• Intolerância religiosa: polêmica é tema de redação do Enem

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  • 07/11/2016 18:00

    A redação do Exame Nacional do Ensino Médio, realizada no último fim de semana por mais de oito milhões de estudantes brasileiros abordou um tema muito polêmico e que ainda é responsável por muitos casos de violência em todo o Brasil: a intolerância religiosa.

    Esse tipo de preconceito ainda está presente em grande parte da sociedade, e muita gente nem se dá conta de que pratica a intolerância. São milhares de casos de ofensas todos os meses contra católicos, evangélicos, umbandistas, espíritas, budistas, muçulmanos e os praticantes das mais diversas religiões no país.

    Dados da Comissão de Combate à Intolerância Religiosa do Rio de Janeiro (CCIR) mostram que mais de 700 dos 1.014 casos de ofensas, abusos e atos violentos registrados nos 92 municípios do Estado, entre 2012 e 2015, são contra religiosos afrodescendentes. “As religiões de origem africanas são aquelas que atraem o maior número de ofensas e preconceito, pelo que temos observado. Esse “ódio”, é provocado muito muitos fatores como a ingorância, o medo, motivado pelo desconhecimento, e claro, pelas questões históricas da sociedade, não só do Brasil mas dos países europeus. Aquela coisa de odiar determinado costume ou prática apenas por ser típico de negros, e de afrodescendentes ainda é comum, infelizmente. Isso tem que acabar”, disse Moacyr Ferreira, 43 anos, praticante de umbanda que vive em Petrópolis.

    No ano passado, uma menina de apenas 11 anos foi atingida por uma pedrada na cabeça quando voltava pra casa após um culto no bairro da Penha, zona norte do Rio. A criança utilizava trajes e vestimentas típicas do candomblé, religião africana.

    No mesmo ano, um terreiro de candomblé foi incendiado em Brasília, no distrito Federal.  Na época, a imprensa local já registrou pelo menos 12 incêndios semelhantes desde o início do ano no mesmo Estado.

    O Disque 100, da Secretaria Nacional dos Direitos Humanos, do Governo Federal, criado para receber denúncias de violência, ofensa e preconceito, recebeu mais de 697 casos de intolerância religiosa entre 2011 e 2015 em todo o Brasil. Os estados campeões de preconceito são Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais. 

    Por causa disso, O Centro Espirita de Umbanda Tenda de Oxosse – CEUTO, de Petrópolis está participando de um movimento em favor da criação de uma Comissão de Combate à Intolerância Religiosa exclusiva da cidade. 

    O grupo, formado por membros de religiões afrodescendentes, se denomina “Povo do Santo”, e já colheu milhares de assinaturas nas ruas da cidade e por meio de petições on line em prol da Comissão.

    A frente religiosa visa criar políticas de combate à intolerância e proporcionar maior proteção e amparo aos praticantes de religiões afro-brasileiras. A petição já foi protocolada e entregue à Prefeitura Municipal de Petrópolis, juntamente com o abaixo assinado.

    A Lei n°7.716, de 5 de janeiro de 1989 considera crime a prática de discriminação ou preconceito contra religiões. Mesmo já havendo esta lei em vigor, muito adeptos das religiões de origem africana vêm sofrendo insultos e agressões.

    Católicos e Evangélicos também sofrem preconceito

    O Centro de Promoção da Liberdade Religiosa e Direitos Humanos (Ceplir), criado em 2012 no Rio de Janeiro, registrou 1.014 casos entre julho de 2012 e agosto de 2015, sendo 71% contra adeptos de religiões de matrizes africanas, 7,7% contra evangélicos, 3,8% contra católicos, 3,8% contra judeus e sem religião e 3,8% de ataques contra a liberdade religiosa de forma geral.

    Apesar de ter um índice de preconceito bem menor do que as outras religiões, os católicos e evangélicos também são alvo de intolerância. 

    A jornalista evangélica Elisa Caiaffa, que mora em Itaipava disse à nossa equipe que já sofreu preconceito até mesmo quando era criança. “Já sofri muito preconceito.Principalmente na minha infância e início da adolescência. As pessoas diziam: ah você não pode fazer isso, vestir aquilo, ouvir determinado tipo de música. Sempre acontece isso”, explicou.

    A jovem refletiu ainda sobre trechos da bíblia que mostram que o preconceito não é algo exclusivo da atualidade. “Na bíblia vemos que os mais intolerantes eram os fariseus, que acreditavam estar fazendo tudo certo e que os outros eram "pecadores" e eram dignos apenas de desprezo. Nos dias de hoje vemos a mesmo história se repetir, pessoas religiosas, que se dizem "cheias de fé", não praticando a "fé" e o amor ao próximo”, completou.

    O diácono Marco Aurélio de Carvalho, da Diocese de Petrópolis considera que houve uma grande melhora com relação à tolerância religiosa, mas ainda há muito o que progredir. "Eu vejo uma grande melhora. Às vezes ainda encontramos algum preconceito, mas estamos vivendo um caminhar para melhorar isso. A Igreja está abrindo as portas e caminhando nessa direção", alegou. 

    Marquinhos, como é conhecido, ainda citou alguns exemplos de avanço, como a assinatura de um acordo entre o Papa Francisco I e a Igreja Luterana. "Basta ver esse acordo como exemplo. A relação está melhorando muito, até mesmo aqui na cidade de Petrópolis, onde temos uma grande conversa com algumas religiões", completou.

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