• Fantasmas do Nazismo

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  • 18/01/2020 17:27

    Na Secretaria de Cultura, Roberto Alvim já tinha ousado chamar a grande Fernanda Montenegro de “nojenta”. Então, copiou trechos de um discurso sobre diretrizes culturais do nazismo, proferido por Goebbels, Ministro da Propaganda de Hitler. Veio a grita geral, o inconformismo dos sãos. A seguinte e providencial demissão é bem-vinda, mas não apaga o fato de que o episódio não é isolado.

    Bolsonaro, mesmo ressalvando um “ainda bem que perdeu a guerra”, não esconde ter tido um bisavô que serviu no Exército de Hitler. No desfile de 07 de setembro passado, a banda dos fuzileiros abriu sua passagem em Brasília com “Lili Marlene” que, de inocente canção na voz de Marlene Dietrich, acabou, com outra letra, consagrada como hino nazista. Soube-se que o avô do hoje chanceler Ernesto Araújo, quando procurador-geral no governo Geisel, impediu enquanto pôde, a extradição de um nazista comandante do campo de extermínio de Sobibor, abrigado no Brasil (só extraditado no governo Figueiredo).

    A polícia afirma que a última ação criminosa neonazista no Brasil teria ocorrido em 2009 (uma bomba na Parada Gay de SP). Mas há pouco tempo um sujeito vestiu uma suástica e assentou-se num shopping de Curitiba, sem receios. O movimento integralista – parente dileto do nazismo, do qual supostamente divergia na questão racial – não só renasceu, como pôs Paulo Fernando Costa, um membro da Frente Integralista Brasileira, na assessoria do Ministério da Mulher. Camisas verdes marcharam em novembro, na Paulista. O criminoso atentado ao Porta dos Fundos (autor da deplorável sátira natalina), teria sido praticado por um integralista, hoje foragido.

    A antropóloga Adriana Dias, da UNICAMP, está para publicar trabalho em que catalogou 334 grupos neonazistas no Brasil, que somaram até 150 mil integrantes. Não esqueçamos que o Brasil foi sede do primeiro partido nazista fora da Alemanha, criado em 1928 em Timbó, Santa Catarina. Não esqueçamos dos flertes do Estado Novo de Vargas com o nazismo. E percebamos que o neonazismo corre solto, incrementado pelas redes sociais, fomentando ataques de ódio. Na pesquisa da antropóloga citada, só entre 2002 e 2009, o número de sites do tipo subiu de 7.600 para 20.502, com incremento de 42.585% nos comentários em fóruns sobre o tema. Não esqueçamos que a ascensão do nazismo alemão foi precedida de períodos de desordem e convulsão social, com economia em ruínas, depois de desastroso governo de esquerda. Aqui tivemos desastroso governo de esquerda, desordem, economia em frangalhos, até alguma convulsão social, numa sociedade cada vez mais violenta. Tudo isso deve acender sinais amarelos por toda parte, nos cérebros sensatos. Ainda acho que existe uma vigilância cidadã e institucional, e uma possibilidade de resistência ao naufrágio no breu completo do autoritarismo. Acho que a esquerda (e também o centro) precisa fazer publicamente o mea-culpa de seus muitos pecados e graves erros, e reinventarse com dignidade moral e política. Abandonando lideranças messiânicas, que já provaram seu desvalor.

    Cabe anotar a feliz expressão do jornalista Renato Terra, após a demissão de Alvim: “Fernanda Montenegro ganha o Oscar de Melhor Silêncio Como Resposta”. Agravada como foi, podia sair falando. Calou-se. Ela pode. Nós não. Dado o quadro antes descrito, é preciso declarar de forma unânime que é criminosa e inaceitável a fala de Alvim. E arroubos autoritários camuflados ou explícitos neste governo. denilsoncdearaujo.blogspot.com.. 

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