• Gripe espanhola: um século mais tarde, a história se repete e nova pandemia assusta

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  • 23/03/2020 18:37

    Escolas estaduais e municipais fechadas, isolamento social, recolhimento dos grupos mais vulneráveis e reforço nas equipes de saúde e sanitárias. Poderíamos estar falando de medidas que estão sendo tomadas hoje na cidade para conter a pandemia do novo coronavírus (Covid-19), mas estes relatos são de 1918 quando, logo após a primeira guerra mundial, o mundo enfrentou a Influenza Espanhola.

    Em Petrópolis, as primeiras notícias sobre a disseminação da influenza, ou gripe espanhola, começaram em meados de outubro de 1918. Na edição do dia 12 de outubro da Tribuna de Petrópolis, trazia em primeira página uma entrevista com o médico Cardoso Fontes que fala do alastramento da doença no Rio de Janeiro. No mesmo período também era discutida a aprovação do Código Sanitário Municipal.

    A pandemia da gripe espanhola que tem as características de uma gripe que também afeta o sistema respiratório, assim como Codiv-19, não escolheu classes sociais. Com a diferença que atingia principalmente as classes mais pobres, muito por causa das condições insalubres em que a população vivia. 

    Na pesquisa feita pelo historiador Oazinguito Ferreira da Silveira Filho, publicado no artigo “Contribuição à história da Saúde pública em Petrópolis – Gripe Espanhola e a questão sanitária em Petrópolis”, fala de pelo menos 648 mortes pelo vírus da gripe espanhola, em cerca de três meses – outubro a dezembro de 1918- o período de maior enfrentamento da doença. O bairro que mais sofreu foi o Bingen, onde vivia a população mais pobre e essencialmente de colonos. 

    Neste período, os mortos pela doença chegavam a média de 12 por dia, em uma população que era estimada à época em 25 mil habitantes. Fábricas foram fechadas. A São Pedro de Alcântara e Dona Anna (Morin) dispensou os operários para que ficassem em casa. Postos de urgência de saúde também foram criados. Faltou medicamentos para tratar a doença que associada a doenças pulmonares, como a pneumonia era fatal. 

    O historiador ainda conta que neste período Petrópolis ameaçou parar, além das fábricas, as casas comerciais também fecharam. O serviço telefônico para o Rio de Janeiro foi suspendo e o jornal Diário da Manhã deixou de circular, e foi um dos primeiros jornais a parar e não mais voltou a ser impresso. Filas nas farmácias e drogarias e nos jornais que ainda circulavam, diversas publicações anunciavam a venda de terrenos e casas. Certamente uma tentativa de fugir do surto. Tudo isso, naquele trimestre, no pico da pandemia. 

    Já em meados de janeiro de 1919, a situação começou a se normalizar. Com as medidas de contenção do vírus da gripe espanhola, com isolamento da população, medidas de higienização e ações emergenciais de saúde. Ainda assim, a gripe espanhola é considerada a maior pandemia que assolou o mundo. Estima-se que cerca de 50 milhões de pessoas morreram pela doença. 

    Ainda que os estabelecimentos começassem a dar sinais de normalidade, após este pico, como o historiador Oazinguito comenta, ficaram cicatrizes no enlutamento de diversas famílias e da sociedade em geral. 

    Neste período, após a provação do Código Sanitário Municipal há registros de fiscalizações da chamada polícia sanitária, que fechava estabelecimentos, fiscalizava domicílios públicos e particulares, promovendo vacinação e desinfectando. Quando em janeiro, o historiador conta, que os jornais publicavam as primeiras notícias de que os números de mortos pela doença começavam a frear. 

    Medidas de higienização são fundamentais para frear pandemia

    Embora a pandemia de coronavírus que enfrentamos hoje, seja em escala menor, por enquanto, no que diz respeito ao número de mortos comparado a gripe espanhola, com a experiência de uma pandemia que ocorreu há mais de 100 anos, o que a população aprendeu? Diversas medidas tomadas há mais de um século são semelhantes as que o governo em esferas federal, estadual e municipal tem determinado e recomendado. 

    No mundo, são pelo menos 8 mil mortes causadas pelo covid-19. A pandemia chegou no Brasil, e até a última sexta-feira, eram 11 mortes em decorrência do vírus e  mais de 900 casos confirmados sendo acompanhados. Para entender melhor a importância das medidas de proteção, a enfermeira sanitarista Fátima Cristina Coelho, superintendente de atenção à saúde, explica da importância da adoção de medidas de proteção para evitar que a pandemia faça mais vítimas. 

    “É primordial que as pessoas respeitem as orientações. O coronavírus não é transmitido só por gotículas. Medidas simples como lavar as mãos com frequência, usar álcool gel, quando espirrar ou tossir colocar um lenço descartável sobre a boca e jogar fora quando sair de casa. É uma questão de etiqueta que todos já deveriam fazer”, disse. 

    O atendimento em áreas centralizadas também é importante para isolar os pacientes com sintomas da doença. Como já está sendo feito no município. “Estamos tentando fazer barreiras para que não dissemine, evitando aglomerações nos centros de saúde e fazendo um atendimento em unidades centralizadas com triagem”, disse a enfermeira sanitarista.

    Ainda com fechamento dos estabelecimentos e o apelo a população, o grupo mais vulnerável insiste em sair as ruas. “Temos visto muitos idosos nas ruas, estamos anunciando que é um grupo de risco, que deve ficar em casa. Mas as pessoas parecem não levar a sério. As famílias têm que discutir isso dentro de casa. Os jovens, a criança ou adolescente, que está nas aglomerações pode contaminar os pais e os avós. Colocam as famílias em risco, é necessário fazer o isolamento em qualquer faixa etária”, disse. 

    Leia também: Especialistas reforçam que isolamento e lavar as mãos são fundamentais para prevenir coronavírus

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