Flexibilização após três meses de isolamento não é a vida voltando ao normal, alerta especialista
Depois três meses de isolamento, Petrópolis reabriu nesta segunda-feira (15) algumas das principais atividades comerciais. E, apesar da flexibilização, os números deixam claro que ninguém pode relaxar sobre as medidas de segurança: quando as primeiras medidas de restrições foram adotadas em Petrópolis, no dia 13 de março, não havia nenhum caso confirmado de Covid-19. Três meses depois, já são 995 casos confirmados da doença. O primeiro óbito foi registrado no dia 20 de março, sete dias depois do início da quarentena, e de acordo com o último balanço divulgado pela Prefeitura, já são, agora, 84 vítimas fatais.
Apesar dos números, o epidemiologista José Henrique Castrioto acredita que a colaboração da população nas primeiras semanas do isolamento foram fundamentais. “O acontecimento de casos e óbitos é esperado dentro de uma epidemia. As medidas adotadas visaram minimizar isso. Obviamente o comportamento e adesão por parte da população foi determinante. Percebemos isso mais claramente comparando o que aconteceu aqui com o que ocorreu em outras cidades do entorno. A grande adesão da população nas primeiras semanas foi o que fez a diferença. Se você comparar o mesmo período, por exemplo, na cidade do Rio de Janeiro ou em Manaus”, disse o epidemiologista.
Nesta segunda-feira (15), parte do comércio reabriu as portas depois de um longo período de restrições. Foram autorizados a funcionar comércio ambulante; agências de publicidade; lojas de vestuário, acessórios, calçados e afins; comércio de móveis, eletrodomésticos e eletrônicos; imobiliárias; lojas de equipamentos de informática; escritório de contabilidade, advocacia e congêneres; joalherias e relojoarias; agências de turismo; estúdios de pilates/massagem e fisioterapia (com atendimento individualizado); salões de beleza e barbearias. Para evitar uma explosão de casos, esses serviços só puderam abrir seguindo normas de segurança determinadas pelas equipes de saúde. O uso de máscaras é obrigatório dentro dos estabelecimentos, assim como o fornecimento de álcool em gel.
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“Sem dúvida o que vai determinar o que vai acontecer no futuro próximo também é o comportamento da população. A flexibilização impõe regras e sanções às infrações. Mas o respeito às normas é que vai determinar as ações a seguir. O problema ainda não acabou e é isso que as pessoas precisam entender. A conscientização é: flexibilização não é a vida voltando ao normal. Todos precisam tomar os cuidados necessários. Não é um liberou geral”, alerta o especialista, acrescentando que as medidas de restrições e a estruturação da rede municipal de saúde foram fundamentais para evitar uma explosão de óbitos. “Conseguimos aqui que o sistema de saúde desse conta do recado. Nossa população em momento nenhum ficou sem atendimento ou vaga em hospital, como ocorreu em outras cidades”, frisou.
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A flexibilização com a abertura de algumas atividades econômicas e serviços começou no dia primeiro, com os setores incluídos na linha branca. Nestes quinze dias, segundo informou a Secretaria de Saúde em reunião com os ministérios públicos Federal e Estadual, houve um aumento de 15% na quantidade de casos de Covid-19. A secretaria informou ainda que não houve registros de aumento na quantidade de mortes após a primeira etapa de reabertura do comércio e serviços.
Quem foi autorizado a abrir o estabelecimento na segunda também teve que se adequar. “É tudo uma adaptação, tanto para nós quanto para os clientes. Neste momento as coisas não vão ser como antes. As pessoas ainda têm medo, mas estamos nos preparando para receber todos com toda a segurança tanto para eles quanto para a nossa equipe”, disse a proprietária de um salão, Renata Ramos.
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O salão ficou fechado durante três meses e foi preciso todo um trabalho de higienização para abrir as portas. “Todas as regras estão sendo seguidas. Compramos todos os equipamentos de proteção, que estão sendo oferecidos aos clientes e também à nossa equipe. Será um retorno um pouco difícil, mas temos que fazer de tudo para que dê certo”, ressaltou Renata.
Em nota, a Prefeitura lembrou que, no primeiro boletim divulgado pela Secretaria de Saúde, em 24 de março, a cidade contabilizava três casos positivos, 51 suspeitos (ou seja, pessoas que tinham os sintomas, mas aguardavam o resultado dos exames) e 1 óbito. A maior preocupação era que a doença é altamente contagiosa, ou seja, se espalha muito rapidamente justamente pelo convívio social.
Logo nos primeiros dias o município viu subir o número de casos muito rapidamente. Por exemplo, já no dia 29 de março havia 4 casos positivos e 109 suspeitos. Com a ampliação do número de leitos na rede de saúde (tanto clínicos quanto de UTI, a taxa de ocupação despencou, garantindo que a cidade tenha vagas na rede de saúde para atender quem tiver complicações em função da contaminação. “É o que faz com que a cidade possa avançar na flexibilização do comércio. Mas, caso esse número avance, a Prefeitura pode recuar e fechar o comércio novamente”, garante o governo municipal.
Prefeitura detalha plano de ação
Petrópolis iniciou o plano de ação de combate ao coronavírus no dia 13 março com os primeiros decretos, antes mesmo de muitos países europeus.
O município antecipou o calendário de vacinação da gripe para os idosos; suspendeu as aulas da rede municipal e privada; fechou as entradas da cidade e impediu que os ônibus estaduais e intermunicipais entrassem no município. Além disso, também foram fechados o comércio e os pontos turísticos; e cancelados os eventos de grande porte.
A rede de saúde foi reestruturada para atender os pacientes com sintomas da doença. O Município criou os pontos de apoio no Centro e em Itaipava, transformou o Hospital Nelson de Sá Earp em um centro específico para o tratamento da covid-19 e criou a UPA Vermelha em Cascatinha. Também fez parcerias com a rede privada para expandir o número de leitos da rede municipal de saúde – hoje o município conta com 111 leitos de UTI.
Segundo dados da Prefeitura, o controle sanitário móvel para evitar que pessoas contaminadas de outros municípios acessassem Petrópolis foi eficaz. O volume de atendimento das UPAs caiu 70%. O município também aumentou, a partir da última semana do mês de maio, a testagem em pessoas sintomáticas.
A cidade também criou decretos para obrigar a população a usar máscaras e publicou notas técnicas com as normas de saúde.
“Importante dizer que a ajuda da população é fundamental porque o isolamento social ainda é a arma mais eficaz para diminuir a transmissão do coronavírus. Neste momento, a colaboração da população é crucial para manter baixa a ocupação dos leitos”, diz a Prefeitura, em nota.
Segundo o governo municipal, equipes médicas e infectologistas estão diariamente acompanhando a curva de contaminação no município, assim como a ocupação de leitos, que é o parâmetro para a flexibilização do comércio.
“Como consequência do aumento da testagem em pacientes sintomáticos e agora com a flexibilização de algumas atividades de comércio, o número de casos naturalmente tende a aumentar, mas a Prefeitura vai continuar trabalhando no acompanhamento diário da curva da doença em nosso município. E caso os números alcancem 80% de ocupação dos leitos hospitalares, a prefeitura vai voltar atrás nos decretos de flexibilização e não descarta a possibilidade de lockdown”, diz.