• Filha confessa ter assassinado a mãe em casa, diz ter sido induzida pelo namorado e fala em arrependimento

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  • 09/10/2018 17:03

    Imagens de uma câmera instalada no quarto da comerciante Dircilene Botelho Garcia, de 51 anos, frustraram o que poderia ter sido um crime perfeito. O equipamento registrou o momento em que a filha, Paloma Botelho Vasconcelos, matou a mãe usando uma seringa para injetar ar na veia da vítima. Seis dias depois do crime, após a polícia conseguir na Justiça mandado de prisão contra ela e o namorado, a jovem falou com uma equipe da Tribuna de Petrópolis. Paloma contou detalhes do plano para matar a mãe, disse ter sido induzida pelo namorado, Gabriel Molter Neves, de 26 anos, que também teve o mandado de prisão decretado, e afirmou estar arrependida do que fez. 

    Acompanhada do pai, o advogado Antônio Claudio Salles, Paloma afirmou ter tido a ideia de matar a mãe usando a seringa assistindo a uma novela da TV Globo, onde uma personagem utiliza o mesmo artifício para matar. 

    Veja também: Polícia diz que mulher encontrada morta em casa pode ter sido assassinada

    Ela e o namorado prestaram depoimento na 105ª Delegacia de Polícia (DP), no Retiro, onde o crime está sendo investigado, neste domingo (7). Ela não ficou presa por causa da Lei Eleitoral, prevista no artigo 236 do Código Eleitoral, que  diz que "nenhuma autoridade poderá, desde 5 dias antes e até 48 horas depois do encerramento da eleição, prender ou deter qualquer eleitor, salvo em flagrante delito ou em virtude de sentença criminal condenatória por crime inafiançável, ou, ainda, por desrespeito a salvo-conduto". Segundo Antônio Claudio Salles, a filha irá se entregar nesta quarta (10). 

    Segundo a jovem, a relação com a mãe não era boa. "Minha mãe não era uma boa mãe”, afirmou, alegando que era agredida, xingada e humilhada com frequência. “Sofri maus-tratos desde pequena e uma vez até tentei me matar. Chegava machucada na escola, mas não contava nada para ninguém. Ela jogava coisas em mim e chegou a me deixar sem comer, escondendo a comida no quarto dela”, afirmou. O que fiz foi errado, fiz motivada pelo meu namorado, e estou arrependida", disse Paloma. 

    Uso de remédios controlados

    Há oito meses, a jovem iniciou um tratamento com um psiquiatra e estava tomando remédios controlados. Segundo ela, a ideia de matar a mãe foi do namorado e nos últimos meses estavam planejando a melhor forma de cometer o crime. "Ele queria que fosse de forma mais violenta, mas disse que isso eu não conseguiria fazer", contou. "Ele dizia que se ela ficasse viva a gente nunca seria feliz e que por isso ela deveria morrer. Ele me convenceu de que a morte dela seria o melhor para nós dois". 

    O casal se conheceu em um site de relacionamentos e estava junto há dois anos e meio. Há alguns meses, a mãe proibiu que o rapaz frequentasse a casa e não queria mais o relacionamento.

    Jovem já tinha tentado matar a mão antes

    Em depoimento na delegacia, a jovem confessou ainda que já teria tentado matar a mãe colocando um herbicida na bebida. O produto foi comprado pela internet e a jovem teria colocado no vinho durante o jantar da família. "Ela sentiu um gosto estranho e não bebeu", contou. Depois da tentativa fracassada, Paloma teve a ideia de usar a seringa para injetar ar na veia, copiando uma personagem se novela. "Pensei que poderia ser a melhor forma", disse Paloma.

    O crime

    No dia do crime, segundo Paloma, o namorado entrou escondido na casa e ficou no quarto da jovem até que ela desse o sinal. A jovem disse ter entregue a ele luvas de plástico, um pano e um frasco com formol, que ela teria comprado também pela internet. "Quando minha mãe saiu do banho fui até o quarto dela e disse que faria uma massagem. Fiquei deitada nas nádegas dela e o Gabriel entrou", contou.

    A tentativa de fazer a vítima desmaiar, no entanto, não funcionou e a jovem afirmou que ela o namorado acabaram colocando sacolas plásticas (de mercado) na cabeça da mulher e usaram  fita adesiva para evitar que ela conseguisse escapar. Depois que a mãe desmaiou, Paloma foi até o seu quarto, pegou a seringa e injetou ar na veia da mãe. "Ela parou de se mexer e peguei um aparelho para ver se havia batimentos. Vimos que estava morta”, relatou. 

