• “Famiglia” saúde

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  • 21/07/2018 13:38

    No dia 1º de junho, a Agência Nacional de Saúde Suplementar divulgou uma nota através da qual comunica que “considerando anormalidades econômico-financeiras e administrativas graves”, fica extinta a operadora Sociedade Médico Hospitalar (SMH), o que deixou à deriva 554 usuários, dos quais 45% idosos. Tivemos 60 dias para tentativas de transferência para outros planos que, naturalmente, estão resistindo à aceitação das condições dos contratos atuais, mesmo cientes de que, por muito tempo, investimos, cada um, uma média de R$ 20 mil ano. A assessoria de imprensa do SMH informa que “a decisão pelo encerramento do plano de saúde faz parte do plano de reestruturação do grupo que segue em plena expansão”. Hein? Grupo de quem? Às custas do que deixamos para trás? Médicos que, na surdina, foram, há tempos, abandonando o navio, sem qualquer preocupação com a fidelidade de seus clientes, não deveriam vir a público? Não seria mais condizente com as vaidades da Cidade Imperial? O descaso para com o investimento emocional e financeiro de tantas pessoas não poderia ser visto como crime por omissão? Mas, o que esperar de um país do qual significativa parcela do poder está na cadeia.

    Através de informativo pré-assinalado pelo próprio SMH, ficamos cientes de que, sem muitas opções, nos está sendo imposto, por coação, inclusive pela pressão do tempo, um plano diferente dos nossos originais, obrigando-nos ao “coletivo por adesão” com “coparticipação”. Os menos atentos estão sendo seduzidos por contrapartidas pouco confiáveis (ciladas).

    No Rio de Janeiro, encaminhados pelo SMH, preenchemos um Protocolo para Análise de Elegibilidade. Seremos nós os inelegíveis? Seremos indenizados pelo transtorno, pelas despesas e pela eventualidade de o episódio em si nos adoecer? Do Rio Grande do Norte recebi um comunicado no qual, difusamente, sou recusada porque não pertenço a Sindicatos ou a Conselhos de Classe. Hein? Com nossos dados expostos, não estaremos sujeitos ao risco de tentativas de fraude? Queira ou não, o SMH tem responsabilidade sobre todos nós, por não ter correspondido não só à nossa confiança mas ao nosso regular e pesado compromisso financeiro. Uma responsabilidade minimamente moral. Em desuso, é verdade. E todo mundo calado.

    Na Justiça Federal, encaminhados pelo Procon, talvez por falta de sorte fomos atendidos por um plantonista que, vociferando, mostrou não ter compreendido (no que, afinal, tinha razão) se tratar de um movimento de quase 600 pessoas, encaminhadas por um órgão de defesa do consumidor que solicita intervenção de uma Agência Nacional, o que configuraria uma encrenca Federal. Só que não, e não somos nós que podemos avaliar a quem recorrer. Pontuando a mais total falta de ética, associada a extrema incivilidade , o plantonista em questão, sempre aos berros, não forneceu protocolo relativo ao documento que deixamos entregue à sua histérica competência.

    O poeta Rabindranath Tagore, Prêmio Nobel de Literatura em 1913, sugere uma súplica: “Senhor, dai-me a força de jamais vergar o joelho diante do poder insolente”. Sou filha de advogado e convivi com esta classe que, em todas as esferas, costumava se caracterizar pela propriedade nas palavras, mesmo quando exaltadas, e pela solicitude, elementar humanidade, essencial à vocação, também de médicos.

    Venho a Petrópolis desde 1945. Fomos cinco gerações de veranistas, desde os anos 30, dos quais alguns permanecem, tiveram filhos e netos aqui. Resido, pago impostos, voto e tenho plano de saúde desde 1980. Sou voluntária na rede municipal de educação desde 1995, na qual continuo apostando. Começo a pensar que deveríamos apostar também na saúde pública, fortalecendo-a, ao invés de alimentarmos o cinismo de uma agora desmascarada “businesshealth”.

    No alienado universo de bajulações e homenagens mútuas, próprio de Ditaduras, só é permitido elogiar e agradecer. Agradeçamos, pois, já que, pelo conjunto de omissões do qual estamos sendo vítimas, parece que não vamos fazer jus a mais do que um comprimido na calçada, pagando a água à parte. E todo mundo calado.


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