• Governo instável

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  • 24/05/2016 10:50

    Mais do que interino, o governo Temer revela-se instável, com riscos de não consolidar-se no poder. Lula aposta no retorno de Dilma, que hoje vive sonambúlica no Alvorada, como um zumbi, entre os belos espaços da arquitetura de Niemeyer, às custas do contribuinte. Ainda que remota, trata-se de uma possibilidade real, porquanto qualquer mudança mínima no placar do impeachment no Senado Federal pode ser fatal.

    Lula já busca cooptar alguns senadores, a fim de reduzir a exigência constitucional para menos de 2/3, fato que permitirá trazer a presidente de volta ao Planalto. Temer anda entre a cruz e a caldeirinha e vai compondo a duras penas o governo com o Congresso. Até o afastamento definitivo de Dilma, não tem como evitar a presença na administração de figuras suspeitas e carimbadas pela opinião pública.

    Entre avanços e recuos, como no caso de extinção e recriação do Ministério da Cultura, o governo atua na contramão de quem protestou pelo impeachment da presidente. Os artistas, inconformados com a extinção da boquinha e do afilhadismo cultural, vão querer sempre mais. Permanecem ocupando os espaços do Ministério e já exigem a saída do presidente.

    E o campo torna-se fértil, na medida em que o governo não corresponde aos anseios da sociedade, que exige uma gestão pontuada pela ética na política e pela moralidade no trato da coisa pública. Impossível digerir a nomeação do deputado André Moura como líder do governo, com folha corrida recheada de processos criminais, por corrupção, improbidade administrativa e tentativa de homicídio. Expõe as digitais do notório Eduardo Cunha, que segue manobrando os cordéis da maioria na Câmara Federal. Moura integra o baixo clero, o que há de mais deplorável no parlame nto, o novo “Centrão”, com mais de 300 deputados, que encontra origens no processo constituinte de 1988.

    Mas é o Congresso que temos. Um retrato sem retoques do povo brasileiro, que se projeta pelas assembleias e câmaras das diversas unidades da Federação. Bem ou mal, é com ele que o governante é obrigado a operar, ciente de que, sem seu apoio, inviabiliza-se a administração. Temer, com longa passagem pela Câmara Federal, conhece bem os meandros do poder legislativo. Portanto, tem como imprescindível o aval do Congresso ao seu governo, ainda marcado pela transitoriedade.

    O presidente anda sobre o fio da navalha, entre Renan Calheiros e Waldir Maranhão. Que tragédia! Calheiros, com 12 inquéritos e processos criminais em curso no Supremo, continua presidindo o Senado, insolente, cangaceiro, nas palavras do ex-senador Delcídio do Amaral. E Maranhão, lasso e chocarreiro, é a expressão da idiotia, responsável pela crise que envolve a Câmara, após a desastrada decisão de anular o processo de impeachment, mais tarde revogada pelo próprio.

    Com tal moldura, a composição do ministério não poderia ter outro desenho. Com citados e investigados pela Lava-Jato, mesmo sem condenação, compromete-se o projeto ansiado pela população. No caso, não basta ser probo, mas precisa parecer probo, em momento delicado e crucial da vida nacional.

    Hoje, no núcleo duro do poder, não há quem desperte muitas esperanças, pelo currículo que ostentam. No entanto, gratifica ver no ministério a titularidade de Meirelles, na Fazenda, de Serra, nas Relações Exteriores e Comércio Internacional, de Parente, na presidência da Petrobras, e de Maria Sílvia, no BNDES.

    Mas, como Temer não tem maiores alternativas, “voilà tout”, como dizem os franceses.

    paulofigueiredo@uol.com.br

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