• 24 de Maio receberá projeto-piloto para reconstrução pós tragédia

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  • Vistoria técnica do MPRJ mostra carência de ações do poder público para moradores

    03/06/2022 08:10
    Por João Vitor Brum

    Quase quatro meses após as chuvas de fevereiro, a comunidade 24 de Maio, uma das mais afetadas, começa a fase de projetos para sua reconstrução. Ainda há escombros e muito trabalho a ser feito, principalmente pela sua regularização fundiária, remoção de escombros, contenção de encostas e urbanização do bairro. Na comunidade será realizado um projeto-piloto para regularização fundiária e melhorias sociais e estruturais. Em vistoria técnica promovida pelo Ministério Público do Rio de Janeiro, realizada nesta quinta-feira (2), e após pressão do MPRJ, o presidente da Comdep, Leonardo França, garantiu que a quadra comunitária da localidade começará a receber os trabalhos de limpeza nesta sexta-feira (03). 

    A procuradora de Justiça do MPRJ, Denise Tarin, explicou durante a vistoria que o objetivo do órgão é tornar a reconstrução da 24 de Maio em um exemplo para outras comunidades afetadas por chuvas.

    “Queremos fazer da 24 de Maio um projeto-piloto. Tudo que colhermos de positivo e também as experiências negativas serão um modelo para as demais comunidades, não apenas as afetadas em 2022, mas também nos desastres de 2011 e 2013. Estamos incansavelmente em busca de uma nova forma de viver em Petrópolis, e sabemos que não será um processo rápido ou fácil, mas contar com a presença forte dos moradores, como na 24 de Maio, mostra que é possível alcançar nosso objetivo”, disse a procuradora Denise Tarin.

    Moradores chamam o local de ‘buraco negro’. (Foto: João Vitor Brum)

    Durante a vistoria, a presidente da Associação de Moradores da 24 de Maio, Odete da Silva, acompanhada de outros moradores e líderes comunitários, levou a procuradora Denise Tarin, do MPRJ, e os representantes da Prefeitura, incluindo o prefeito Rubens Bomtempo, o secretário de Defesa Civil, Gil Kempers, e o presidente da Comdep, Leonardo França, pelos pontos mais críticos da comunidade.

    A líder comunitária destacou que um dos principais problemas da comunidade é o descarte irregular de lixo na comunidade.

    “Temos um problema sério de despejo de lixo na 24 de Maio, que precisamos resolver. Temos como fazer, com ajuda do poder público e da população, criar uma coleta seletiva, uma horta comunitária. Juntos vamos encontrar essas soluções e melhorar nossa comunidade, esse é o objetivo de todos”, destacou Odete da Silva. A necessidade de educar a população também foi lembrada pela procuradora do MPRJ.

    “A ideia é criar visão de corresponsabilidade. O morador também tem responsabilidade nas ameaças. (Em) todas as barreiras que desceram (na 24 de Maio), percebemos lixo indevidamente depositado, então (a responsabilidade) não é só do poder público, mas do morador também”, disse Denise Tarin.

    Na quadra comunitária, que foi destruída após um deslizamento derrubar duas casas em cima do local, todos os escombros ainda permanecem no local, mas o município garantiu que resolverá a situação a partir desta sexta-feira (3), começando pela remoção do telhado, que está totalmente destruído. Para que o trabalho seja feito, o trânsito na via deve sofrer alterações na manhã de sexta.

    Quadra da comunidade ainda sob a lama. (Foto: João Vitor Brum)

    Prejuízos poderiam ser menores 

    Depois da quadra, a comitiva visitou servidões com casas afetadas por deslizamentos, para que pudesse ser avaliado o que precisa ser feito em cada trecho. Durante a vistoria, o secretário de Defesa Civil destacou que grande parte das ocorrências poderia ter sido evitada.

    “Fiz uma avaliação que mostrou que 80% das ocorrências que tivemos, tirando exceções, poderiam ser evitadas com drenagem, com calhas, se o lixo fosse despejado corretamente. Todos, como sociedade, precisamos mudar essa percepção de que só o poder público é responsável”, disse o secretário de Defesa Civil, Gil Kempers.

    Uma das casas destruídas na comunidade é a da Dona Mara. No dia da tragédia de 15 de fevereiro, ela saiu para buscar o neto, que tinha 7 meses de vida na ocasião, na creche, na 24 de Maio, mas não conseguiu voltar para casa por causa da chuva. 

    Moradora Mara de Lima Gomide. (Foto: João Vitor Brum)

    Enquanto aguardava o temporal passar, descobriu que a casa, recém reformada, tinha sido levada por um deslizamento, sem que nada pudesse ser salvo. Nesta quinta-feira, ela esteve na comunidade para deixar o neto com o genro. Emocionada, ela conta que só agora conseguiu a transferência do neto para uma creche mais próxima da nova casa.

    “Morava aqui desde 2005, e do nada perdi tudo, mas pelo menos estamos com saúde, porque era para estarmos em casa quando ela desabou. Consegui uma casa no Bataillard pelo Aluguel Social, mas quero buscar um lugar mais perto daqui, onde construí minha vida. Depois de meses, consegui matricular meu neto em uma creche nova, então a emoção é grande demais. Por todo esse tempo, não tinha como trazê-lo pela distância, ainda mais com a passagem de ônibus cara como está”, disse Mara de Lima Gomide.

    Uma roda de conversa foi realizada durante a vistoria, na Escola Municipal Clemente Fernandes, que permanece interditada por estar no polígono que está sob o risco de novo deslocamento por rochas. Após a chuva de fevereiro, os alunos da escola foram transferidos para a Casa da Educação Visconde de Mauá.

    Em relação às rochas, o prefeito informou que será solicitado ao Estado que, assim como foi feito na Rua Nova, o governo Estadual assuma a responsabilidade pelas obras necessárias para evitar novos deslocamentos.

    Na próxima semana, uma nova vistoria será realizada, esta, no Caxambu, para que os pontos mais críticos da localidade possam ser avaliados pelos técnicos e planos de ação sejam traçados.

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