• 30 anos sem Paulo Gracindo: 5 novelas no streaming para relembrar o talento do ator

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  • 04/set 12:30
    Por André Carlos Zorzi / Estadão

    Paulo Gracindo – ou Pelópidas Guimarães Brandão Gracindo, seu nome de batismo – morreu há exatos 30 anos, num 4 de setembro de 1995. Aos 84 anos de idade, já estava afastado dos palcos e das telas, mas deixou um vasto legado na dramaturgia brasileira, parte do qual se pode assistir nesta quinta-feira, 4, graças aos serviços de streaming, em especial o Globoplay.

    Trajetória

    Paulo Gracindo veio de uma família de políticos. Seu pai, Demócrito Gracindo, seu tio, Ignácio Gracindo, seu avô, Epaminondas Hipólito Gracindo, e seu bisavô, Inácio Hipólito Gracindo, foram todos deputados na região de Alagoas entre o fim do século 19 e o começo do 20. Chegou a cursar direito, como boa parte dos homens da família, mas foi na arte que encontrou sua verdadeira vocação.

    Após a morte do pai, foi para o Rio de Janeiro e começou a atuar em companhias de teatro, já com o nome pelo qual se tornaria conhecido. Trabalhou também em rádios, como no programa Balança Mas Não Cai, de 1953, na Nacional. No fim da década de 1950, chegou à televisão, em que trabalhou até onde a saúde permitiu, no começo dos anos 1990.

    Em seus últimos três anos de vida, sofreu com a doença de Alzheimer, o que fez com que deixasse de reconhecer boa parte das pessoas. No início de 1995, foi internado para tratar um câncer de próstata, no hospital Samaritano, do Rio de Janeiro, onde fez uma cirurgia. Voltou a ser operado em 27 de agosto daquele ano. Lá ficou em tratamento até às 2h28 do dia 4 de setembro, quando teve sua morte confirmada.

    Relembre abaixo novelas para relembrar Paulo Gracindo que estão disponíveis para assistir no Globoplay.

    O Bem-Amado (1973)

    Seja como uma das diversas montagens para o teatro ao longo das décadas (a primeira, em 1962), ou em filmes e séries, a história de Dias Gomes fez sucesso. Uma das versões mais lembradas é a da novela de 1973, em que Odorico Paraguaçu, prefeito da cidade de Sucupira, foi interpretado por Paulo Gracindo.

    “Vote num homem sério e ganhe seu cemitério”. Com esse slogan, o político, inspirado em tantos que existiram no Brasil na primeira metade do século passado, conseguiu se eleger. Na hora de inaugurar o cemitério, porém, um problema: ninguém morria na cidade. Em cenas que beiravam o absurdo – mas talvez, nem tanto – e com pitadas de humor, se desenvolvia a história.

    Odorico Paraguaçu também era conhecido por seu jeito de falar, em que era mais importante falar “bonito” do que se fazer por entender. “Eu sou partidário da democradura, um regime que faz a conjuminância das merecendências da democracia com os talqualmentes da ditadura. Na democracia, o povo escolhe a gente, os governantes. Na democradura, a gente escolhe o povo que vai escolher a gente”, diz em uma de suas falas para a TV.

    O Bem Amado é considerada como a primeira novela transmitida a cores no Brasil. Por isso, o padrão de exigência acabou sendo considerado mais alto que o normal. Paulo Gracindo chegou a relatar forte cansaço, em determinado ponto da trama: “Cheguei na direção da Globo com um atestado nas mãos e fui avisando: se vocês não me derem uma licença, atendendo a este atestado, em breve receberão outro, só que de óbito, pois vou morrer de exaustão.”

    O sucesso foi tamanho que a história voltou como seriado na Globo, exibido entre 1980 e 1984. De acordo com o livro Odorico Paraguaçu: O Bem-amado de Dias Gomes – História de um personagem larapista e maquiavelento, de José Dias (Imprensa Oficial, 2009), neste caso, o programa enfrentou problemas com a censura federal, mesmo na reta final do regime militar. Entre os exemplos, o corte de palavras como “bobos”, “tolos” e “gostosa”, ou a cena em que um personagem passava a mão em uma mulher na rua. O caso de infidelidade da personagem Lulu Gouveia, por exemplo, acabou inconcluso.

