• Não sei se vou ou se fico

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  • 30/12/2015 12:00

    Nosdourados anos de 1940 a 1960 na  bela “Era do Rádio”, que tive oprivilégio e a felicidade de viver, apesar de anos políticos durose difíceis, quando as notícias do Brasil e do Mundo chegavam pelasondas da Rádio Nacional do Rio de Janeiro, através do RepórterEsso, que se intitulava a “tstmunha ocular da História”  eapregoava ser “o  primeiro a dar as últimas”, vivíamos com osouvidos colados nas diversas emissoras de rádio, única diversão emtodos os lares com recursos para a posse de um “rabo quente”,nossos queridos rádios   com válvulas sempre aquecidas na parteposterior dos aparelhos.

    Muitasestações no Rio de Janeiro e São Paulo disputavam a audiência,mas a coqueluche era a Rádio Nacional do Distrito Federal com suaprogramação vibrante e um corpo de técnicos e artistas do primeirotime da radiofonia brasileira. E, ainda, as rádios Mayrink Veiga,Tupi, Tamoio, Clube, Mauá, Globo, Guanabara e outras de menorpotência e prestígio.

    Programase animadores integravam o “cast” da Rádio Nacional; dentretantos, só para aguçar a saudade, cito os programas Cesar deAlencar, Paulo Gracindo, Manuel Barcellos;  os produtores de joiasradiofônicas :  Renato Murce, Paulo Roberto, Paulo Tapajós,Lourival Faissal, Lourival Marques, Almirante, Armando Louzada,Fernando Lobo, Haroldo Barbosa, Hélio do Soveral ; as novelas deGhiaroni,  Amaral Gurgel, ,Cahuê Filho, Dias Gomes, Eurico Silva,Edgard G. Alves, Ivany Ribeiro,  J. Silvestre,  Janete Clair, MárioBrazini,  Raymundo Lopes – e a relação é enorme; quanta gentedeixo de citar por aqui…

    Omeu desejo, de momento, é recordar dois humoristas fabulosos, semdeixar de citar – antes e meritoriamente – outros da qualidade deJosé Vasconcellos, os comediantes do “Balança, mas não cai!”,Silvino Netto, Alvarenga e Ranchinho, Jararaca e Ratinho – listagemenorme que não cabe por aqui se fosse citar as cantoras, oscantores, os maestros e músicos, compositores e tantos  grandesnomes que integravam a Rádio Nacional.

    Opropósito é relembrar a PRK-30, no dizer do crítico Paulo Perdigão“o mais famoso programa de humor da era do Rádio”. Doishumoristas   interpretavam os diversos personagens: Lauro Barbosa eCastro Barbosa. Os textos eram de Lauro Borges, também o diretor doelenco (eles dois). Em uma dinâmica anárquica, os dois criavampapéis em admiráveis modulações de voz, surgindo o impagávelMegatério Nababo de Alicerce, locutor português vivido por CastroBarbosa e Otelo Trigueiro, criação de Lauro Borges, meloso“speaker” de fala doce e rompantes de indignação. Os doishumoristas criavam vozes e trejeitos de todos os personagens doprograma, novos e idosos e de complicados e divertidos sotaquesnacionais e internacionais.

    Talveztenham sido os pioneiros do “non sense” através de um humoringênuo, desprovido de pornografia, sem cinismos, sarcasmos, commuitos trocadilhos e, por final, sem as apelações e grossuras dohumorismo hoje praticado nas tevês.

    Inocênciaimpagável é o melhor rótulo para os textos de Lauro Borges,perfeitos na transmissão radiofônica, para encanto da imaginaçãodos ouvintes.

    Personagemfantástica interpretada por Lauro Borges era a cantora Maria JoaquimDobradiça da Porta Baixa, fadista portuguesa, desafinada,histriônica, destrambelhada e surrealista e cujo carro-chefe era ofado “Eu não, sei se vou ou se fico; eu não sei se fico ou sevou”, letra única que ela cantava aos berros, repetidamente, atéser retirada do ar pelos apresentadores. O locutor, ao receber acantora, anunciava: “E agora, em sua PRK-30, essa fadista MariaJoaquina Dobradiça da Porta Baixa, que cacarejará, com sua graçabestial…”

    Quedelícia! Que criatividade! Que interpretação absurdamentefabulosa!  

    Aquelesque se recordam da Maria Joaquina, completamente desvairada e por seufado citado, podem perfeitamente, situar todo aquele surrealismo daPRK-30 na política atual do lulismo “non sense” e sua grande“interpreta”, a “presidenta”, cujo fado que canta em cadaaparecimento público, apregoa justamente o seu tremor, o seudestino, a vergonha pela qual ela passa e, de reflexo, todo o País:

    Eunão sei se vou ou se fico! Eu não sei se fico ou se vou !…”

    Tenhoa certeza de que tanto Megatério Nababo de Alicerce quanto OteloTrigueiro, já teriam retirado essa fadista do “écran nacional”com a solene gongada então dispensada aos péssimos calouros.

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