• Empresas de Petrópolis se preparam para revolução na indústria da confecção

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  • 27/05/2019 12:20

    Petrópolis está prestes a dar início a uma verdadeira revolução na indústria da confecção. Não é exagero afirmar que, a partir da chegada de um equipamento de ponta vindo da província de Zhejiang, na China – importante polo de alta tecnologia que concentra importantes universidades e faculdades – o setor vai experimentar uma mudança que promete ser tão significativa que colocará a Cidade Imperial na vanguarda tecnológica, algo que deverá trazer benefícios na produção e a tão desejada redução de custos.

    Nesta terça-feira (28), a partir das 19h, na Costure Melhor Kappaun´s, o pontapé inicial para a revolução será dada. O maquinário importado do país asiático será exposto ao público exclusivo que envolve confeccionistas e empresários na loja situada na Rua Teresa. É um equipamento sofisticado e caro. Com ele, será possível produzir, aos milhares, roupas com uma margem mínima de erro, economizando tempo e dinheiro, jogando os custos lá para baixo – uma música para os ouvidos da classe que sofre para competir contra os produtos vindos, sobretudo, do exterior.

    Pode parecer uma ironia do destino, mas a solução para enfrentar a concorrência veio justamente de um país rival do mercado. A China é a principal responsável, há anos, por inundar o Brasil com seus produtos têxteis mais baratos, o que provocou ao longo do tempo desemprego local e muitas fábricas fechadas. A competitividade nacional ficou aquém. Só que esses tempos estão prestes a mudar.

    Empresários veem benefícios e aumento de competitividade

    A chamada “Costura Inteligente” tem a ver com o que os confeccionistas chamam de Indústria 4.0, um sistema moderno de produção que gera a redução de custos e eficiência na produção. Essa nova tecnologia que acaba de chegar a Petrópolis vai dar um novo fôlego na produção. Segundo o empresário Jorge Kappaun, que adquiriu o maquinário, as empresas ganharão em competitividade e poderão fazer frente aos principais mercados confeccionistas do mundo hoje: China e Índia. No entanto, no Sul do Brasil já existem também confecções com essas máquinas. E a Cidade Imperial será a ponta de lança da Região Sudeste.

    “[A máquina] incorpora uma eletrônica dentro do conceito de costura e mais cortes com uma precisão incrível. Venho acompanhando isso há mais ou menos cinco anos, fazendo viagens constantes à China para aprender mais sobre ela. É o que tem de mais moderno no mercado e vai gerar benefícios, como a padronização da produção, velocidade e com um custo baixo”, explicou Kappaun, empresário que, no ano passado, inovou ao criar uma Confecção Compartilhada, permitindo que faccionistas possam usar todo o maquinário de uma grande confecção por determinado período. É como se alugasse uma confecção por determinadas horas.

    A inovação é muito bem-vinda também pela Rua Teresa, principal polo de moda do interior do estado. Confirmada no evento de terça-feira, a empresária e presidente da Arte, Denise Fiorini, observou que o investimento realizado demonstra com clareza a força da indústria do município. Ela elogiou Jorge Kappaun e diz que a implementação dessa tecnologia vai diminuir os custos de produção, dando um fôlego aos empresários que sofrem com a concorrência internacional e a crise econômica atual. “É fundamental que haja essa modernização na indústria. A Kappaun´s é muito importante para Petrópolis e com essa tecnologia de ponta vai impulsionar a indústria para os que trabalham na confecção”, complementou Fiorini.

    A automatização da produção local deverá servir de referência para todo o país, de acordo com a avaliação do presidente do Sindicato de Confecção de Petrópolis, Addison Meneses, que corrobora o conceito de revolução cunhada por Jorge Kappaun. Segundo ele, a produtividade e a qualidade – combinadas com a redução dos custos – pode proporcionar uma força maior ao polo regional, contribuindo com o desenvolvimento e manutenção dos empregos. “Ao automatizar várias operações de corte e costura, todo o trabalho com o novo maquinário da Kappaun será mais fácil de se fazer, gerando benefícios para todos os lados. O trabalho é feito com precisão e sua padronização traz uma novidade que nos colocará em uma situação privilegiada no mercado”, aposta ele.

    O compartilhamento de produção, no entanto, é comemorado pelos empresários do setor. A Pró-Imagem, especializada em uniformes e com exportações para várias partes do país, aplaudiu a novidade que chega com força a Petrópolis. A empresária Andréia Rocha Braga e seu negócio são há tempos parceiros de Jorge Kappaun. Ela vê na Indústria 4.0 uma novidade que contribui para os meios de produção. Além disso, acredita-se que a economia pode chegar a 30% em relação ao que se produz hoje. 

    Para o economista Marcelo Sistowsky, toda inovação que traga benefícios em cadeia econômica é uma excelente notícia, sobretudo para a indústria da confecção, que sofre com a competição da Ásia. Ao analisar a questão, Sistowsky afirma que para Petrópolis será muito bom no médio e longo prazos, pois além da eficiência na produção, a redução dos custos colocará os produtos locais em condições de concorrer nos mercados interno e externo. “As empresas de Petrópolis trabalham com produtos de alto nível. No entanto, os preços finais que somam o Custo Brasil e todos os encargos não permitem que nossos produtos tenham uma concorrência de igual para igual, principalmente com os chineses, que hoje dominam esse mercado”, frisou o economista.

    Segundo dados fornecidos pela Federação das Indústrias do Rio de Janeiro (Firjan), Petrópolis conta com 4.267 empregados em 355 estabelecimentos. Isto mostra que a indústria da confecção é responsável por 1,39 por cento da contratação local. Essa proporção, por outro lado, é muito inferior ao período mais próspero do setor – em 1920, havia 3.438 trabalhadores, número que corresponde a 23% da população ativa. Os números são do historiador Phillipe Arbos e está no livro Petrópolis, Esboço de uma geografia urbana, publicado em 1943. Sendo assim, o município – que recebeu suas primeiras indústrias de tecido em 1870, impulsionadas pelo Imperador Dom Pedro II – tem em seu DNA o mercado de produção das confecções. 

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