

    Que legado! Por mais uma vez, Alberto Santos Dumont nos revela a sua personalidade, os seus valores: inovador, visionário, determinado, focado em objetivos; humanista, fiel ao direito coletivo de acesso aos bens criados pelo homem ou por Deus.

    **Sobre a autora: Marisa Guadalupe Cardoso Plum é Turismóloga, Associada titular do Instituto Histórico de Petrópolis

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