    Depois da morte, o casal ainda levou a mulher até o banheiro para lavar seu rosto.  Jovem afirmou que colocou uma roupa na mulher e ainda passou maquiagem. Depois, os dois deixaram o corpo em cima da cama e o rapaz se escondeu no quarto da jovem. 

    Padrasto encontrou o corpo

    Cerca de uma hora depois, o padastro de Paloma chegou em casa e, ao perceber a porta do quarto fechada, pulou a janela do banheiro para conseguir entrar no cômodo. Ele encontrou a mulher na cama e chegou o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu). O médico atestou a morte de Dircelene e anotou como causa natural, uma vez que não encontrou indícios de crime.

    Casal foi ao velório e ao enterro da vítima

    Gabriel saiu escondido de casa ainda na noite de terça-feira (2) e chegou a ir, acompanhado de Paloma, no enterro e velório da vítima. O crime só foi descoberto na quinta-feira (4), quando o padrasto viu as imagens da câmara instalada no quarto. "Quando cheguei em casa ele estava vendo a filmagem. Foi quando decidi fugir junto com o Gabriel. Eu queria me matar, não queria mais viver", disse. Paloma afirmou que, então, procurou o pai, que convenceu a não cometer suicídio e que o melhor seria que eles se entregassem.

    O padrasto levou as imagens à delegacia e o crime começou a ser investigado. A pedido do delegado titular da 105ª DP, Claudio Batista, o corpo foi exumado para o exame de necrópsia. Ainda não prazo para que o laudo seja concluído. As imagens gravadas no quarto da vítima também estão passando por perícia. 

    Dircilene morava com a família em uma casa na Rua Bingen e estava casada há 18 anos.

    Pai conta que não sabia dos abusos cometidos pela ex-mulher

    "Estou passando pelo pior momento da minha vida, que é entregar a minha filha para a polícia, mas é o que tem que ser feito. Ela cometeu um crime hediondo, vai pagar pelo o que fez", disse, emocionado, Antônio Claudio Salles. Advogado e pai de Paloma, acusada de matar a própria mãe com a ajuda do namorado, ele contou que na quarta-feira a jovem irá se entregar a polícia. "Pelo crime bárbaro que ela cometeu temo pela vida dela", ressaltou.

    Antônio acompanhou a filha no depoimento na 105º DP e também na entrevista concedida a Tribuna. Ele garantiu que não sabia dos maus-tratos da mãe e que chegou a falar com a filha para morar com ele. "Eu vivo em São Paulo e se ela estivesse comigo talvez tivesse evitado esta tragédia. Eu sabia que as duas brigavam, mas não sabia dos maus-tratos", frisou.

    O pai está convencido que o namorado foi quem convenceu a filha a cometer o crime, principalmente pelo momento instável em que a jovem está. "Ela estava fazendo tratamento com psiquiatra e tomando medicamentos, ele se aproveitou disso", pontuou. "Vou estar ao lado da minha filha e quero que ela pague pelo crime. Que ela cumpra sua pena e, quando estiver em liberdade, que comece um vida nova", concluiu.

    Em depoimento, Gabriel acusa Paloma de planejar a morte da mãe

    Gabriel Molter Neves, de 26 anos, também prestou depoimento na 105ª Delegacia de Polícia (DP), no Retiro, no último domingo (7). Acompanhado do pai, ele contou que foi Paloma que planejou a morte da mãe e que algumas vezes tentou persuadi-la. Gabriel também confirmou que a namorada tentou envenenar Dircilene colocando um herbicida no vinho.

    O rapaz contou também que Paloma pesquisava na internet métodos de assassinar a mãe e dizia que, quando ela morresse, "os dois poderiam viver juntos e felizes fora do país". No depoimento, Gabriel disse que chegou a falar com a namorada que "era perigoso matar e que poderiam ser pegos pela polícia". Sobre a noite do crime, não houve discordâncias no depoimento dos dois. Ambos narram da mesma forma como mataram a comerciante. 

    Gabriel é morador do bairro Alto Independência e atualmente não estava trabalhando. A equipe da Tribuna não conseguiu contato com o advogado do rapaz.

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