• Greve dos professores é mantida e alunos podem perder o ano letivo

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  • 21/07/2016 09:30

    Uma assembleia realizada na última terça-feira (19) decidiu pela continuidade da greve dos professores da rede estadual de educação do Rio de Janeiro. A reunião entre membros do Sindicato Estadual dos Professores (Sepe) aconteceu na quadra da escola de samba São Clemente, no Rio.

    A paralisação, que começou em 2 de março e já dura mais de 140 dias, conta com a adesão de, pelo menos, 35% do corpo docente do Estado, tornando-se a maior greve da história da classe. Entre as reivindicações estão um reajuste salarial de 30%, o cumprimento do calendário de pagamento e uma longa pauta pedagógica com melhorias na situação estrutural e nos recursos das unidades estudantis. O maior problema é a situação dos alunos, que podem perder o ano inteiro caso a situação não se normalize o quanto antes.

    Em Petrópolis, as unidades funcionam na medida do possível. Em grandes escolas como o Colégio Estadual Cardoso Fontes, do Bingen, e o Colégio Dom Pedro II (Cenip), os professores fazem o que podem para que os alunos não saiam prejudicados. “Temos alguns professores em greve, mas aqui a gente procura manter as aulas de determinadas disciplinas para que os alunos não se prejudiquem”, disse um dos educadores. 

    Nas portas das escolas, a paralisação divide opinião dos alunos. "A gente entende que é muito importante para os professores e que todas as reivindicações são muito válidas. No entanto, nossa grande preocupação é com relação ao ano letivo, porque já se passaram quatro meses, já se foi mais da metade do ano e não vamos ter tempo de recuperá-lo. Nós defendemos os professores e queremos que o Estado tome alguma providência, porque não podemos perder um ano de nossas vidas", disse Jaqueline Lobato.

    Mariana Martins, aluna do Centro Integrado de Educação Pública (Ciep) Cecília Meirelles, de Corrêas, que ficou ocupada durante mais de duas semanas no primeiro semestre, também defende a causa dos professores, mas acha que alguma medida precisa ser tomada com urgência. "Eu sei que é muito difícil, mas eles vão ter que dar um jeito de voltar às aulas logo, porque se não vão atrasar a vida de milhões de alunos de todo o Estado. Vamos perder um ano. Isso é muito grave, não pode acontecer. Porque pelas minhas contas, nem estudando dia e noite vamos ter como repor isso", completou.


    Reposição de aulas é discutida

    Para saber sobre como fica o restante do ano letivo dos alunos, a Tribuna procurou o Sindicato dos Professores da Rede Estadual. O Sepe informou que tem apresentado algumas propostas de reposição ao governo, mas que até o momento as partes ainda não chegaram a um consenso. “Queremos uma reposição dos conteúdos, planejados coletiva e interdisciplinarmente, respeitando a autonomia”, disse a Comissão para negociação com a Seeduc, formada pelos professores Florinda Lombardi, Jeferson Romano e Maria José, do Sepe. 

    Para o professor Luiz Osmar, que também é membro do sindicato, é preciso fazer uma “reposição apenas qualitativa, relativa aos conteúdos, dependente apenas de decisão do professor com seus alunos, segundo a autonomia pedagógica”. Segundo ele, isso evita que a decisão passe por interferência da direção da escola, portanto, do governo. Segundo ele, a reposição no contraturno e aos sábados significa a ausência dos alunos nas salas de aula. "Isso significa uma farsa, ficando o professor na condição de castigo por ter participado da greve. Ou o governo suspende o calendário letivo e nós avançamos no processo de reposição ou a reposição será apenas de conteúdo, de acordo com cada turma de alunos", diz o texto do professor divulgado pelo Conselho Deliberativo. 

    Não é só a educação que está em crise. O estado do Rio de Janeiro está há mais de um mês oficialmente em estado de calamidade pública e o governador em exercício, Francisco Dornelles (PP), diz que a crise e a redução de repasses de royalties do petróleo são os principais culpados pela situação. O governador eleito, Luiz Pezão (PMDB), está afastado por problemas de saúde desde 28 de março.


    Seeduc ainda sem luz


    Enquanto os professores pedem reajuste e os alunos estão sem aulas, do outro lado os profissionais da Secretaria de Educação do Estado também sofrem com a crise. A Unidade Regional da Seeduc-RJ de Petrópolis está há mais de seis meses sem energia elétrica. Isso porque a concessionária de energia elétrica Ampla suspendeu o fornecimento depois de débitos do Estado. Os funcionários estão tendo que trabalhar à luz de velas ou então correr para aproveitar o sol enquanto durar a claridade do lado de fora do prédio. Além do transtorno enfrentado pelos profissionais, quem procura a Seeduc e precisa xerocar um documento, por exemplo, tem que buscar uma papelaria em outro bairro, porque o local não conta com recursos devido à falta de luz.

    Procurada pela Tribuna, a Secretaria de Educação do Estado do Rio de Janeiro não se pronunciou até o fechamento dessa reportagem. 


    Novas manifestações e assembleias


    Enquanto o Estado não chega a uma conclusão, o Sindicato dos Professores continua promovendo atos, manifestações e reuniões para discussão das reivindicações da categoria. Na próxima sexta-feira (22), o ato acontece na Cinelândia, às 17h. Já no domingo haverá uma manifestação em Copacabana, às 11h, com concentração marcada em frente ao Copacabana Palace. Tudo isso porque na terça-feira (26) haverá uma assembleia às 11h na Quadra da Escola de Samba São Clemente, que fica na Avenida Presidente Vargas, no Centro. 

    Por meio de nota, a Secretaria de Estado de Educação (Seeduc) informou que, juntamente com o Governo do Estado, vem constantemente recebendo a coordenação do Sindicato Estadual dos Profissionais de Educação do Rio de Janeiro (Sepe) e continuará a manter o diálogo com os professores.

    A Seeduc ressalta que serão respeitados os 200 dias letivos, conforme previsto em lei, e que algumas escolas poderão não ter o recesso do período olímpico, em agosto deste ano, e avançar em dezembro, janeiro e até fevereiro de 2017.

    Quanto à Regional Serrana I, em Petrópolis, o prédio pertence à Empresa de Obras Públicas do Estado (Emop) com administração compartilhada com a Secretaria de Educação. O Governo do Estado está em processo de renegociação dos créditos do ICMS para regularizar a situação junto à Ampla.


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