• 25% dos petropolitanos não têm acesso à rede de esgoto: problema pode causar doenças

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  • 13/mar 18:47
    Por Wellington Daniel

    Dados do Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE) trazem uma realidade preocupante para a cidade: cerca de 25% dos petropolitanos não têm acesso à rede de esgoto. Além disso, quase 28% não recebem água tratada. A falta de um saneamento básico adequado pode trazer complicações para a saúde pública, conforme apontam especialistas ouvidos pela Tribuna de Petrópolis.

    “Se o saneamento básico composto pelo abastecimento de água, esgotamento sanitário, gestão de resíduos sólidos e drenagem pluvial for implantado de forma satisfatória, a ocorrência das doenças denominadas de doenças relacionadas ao saneamento inadequado (DRSAI) será bem mais reduzida”, explicou o pesquisador em saúde pública do Departamento de Saneamento e Saúde Pública da ENSP/Fiocruz, Jaime Oliveira.

    A falta de saneamento adequado pode desencadear doenças como diarreias, viremias de transmissão hídrica (como a dengue, por exemplo), vermes, infecções bacterianas (como cólera e salmonelose). O médico com mestrado em Saúde Pública e professor da Faculdade de Medicina de Petrópolis (UNIFASE/FMP), Paulo Klingelhoefer de Sá, também aponta para problemas por contaminação por substâncias, como mercúrio, chumbo e agrotóxico.

    “A vida em nossa sociedade desigual é fortemente comprometida quando só uma parte privilegiada tem acesso ao saneamento básico. No século XXI, considero isso inadmissível permanecer. Saneamento básico deveria ser considerado prioridade máxima em qualquer política pública, pois estamos falando da preservação e do direito à vida e não à doença”, disse o médico.

    “Os estudos econômicos que mostram que para cada real investido em saneamento básico, tem-se R$ 5 de retorno em saúde pública se respaldam não só nos custos diretos, mas no indiretos, associados à parada produtiva do indivíduo ao estar doente ou de algum familiar (filhos ou esposa) que estiver enfermo”, explicou Oliveira.

    Em Itaipava, comunidade convive com esgoto a céu aberto

    Moradores denunciam esgoto e focos de dengue na Estrada da Cerâmica (Rua Carlos Nigri), em Itaipava.
    Foto: Divulgação.

    Moradores da Estrada da Cerâmica (Rua Carlos Nigri), em Itaipava, convivem com esgoto a céu aberto. O porteiro Júlio Simões diz que a tentativa de resolver o problema já vem de alguns anos, mas até o momento, nenhuma solução foi tomada.

    Recentemente, especialistas descobriram que o Aedes aegypti também pode conseguir depositar seus ovos e desenvolver larvas em esgoto, ainda que em menor número. O morador ainda aponta outros locais com água parada, que podem aumentar o problema.

    “Já tivemos dengue algumas vezes, sim. Sempre tem alguém passando mal aqui na rua e não conseguimos ficar longe dos mosquitos, são várias picadas”, afirmou.

    Segundo o Ministério da Saúde, Petrópolis já registrou 1.067 casos prováveis de dengue em 2024, com um óbito. Também foram cinco registros prováveis de Chikungunya.

    Conforme aponta o pesquisador da Fiocruz, o problema é também ambiental. “As casas sem esgotamento sanitário instalado, normalmente, conduzem estes esgotos a céu aberto por valas ou mesmo por canalização que acabam caindo nos rios que são levados às baías. Todos estes recursos acabam se depreciando não mais apresentando a capacidade de se regenerar”, explicou.

    Água tratada não chega a todos

    Os dados do IBGE ainda apontam que apenas 72,03% dos petropolitanos são abastecidos pela rede de água geral, o que corresponde a 72,94% dos domicílios da cidade. Ou seja, cerca de 28% ainda não possui água tratada.

    Leia também: 108 domicílios de Petrópolis não têm banheiro exclusivo

    “A água compõe cerca de 70% de nosso corpo, mas água pura ou tratada e não contaminada, nem por germes e nem por substâncias provenientes da poluição ambiental. Dessa forma, para que tenhamos uma vida saudável é essencial que, no mínimo, todos tenham acesso a água tratada ou de fonte seguramente limpa”, disse o médico e professor da Faculdade de Medicina de Petrópolis.

    A Prefeitura não respondeu sobre a situação da Estrada da Cerâmica até a última atualização desta reportagem. O município também não retornou sobre os dados do Censo 2022.

    A Águas do Imperador informou que o local indicado fica às margens da BR-040 e, portanto, não é atendido pela concessionária. “Em casos como este, é responsabilidade do proprietário do imóvel a construção de um sistema individual de tratamento”, diz a nota.

    Em relação aos dados do Censo 2022, a Águas do Imperador informou que os dados do Censo Demográfico levam em conta as áreas urbana e rural. “É de responsabilidade da concessionária o atendimento apenas na área urbana, onde mais de 90% dos petropolitanos são abastecidos com água tratada e mais de 80% do esgoto recebe tratamento”, diz o texto.

    A empresa reiterou que vem trabalhando para ampliar o saneamento básico em Petrópolis, com diversas obras em curso, para expandir tanto a coleta e o tratamento do esgoto, quanto o abastecimento de água no município. A concessionária destacou as obras das Estações de Tratamento de Esgoto (ETEs) Itaipava e Independência, e a nova adutora Carvalho Júnior.

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