• Histórias do comércio antigo de Carolina Freitas vão virar livro

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  • 18/10/2019 19:00

    Aluna do 8° período da Faculdade de Jornalismo da Estácio de Sá e há três anos contratada pela Tribuna de Petrópolis, Carolina Freitas chegou na profissão de maneira tímida, mas bastou uma oportunidade para mostrar que veio para ficar. A menina, que aos 19 anos estava em busca de seu primeiro emprego, agora, apenas dois anos e meio depois, tem no currículo, além da experiência na área, o disputado prêmio Alcindo Roberto Gomes de Jornalismo, concedido pela Academia Petropolitana de Letras, e um livro. É isso mesmo: a jovem lançará até o início do ano que vem, a convite do professor Paulo Cesar dos Santos, uma obra com 44 matérias escritas por ela para a Tribuna de Petrópolis, dentro do projeto batizado Petrópolis sob Lentes, que conta a história de uma Petrópolis que a geração mais nova não conheceu.

    Ao falar sobre o trabalho, fica claro que Carolina ainda custa a acreditar em tudo o que já conquistou. “Sempre gostei de histórias e era boa com as palavras. Desde pequena minha mãe me estimulava a ler, a conhecer outros mundos através dos livros, mas é claro que eu não imaginava conquistar tudo o que conquistei, principalmente em tão pouco tempo. Foram menos de três anos. Aos 19, a convite da Tribuna, me aventurei em um projeto novo. Aos 20 fui premiada pela academia por este trabalho e, aos 21, esta iniciativa está me dando a oportunidade de lançar um livro. É tudo muito surpreendente”, diz, sem esconder a alegria. O livro “Petrópolis: o comércio de ontem, a saudade de hoje” será lançado pela editora Literar e será o primeiro de uma coleção idealizada pelo professor Paulo Cesar dos Santos, como forma de homenagear sua esposa, Carmem Lúcia Carlos, que morreu em 2011. “Minha mulher sempre foi uma entusiasta da literatura. Ela me incentivava e me apoiava. Ficamos mais de 40 anos juntos e, após sua morte, surgiu a ideia de homenageá-la. A coleção terá o nome dela”, conta, explicando que a escolha de Carolina Freitas para assinar o primeiro da série de livros tem o objetivo de mostrar que há espaço para novos escritores.

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    “Carolina é, sem dúvida, a maior revelação da literatura petropolitana nas últimas décadas”, garante, lembrando que, antes de conhecer a jovem jornalista, imaginava que a autora dos textos que tanto o encantavam todos os domingos fosse mais velha. “Acompanhei o trabalho desde a primeira reportagem. Fiquei encantado com o texto e, quando, na Academia Petropolitana de Letras, tive que indicar um nome para receber o prêmio Alcindo Roberto Gomes, não tive dúvidas: sugeri o da Carolina. Outros acadêmicos também já acompanhavam o trabalho e aprovaram a indicação. A surpresa veio quando fui encontrá-la pessoalmente para falar sobre o prêmio. Esperava ver alguém que viveu aquela época retratada nas matérias, mas encontrei uma menina”, relembra. Carolina ri da confusão. “Eu costumo dizer que sou uma jornalista que nasceu na época errada, mas o professor Paulo Cesar diz que não. Ele diz que nasci no momento certo, para contar as histórias como conto hoje. Acho que me convenceu disso”.

    O prêmio deu mais confiança à jovem, que hoje lança mão de ferramentas modernas para encontrar as histórias que vai contar. “No início batia de porta em porta e acabava ficando restrita às histórias das famílias donas dos estabelecimentos. Hoje, com as redes sociais, descubro muito mais. Vou além do empreendimento. Onde há pessoas, há histórias e aos poucos fui entendendo que podia contar as histórias das lojas e das indústrias sob essa perspectiva. Uso as memórias de quem viveu aquilo para me transportar para esse tempo e entender como era cada detalhe”.

    A obra terá o prefácio escrito por ninguém menos que Antônio Torres. A apresentação será assinada pelo professor Joaquim Eloy e a orelha, pela poetisa Carmen Felicetti. Fernando Costa, a quem Carolina chama carinhosamente de padrinho, ao lado de Paulo Cesar Santos, fará a quarta capa. “Ver estes textos em um livro é um sonho realizado. É o reconhecimento de um trabalho que eu sempre fiz para satisfazer as minhas curiosidades. Ver que isto está impactando outras pessoas é uma felicidade enorme”, diz.

    Foto: Arte Márcio Neves – sobre foto de Bruno Avellar

     

    Caminho difícil até o jornalismo

    Filha de Odete e José Luiz Freitas, Carolina estudou durante toda a vida no Instituto Social São José. Desde cedo teve contato com as palavras, sob estímulo da mãe, que é professora de Inglês. Adorava as aulas de Português, História e, é claro, Língua Inglesa. 

    No 8º ano, decidiu que seria jornalista. A opção teve influência da professora de Língua Portuguesa e Redação, Marici. “Lembro de uma redação que escrevi e ela assinou dizendo que eu não existia. Eu fiquei muito feliz”, conta.

    No Ensino Médio, a pressão por resultados chegou a mexer com a jovem, que se sentia muito diferente dos colegas que buscavam vagas em universidades na área de Exatas. Passou a ir mal nas provas e não foi aprovada em universidades federais. Decidiu, então, que ficaria em uma instituição privada em Petrópolis.

     “Lembro que logo no início um professor (Eduardo Jorge) perguntou a razão de eu queria estudar Jornalismo. Falei que eu adorava viajar e que seria uma oportunidade boa para explorar novas culturas. Ao ouvir isso, ele disse que, se fosse fácil, todos optariam por essa carreira. Recentemente, já no fim do curso, outro professor (Bruno Machado) perguntou o que mudou na minha visão. Agora vejo que mudou muito. Hoje sei que posso conhecer coisas novas, contar boas histórias, mesmo sem sair da minha cidade”, diz.

     As histórias de Carolina – ou melhor, as que são contadas por ela – poderão ser vistas no livro. “Quero, com meus textos, fazer com que as pessoas olhem além da fachada. De fora, muitos não enxergam a capacidade que tenho de contar histórias, de escrever. O mesmo acontece com as lojas que são tema das minhas matérias. Quero que as pessoas enxerguem toda a riqueza que existe a partir das portas”, finaliza.

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