• Marcio Souza fala sobre a Amazônia na Festa Literária da Serra Imperial

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  • 17/09/2019 17:00

    A quarta edição da Festa Literária da Serra Imperial, (Flisi) já tem data marcada e acontecerá em Petrópolis, de 2 a 5 de outubro, ocupando espaços históricos como Museu Imperial, Casa da Educação Visconde Mauá, Casa Cláudio de Souza e Cervejaria Bohemia. As inscrições para os interessados em participar já estão abertas e podem ser feitas pelo site.

    A programação conta com nomes renomados da literatura brasileira como o escritor Márcio Souza, que irá participar do encontro A História da Amazônia, mediado pela historiadora Patrícia Souza Lima. No dia, o autor analisará a complexa história da região formada por nove Estados-Nações, com diversas etnias, fora da lógica colonialista, debatendo sua visão com Patrícia. O encontro está marcada para as 18h30, no Museu Imperial. Na ocasião Márcio Souza fará o lançamento da obra “História da Amazônia – Do período pré-colombiano aos desafios do século XXI”. 

    “O livro já está com a primeira edição esgotada. Fizemos lançamentos no Rio de Janeiro, São Paulo, Ceará e na Tríplice Fronteira, que compreende Brasil, Colômbia e Peru. Ainda estamos organizando Brasília, Belém, Boa Vista e Rondônia e, mais para frente, Curitiba e Porto Alegre. Para mim é muito valiosa esta participação na Flisi¸ como uma forma de ampliar a divulgação do livro e o debate sobre a Amazônia. É um evento que já se tornou referência do segmento da literatura. Estou louco para voltar ao Rio e conversar com os leitores da Serra”, disse Márcio Souza. 

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    “O principal objetivo deste encontro é exaltar crítica e reflexivamente a história da Amazônia, que nos é desconhecida, se não pela sua exoticidade, mas pela fala de autor morador local, que nos revela facetas de uma trajetória que deve nos pertencer como brasileiros, pois é pela valorização da biodiversidade, da resistência das populações isoladas ribeirinhas ou dos quilombos e aldeias indígenas, dos ambulantes mascates que por ali passam, que resistem aos grandes fazendeiros, à exploração tecnológica estrangeira, e à desnacionalização da região que deve ser impedida”, diz Patrícia Souza Lima. 

    Márcio Souza é um dos principais nomes da literatura nacional. Em “História da Amazônia”, ele apresenta uma síntese reveladora da complexidade do processo histórico da região, a partir de uma visão de dentro: a de um intelectual e escritor manauense cuja obra monumental, literária e ensaística, perscruta os silêncios da história, desvela as falhas da memória e denuncia o imaginário colonialista subjacente à lógica da expansão territorial civilizadora, responsável pelos massacres de vários povos indígenas. 

    “As leituras contemporâneas sobre a Amazônia são muito rasas. O vocabulário que impera hoje é do capitalismo financeiro, sempre em pânico, à espera do apocalipse. A Amazônia é um lugar comum, um chavão e vítima da ignorância. Para os brasileiros ela é a perfeita geografia do exótico”, afirma o autor.

    A linguagem ágil e agradável do autor guia-nos através de um percurso que se inicia pela delimitação do espaço geográfico e das fronteiras do subcontinente amazônico, inserido, como espaço periférico, em nove Estados-nação, povoado por centenas de etnias e por grupos sociais de interesses diversos. A conformação do vale ao longo do curso do rio Amazonas e seus poderosos afluentes foi o berço civilizatório destes povos ameaçados de extinção desde os primeiros contatos com os europeus, que até hoje buscam desesperadamente modos de sobreviver em meio às consequências dos desastres ecológicos que acometem a floresta, como as queimadas recentes. Com um olhar de desconfiança e mal-estar para os recursos e presenças estrangeiras na região, o autor aponta para a necessidade de investimento local, no INPA, nas universidades do Pará, Amapá, Roraima, entre outras, com o objetivo de investigar o potencial da floresta para a produção de medicamentos, antes que a mata sofra ainda mais com a destruição humana. 

    Para Márcio Souza, ainda que existam fronteiras nacionais e linguísticas, os costumes, a alimentação e o biotipo são comuns em todo o vale. Ele destaca ainda a importância de se propor uma nova visão sobre a população local. 

    “Não existem povos da floresta. Existem ribeirinhos. Quem vive na floresta são outros primatas, os macacos. Há um esforço por parte de empresários, escritores, artistas e cientistas, membros da Associação Pan Amazônica, de propor uma nova visão supranacional que seja comum e gerada bem longe dos gabinetes de Brasília. Está apenas no começo. É uma novidade, porque tudo o que foi planejado e implantado aqui oriundo de Brasília, foi um desastre só”, lamenta. 

    Em busca de uma narrativa da Amazônia que antecede a chegada dos europeus, Márcio Souza se afasta de perspectivas redutoras que fazem coincidir o início da história do continente com a “descoberta” das Américas. Desde o período pré-colombiano até os dias atuais, “História da Amazônia” trata de aspectos geográficos e antropológicos, valoriza a pluralidade étnica e vai além de favorecer a compreensão de um povo em sua dimensão geopolítica e cultural. 

    Mais informações e a programação completa sobre a Festa Literária da Serra Imperial podem ser consultadas pelo site http://flisi.com.br, ou nas redes sócias do evento: @festaliterariadaserraimperial. 

    Sobre Márcio Souza

    Márcio Souza nasceu em Manaus (AM) em 1946. É romancista, diretor de teatro e ópera. Estudou Ciências Sociais na Universidade de São Paulo e escreveu críticas de cinema e artigos em diversos jornais e revistas brasileiras, como “Senhor, Status, Folha de S.Paulo e A Crítica. Em 1976, lançou seu primeiro romance, Galvez, imperador do Acre”, sucesso de crítica e de vendas. Como administrador, foi diretor de planejamento da Fundação Cultural do Amazonas, diretor da Biblioteca Nacional e presidente da Funarte. Foi professor assistente na Universidade de Berkeley e escritor residente nas universidades de Stanford, Austin e Dartmouth. Como palestrante, foi convidado pela Universidad de San Marcos, Sorbonne, Toulouse, Aix-en-Provence, Heidelberg, Coimbra, Universidade Livre de Berlim, Harvard e Santiago de Compostela. Dirigiu o Teatro Experimental do Sesc (Tesc) do Amazonas, hoje extinto. É membro da Academia Amazonense de Letras e presidente do Conselho Municipal de Política Cultural. Escreveu, entre outras, as peças “As folias do látex”, “A paixão de Ajuricaba” e “Carnaval Rabelais”, e os romances “Mad Maria”, “Operação Silêncio” e “O fim do Terceiro Mundo”. No momento, trabalha no último volume da tetralogia “Crônicas do Grão-Pará e Rio Negro”, precedido por “Lealdade, Desordem e Revolta”. Pela Editora Record, publicou também o livro “Amazônia indígena”.

    Sobre Patrícia Souza Lima 

    Patrícia Souza Lima é professora de História no Cefet/RJ campus Petrópolis desde 2015 e colaboradora do Programa de Pós-Graduação de Ensino de Educação Básica, Mestrado Profissional (Ppgeb) do CAp Uerj desde 2014. Doutora em História Social pela UFRJ (2006), mestre em História Social da Cultura pela PUC-Rio (2001), e especialista em Comunicação Jornalística pela UCAM (2001). Assistente Social pela Unopar (2018). Tem experiência no campo de pesquisa em História da Imprensa e do Espaço Urbano, além de atuar na perspectiva de uma História Pública.

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