• História por trás dos livros: antiga Biblioteca Municipal foi demolida e deu lugar ao Centro de Cultura

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  • 06/05/2018 08:00

    Com uma fachada marcada por colunas refinadas, o antigo prédio da Biblioteca Municipal de Petrópolis era assim: um templo do conhecimento. Localizado na atual Rua da Imperatriz, o espaço funcionou até 1974, sendo, anos depois, demolido para dar lugar ao Centro de Cultura. O edifício recebeu ilustres visitantes como o escritor Stefan Zweig e estrangeiros no cenário pós-guerra que, assim como ele, encontraram, nas palavras, refúgio.

    ‘É impossível entrar na biblioteca e sair da mesma forma. Alguma coisa há de ser acrescentada em você’. Assim descreve a pedagoga Leonor Fernandes, última funcionária a ser admitida na antiga casa. ‘Imagina uma menina de 16 anos que começa a trabalhar e tem acesso a um número de informações extraordinário. Eu fiquei maravilhada, me apaixonei e trabalhei como bibliotecária por 41 anos’, diz Leonor.

    Contratada em abril de 1974, ela desfrutou da instalação por apenas alguns meses levando em consideração que no mesmo ano o estabelecimento precisou ser desocupado. ‘Já estava em andamento o projeto de construção do Centro de Cultura. Naquele ano ainda não havia essa ideia preservacionista que temos hoje e que proíbe a demolição de determinadas construções. Foi, então, demolida a casa que abrigava a biblioteca e outra edificação localizada ao lado, pertencente à Guarda Municipal’, explica ela.

    Décadas se passaram, e Leonor ainda guarda memórias do espaço em que, curiosamente, sua mãe também trabalhou como bibliotecária. ‘A casa tinha um pé direito altíssimo então o acesso aos livros das últimas prateleiras só se dava a partir de uma escada imensa. À direita de quem chegava havia um jogo de estofados vermelho em que as pessoas podiam, confortavelmente, se sentar e ler o jornal. Recebíamos muito material internacional como a revista Stern, famosa na Alemanha, por exemplo, e revistas francesas porque tínhamos um público de estrangeiros, inclusive idosos que tinham fugido da guerra e vindo para o Brasil’, relembra ela.

    Leonor também menciona que, no terreno, havia pés de Camélia e que, quando não podados, eram imediatamente vistos por quem entrava no Salão Principal. No entanto, como nem tudo são flores, a aposentada conta que o prédio estava deteriorado e que, um dos riscos era o de curto circuito. Por conta disso, o funcionamento se dava apenas até às 16 horas, quando ainda era possível usar a luz do dia. Isso sem falar no episódio em que, pouco antes dos livros começarem a ser empacotados para a mudança, vândalos invadiram a biblioteca e a depredaram, rasgando fichas de leitores e causando outros estragos.

    Criada logo após a elevação de Petrópolis à categoria de cidade, a biblioteca originalmente funcionava em uma das dependências da Câmara Municipal que, por anos, não teve sede própria. Além disso, de 1974 a 1977, operou na Casa Cláudio de Souza enquanto o Centro de Cultura, antes nomeado Alceu Amoroso Lima em homenagem ao escritor que aqui residiu, não era inaugurado. Moderno, o prédio destoava do estilo arquitetônico presente nas construções ao redor como o Palácio Amarelo e o próprio Museu Imperial, o que fez com que a obra dividisse opiniões.

    O projeto original sofreu modificações e não saiu do papel como inicialmente planejado. Uma das mudanças foi um auditório para 500 pessoas, que acabou não sendo construído. ‘Aquela escada, à direita de quem entra no Centro de Cultura, foi construída porque daria acesso ao anfiteatro. Onde hoje temos a cozinha era, na verdade, o banheiro e, do lado oposto, havia sido idealizada a área para a bomboniere, a charutaria e a revistaria’, revela Leonor, que acompanhou de perto as obras.

    Hoje considerada a terceira maior do Estado, a Biblioteca Central Municipal Gabriela Mistral conta com cerca de 150 mil volumes. Para a gerente Maria Luísa Rocha Melo, no ‘Livro das Assinaturas dos Visitantes Ilustres’ constam passagens de pensadores, escritores e ensaístas consagrados, como Hermes Lima, Afrânio Peixoto, Carolina Nabuco e Alceu Amoroso Lima.

    ‘Stefan Zweig, morando em Petrópolis, entregou à Biblioteca sua última coleção de livros, alguns deles com grifos e anotações, o que torna o acervo único e de extrema importância aos especialistas internacionais que por aqui passam para embasarem suas pesquisas. Há registros também dos embaixadores e cônsules do Chile, que aqui vieram atraídos pela homenagem que a Biblioteca presta à Gabriela Mistral, vencedora do Prêmio Nobel de Literatura, que também morou em Petrópolis e hoje dá nome a esta instituição: Biblioteca Central Municipal Gabriela Mistral’.

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