• Mais humildade, presidente

  • Continua após o anúncio
  • Continua após o anúncio
  • 04/04/2020 08:00

    O País vive um momento delicado em que a harmonia e a quarentena inteligentes deveriam prevalecer no planejamento e na tomada de decisões orientadas para salvar vidas sem esquecer a economia. E aqui estamos falando de oikonomía, em seu significado grego original, de administração (ou gerenciamento) da casa. Era isso que o ministro Paulo Guedes, em vídeo já divulgado, tinha em mente ao falar sobre os riscos do desabastecimento. Nessa linha, desde o início, me pareceu equivocado liberar o funcionamento de supermercados, farmácias, transporte de cargas e poucas outras atividades essenciais e, ao mesmo tempo, fechar fábricas. Mantida esta última medida, em breve, os caminhões ficariam sem ter o que transportar nos levando a uma crise de abastecimento.

    Dois economistas americanos, Paul Romer e Alan Garber, o primeiro Prêmio Nobel, em 2018, e o segundo professor na Universidade de Harvard, publicaram um artigo no New York Times dominical, em 30.03.2020, cujo título é um alerta: Será que nossa economia vai morrer de coronavírus? Chegam mesmo a afirmar que sim, se a atual estratégia americana de combate for preservada. Propõem a alternativa de testar maciçamente a população, a cada semana, para saber quem de fato representa risco, isolando-os, e liberando os demais para voltar ao trabalho. O problema, lá e cá, é que não estão disponíveis testes em quantidade suficiente para tal, embora seja possível produzi-los em prazo relativamente curto. Custariam bem menos que os 2 trilhões de dólares anunciados pelo governo americano. E seriam bem mais eficientes.

    Acredito, presidente, que eles estão em linha com suas preocupações e com as do ministro Paulo Guedes de fazer a economia funcionar o quanto antes, mesmo que aos poucos, para evitar crises de abastecimento e desemprego. É preciso salvar vidas e também impedir que as pessoas morram de fome por não ter o que comer.

    Entretanto, entre dois extremos, sempre existe um meio termo capaz de dar respostas adequadas no seu devido timing. Ou seja, saída progressiva da quarentena. Ir para as ruas de peito aberto, desafiando o isolamento que, por enquanto, se impõe é uma atitude temerária. O prefeito de Milão se arrependeu, publicamente, por ter liderado uma campanha contra o isolamento social. O próprio Trump voltou atrás.

    Diante desse quadro e da postura dos ministros Mandetta, Moro e Paulo Guedes a favor do isolamento, é mais que hora de remar no mesmo sentido, presidente, até mesmo para evitar o desgaste político decorrente de um governo que emite sinais contraditórios à população.

    Hora de colocar vaidades pessoais e políticas no armário, e pensar com cabeça fria em benefício do País e até de si mesmo. Falar menos e usar mais o teleprompter para evitar comprar brigas gratuitas oriundas de rompantes que não servem a ninguém. Menos ainda ao País.

    Como candidato que fui a deputado federal pelo Partido Novo, não votei no senhor no primeiro turno, mas teve meu voto no segundo diante da catástrofe que seria ter mais quatro anos de PT. Nem é bom pensar no que seria aquela “equipe” do PT gerenciando a crise do coronavírus.

    Admirei sua humildade ao afirmar de público que não entendia nada de economia. Que isso seria com o Paulo Guedes. Que tal fazer o mesmo com o ministro Mandetta na área da saúde já que ele é médico e vem atuando exemplarmente? Fazer uso da humildade esquecida e se valer mais da competência de sua boa equipe de ministros só lhe fará bem. Lembre-se, ainda, que entrevistas improvisadas são perigosas.

     

    Gastão Reis Rodrigues Pereira

    Empresário e economista . . E-mails: gastaoreis@smart30.com.br// ou gaastaoreis2@gmail.com

    Últimas