• Natal: Festa resultante do diálogo com o mundo pagão

  • Continua após o anúncio
  • Continua após o anúncio
  • 02/02/2020 11:39

    O Cristianismo nasceu dentro do mundo religioso judaico: Jesus foi judeu, agiu entre os judeus e seus discípulos eram judeus. Após sua morte e ressureição, os discípulos ainda continuaram se entendendo como pertencentes ao Judaísmo. Se aos poucos acontece um processo de separação entre cristãos e judeus, acontece também um outro processo que muito influenciou o Cristianismo: sua aproximação com o mundo cultural greco-romano. O Império Romano, para dentro do qual o Cristianismo irá se expandir em menos de 100 anos, é formado por um imenso caldeirão cultural muito diversificado. E neste processo de entrada do Cristianismo para este mundo cultural diversificado, acontece também uma dinâmica de diálogo, através do qual muitos elementos destas culturas irão influenciar o Cristianismo nascente. As tradições religiosas deste contexto acabaram sendo chamadas indistintamente pelos cristãos de religiões pagãs. Mas justamente costumes religiosos destas tradições chamadas de pagãs acabaram influenciando o Cristianismo. Um exemplo muito interessante desta influência pagã no Cristianismo é o surgimento da festa do Natal. Se as outras duas grandes festas cristãs surgidas já no início do Cristianismo, a Páscoa e o Domingo, são claramente influências judaicas, sendo que Páscoa judaica foi apropriada e ressignificada pelos cristãos, enquanto na origem do Domingo há muito de influência do Sábado judaico, na origem da festa do Natal há claramente influências pagãs. Uma primeira influência perceptível é o fato de se festejar o nascimento, costume pagão e não judaico. Mas a grande influência pagã no surgimento da festa do Natal está no culto ao Sol, culto este muito difundido em todo o mediterrâneo, do Egito, passando pelo Oriente Médio, até Roma. Também na Pérsia se conhecia o culto ao Sol, muito ligado ao culto da Luz. Esta ligação advinha do fenômeno do solstício de inverno, quando aos poucos a luz ia vencendo as trevas e o tempo de claridade do dia ia aumentando paulatinamente em relação ao tempo da escuridão. Este fenômeno era ensejo de festas religiosas em muitas culturas da região. Em Roma se festejava no dia 25 de dezembro, em Alexandria a 5 ou 6 de janeiro. E esta festa do Sol irá ser ressignificada pelo Cristianismo, passando a data a celebrar o nascimento de Jesus. Esta ressignificação irá tomar por argumentação inclusive textos bíblicos, como o anúncio da vinda do Messias pelo profeta Malaquias: “Mas para vós, que temeis o meu nome, brilhará o sol de justiça que traz a cura em seus raios” (3,20). Assim, Santo Ambrósio irá afirmar que “Cristo é o novo sol”. Com esta apropriação e ressignificação, uma festa pagã deu ensejo para o Cristianismo criar o Natal.

    Comentários e sugestões: jr.volney@gmail.com

     

    Últimas