Fanatismo exacerbado

Estaremos ainda sob o ranço pernicioso e promíscuo do petismo ou do comunismo – sistemas falidos – que não nos dá o direito de externarmos, em público, nossas opiniões divergentes, principalmente, sobre políticos? 

Num pequeno espaço de dias surge outro caso “kafkaniano”. Estava com um amigo, nos deliciando de uma rubiácia especial em local também especial, quando, na mesa ao lado, acomodou-se um casal bem vestido. E qual não foi nossa surpresa quando meu amigo, ao criticar a atual administração, a referida senhora pediu licença e rechaçou a observação declarando que nossa cidade seria o único município do Estado com suas contas em dia. Diante de meu comentário de que havia uma dívida de 10 milhões de reais com um hospital, ela argumentou que tal dívida seria de administrações passadas e não deu tempo de eu esclarecer que dívidas municipais são do município e não de quem as contraiu – o casal pagou a conta e se retirou, deixando uma situação constrangedora por ter tolhido nosso livre direito de opinião. Um fanatismo exacerbado que, para mim, só mostra duas direções – interesses dúbios de um lado e irracionalidade do outro.

Não sofro de fanatismo algum, mesmo sendo adepto do soneto, se não imponho tal preferência a ninguém, como respeito quem goste de futebol, o que eu não gosto. Mas quando se parte para o fanatismo, a irracionalidade é total e impossível de se controlar. Por acaso, li uma sentença de Epícteto, filósofo grego (55-135):“É impossível para um homem aprender aquilo que ele acha que já sabe”. Controle emocional e postura ética são dois fatos.

E como para mim tudo leva e termina em poesia, chego à conclusão que, também neste segmento, o fanatismo é exacerbado – talvez até por comodidade. Recebo todos os anos programações de palestras nas diversas academias culturais das mais variadas regiões, principalmente do Rio e no que tange à poesia, de um modo geral, é sempre “samba de uma nota só” – são palestras sobre Drummond, Bandeira, Vinicius e Cecília – quando muito, incluem Clarice Lispector e ponto final. Portanto, o que tais palestrantes conhecem do segmento poético, se temos aqui um dos maiores poetas e raros são os que o conhecem?

Estou sempre a reler Raul de Leoni e ontem, por acaso, me deparei com “Egocentrismo” que tudo diz com muita sabedoria e que  nos obriga a meditar :

“Tudo que te disserem sobre a Vida, / sobre o destino humano, que flutua / ouve e medita bem, mas continua / com a mesma alma liberta e distraída!

Interpreta a existência com a medida / do teu Ser! (a verdade é uma obra tua!), / porque em cada alma o Mundo se insinua, / numa nova Ilusão desconhecida.

Vai pelos próprios passos, num assomo / de quem procura por si próprio o fundo / da eterna sensação que as cousas têm!

Existe, em suma, por ti mesmo, como / se antes da tua sombra sobre o Mundo / não houvera existido mais ninguém!…

Quem usa seu tempo para ler esse poeta maravilhoso em troca do lodaçal cultural que a mídia despeja todos os dias? É o gosto de cada um, mas não tenho nada quanto aos outros poetas citados, simplesmente acho que é um pacote manipulado por alguns comodistas. Existe, realmente, um fanatismo propiciado pela mídia pernóstica que impões sua ignorância acobertada de interesses outros e, com isto, as pessoas se deixam levar e se cegam propositalmente. É o fanatismo exacerbado que bloqueia o raciocínio de cada um.

jrobertogullino@gmail.com