• Escritor pesquisa cartas de Alceu Amoroso Lima e Mário de Andrade

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  • 17/12/2018 09:45

    As constantes trocas de cartas entre Mário de Andrade e Alceu Amoroso Lima, também conhecido como Tristão de Athayde, no período entre 1925 e 1944, se tornaram fruto da pesquisa de Pós-doutorado do professor de Teoria Literária da UFMG e escritor Leandro Garcia. Os registros que tratam sobre assuntos como literatura, o conflito religioso de Mário, além do cenário político da época, foram catalogados durante três anos. Para isso, foram realizadas pesquisas no Centro Alceu Amoroso Lima para a Liberdade, na Mosela, em Petrópolis, além dos registros da Universidade de São Paulo – USP, onde está o acervo de Mário de Andrade. 


    “Mário é considerado um dos maiores epistológrafos do Brasil, fez da sua correspondência não apenas uma estratégia de comunicação e troca de notícias, mas “pensou” através das suas cartas. Usou-as como verdadeiro laboratório de criação, de pensamento e de estilística. Mário usava a sua correspondência para investigar o seu destinatário, a literatura modernista, então em construção e o próprio movimento, largamente problematizado na sua correspondência”, explica o professor. 

    O arquivo de correspondências que o escritor que morou em Petrópolis recebeu ao longo da vida, conta com mais de 32.450 cartas. Parte significativa foi entre o autor de Macunaíma e Alceu. No início de tudo, ainda nos anos 20, o tom desta troca se pautava muito pelo respeito e admiração de Mário por Alceu. Afinal, desde 1919, Alceu exercia o papel de crítico literário em diversos periódicos do Rio de Janeiro, então capital federal. 


    Esforço para compreender os diálogos 

    Com pouquíssimas cartas datilografadas, o escritor teve de interpretar, transcrever e digitar todo o conteúdo. Segundo Leandro, a etapa de compreender a caligrafia de ambos, foi um trabalho árduo. Ao todo, foram cinquenta e oito cartas, que foram transcritas e contextualizadas com notas explicativas sobre o cenário dos manuscritos. 

    “Foi necessário muita pesquisa para entender o conteúdo e contexto abordado nos registros. São mais de trezentas notas no rodapé, por meio das quais explicamos ao leitor, o que estava por trás das palavras escritas. Essa etapa durou mais de um ano e após ela, foi necessário entender toda a obra, trazer uma introdução para localizar a correspondência como um todo no conjunto do pensamento de cada um dos autores, entendendo as suas personalidades, pensamentos e estilos linguísticos”, comenta Leandro. 


    Correspondências entre Alceu e Murilo Mendes promete ser lançada em 2019 

    Há quinze anos, o professor que também é membro da Academia Petropolitana de Letras, pesquisa a Epistolografia, ciência literária que pesquisa e problematiza cartas e correspondências. O autor, sob a perspectiva de Alceu Amoroso Lima, já organizou as correspondências deste com Carlos Drummond de Andrade, Frei Betto, Leonardo Boff, Paulo Francis e agora com Mário de Andrade. 

    “Acabei de finalizar a correspondência de Alceu com Murilo Mendes, com publicação prevista para o final de 2019. Penso que cada correspondência que organizo é a possibilidade de se compreender, um pouco mais, o complexo processo da literatura brasileira, tendo sempre Alceu Amoroso Lima como figura central, pois este atravessou quase todo o século XX, produzindo uma vasta obra bibliográfica que consta de 136 livros publicados. Sua correspondência, que aos poucos eu estou publicando, comprova que a carta é parte definitiva da obra e do pensamento dos autores daquela geração modernista. Afirmo ser impossível compreender a obra destes grandes autores ignorando a sua correspondência”, finaliza. 


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