    Onde assistir: No Globoplay

    Mulheres de Areia (1993)

    A trama de Mulheres de Areia marcou a carreira de atores como Gloria Pires, que deu vida às gêmeas Ruth e Raquel, e Marcos Frota, o icônico Tonho da Lua. A história não reservou um grande espaço para Paulo Gracindo, mas trouxe um momento marcante: sua última aparição em uma novela na TV, em 16 de setembro de 1993.

    Seu personagem sequer tem nome. Aparece como padre na cena do casamento entre Carola (Alexandra Marzo) e Zé Luiz (Irving São Paulo). Em sua despedida, o texto trata, justamente, sobre a preciosidade do tempo da vida, e o que fazemos com ele. Confira abaixo:

    “Nesse momento, talvez mais que qualquer outro, sentimos a urgência de viver. À primeira vista, tal conselho parece ir contra uma das qualidades mais valorizadas pela humanidade… A paciência é uma virtude. No entanto, a impaciência é necessária para remediar a nossa inclinação e deixar tudo para o amanhã.

    Sempre esperamos demais para fazer o que tem que ser feito. O mundo só nos dá um dia de cada vez. Sem ter uma garantia do amanhã. A vida é curta. Esperamos demais para dizer as palavras de perdão que devem ser ditas. Pôr de lado os rancores que devem ser expulsos. Para expressar gratidão, dar ânimo, oferecer consolo.

    Esperamos demais para ser generosos. Deixando que a demora diminua a alegria de dar espontaneamente e esperamos demais para dar carinho para os nossos pais, irmãos e amigos. Quem sabe, qual logo será tarde demais.

    Esperamos demais para largar a nossa mente, enriquecer nosso espírito, expandir nossa alma. Esperamos demais para enunciar as preces que estão esperando para atravessar nossos lábios, para demonstrar o amor que talvez não seja mais necessário amanhã.

    Deus também está esperando. Esperando nós pararmos de esperar. Esperando nós começarmos a fazer agora tudo aquilo para o qual esse dia e essa vida nos oferecem. Meus amigos, é hora de viver.”

    Onde ver: No Globoplay (a partir de 2m14s do capítulo 194, de 16 de setembro de 1993).

    Roque Santeiro (1985)

    Na cidade de Asa Branca, dois padres se contrapunham. De um lado o progressista Albano, vivido por Cláudio Cavalcanti, apoiador de movimentos comunitários, desapegado de sua batina e apoiador de uma nova visão da igreja católica. Do outro, o intransigente Hipólito, vivido por Paulo Gracindo e representante dos valores tradicionais da sociedade brasileira.

    Entre os diversos conflitos por conta das visões antagônicas a respeito da religião, o personagem de Gracindo também ficou marcado pelos protestos contra a inauguração de uma boate chamada Sexus por Matilde (Yoná Magalhães).

    Onde assistir: No Globoplay

    Vamp (1992)

    Com estilo “mafioso” e nome de animal, o personagem de Paulo Gracindo, Cachorrão, se transformava em vampiro após ser mordido por Vlad (Ney Latorraca). Era chamado por outros personagens da família Matoso de “Poderoso Vampirão” ou “Poderoso Padrinho”.

    O personagem também era temido pelo padre Garotão (Nuno Leal Maia), um ladrão de araque cujo verdadeiro nome era Jurandir, e que havia assaltado a mansão de Cachorrão por engano.

    Onde assistir: No Globoplay

    Rainha da Sucata (1990)

    Em Rainha da Sucata, Paulo Gracindo interpretou Betinho Albuquerque Figueroa, que formava um núcleo familiar com sua mulher, Laurinha (Glória Menezes) e os filhos Edu (Tony Ramos), Adriana (Claudia Raia) e Rafael (Maurício Mattar), integrantes da alta sociedade paulista.

    Foi de seu personagem o bordão “Coisas de Laurinha”, que usava para se referir às falcatruas de sua mulher na trama. Glória Menezes chegou a relembrar o tema em entrevista ao UOL em 2013: “Ele tinha esse bordão que falava quando ela delirava. ‘Coisas de Laurinha’. E isso foi pegando. De repente, virou um bordão para falcatrua. Alguém fazia algo errado, matava, enganava, trapaceava, as pessoas diziam: ‘Ah, isso são coisas de Laurinha'”.

    Onde assistir: No Globoplay

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