• Em busca de um otorrinolaringologista

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  • 30/05/2016 12:02

    No início deste mês, foi noticiado que mais de 1,3 milhão de clientes deixaram de ter planos de assistência médica, entre março de 2015 a março de 2016, segundo dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Só no primeiro trimestre deste ano, 617 mil ficaram sem plano. 

    A ANS afirmou que o subsegmento que mais sofreu impacto foi o de planos coletivos empresariais, devido ao fechamento de vagas formais. À primeira vista, isso é creditado à crise econômica vivida no país. É certo que a saída de tantas pessoas da rede privada sobrecarrega os hospitais públicos. 

    Mas não se podem analisar os fatos genericamente, é preciso ter uma ótica mais apurada para diagnosticar alguns sintomas do setor privado. É válido ressaltar que muitos médicos abandonaram os convênios com planos de saúde, porque se sentiam mal remunerados. Para eles, o que pagam por consulta não compensa, por isso não querem atender pacientes por meio de convênios. E os que ainda atendem, priorizam as consultas particulares. Limitam o número de atendimentos por planos. 

    Hoje vários hospitais particulares estão oferecendo um atendimento que não difere tanto da rede pública. O paciente fica horas esperando para ser atendido. Já fiquei mais de três horas em uma recepção com a minha esposa para que ela fosse atendida. Já recorri à justiça para que um parente fosse internado.  Um amigo, apesar de ter plano de saúde, paga consulta particular para ser atendido pelo cardiologista que o acompanha há mais de dez anos. Este saiu do plano com o qual ele é conveniado. 

    São muitos os casos que contribuem para o abandono dos planos de saúde. Não se pode colocar toda a culpa na crise econômica. O atendimento no sistema privado também está deixando a desejar. 

    Na sexta-feira passada, recebi a ligação de um amigo que estava no Rio, em plena Avenida Rio Branco. Após os cumprimentos, falou:

    – Estou com uma bruta dor de ouvido. Será que você consegue uma consulta com um otorrinolaringologista aí em Petrópolis pra mim? Parece que tem um besouro zumbindo no meu ouvido. Já liguei pra mais dez consultórios aqui no Rio. Quando ligo, a secretária logo pergunta se é por plano de saúde. Quando digo sim, falam que é só pra daqui a um mês ou dois. Por essa agonia, já me prontifiquei até a pagar a consulta. Mesmo assim, nada consegui. Como vou passar o fim de semana em Petrópolis, poderia subir agora e me consultar aí.

    – Me dá uns dez minutos. Vou ligar para alguns consultórios. Depois te retorno.

    Liguei para os otorrinolaringologistas credenciados no plano que tenho. Eles também só poderiam agendar para um ou dois meses depois. Telefonei para ele e dei a notícia. Contudo, pedi que viesse e aqui seria mais fácil arrumar alguma coisa. Poderíamos procurar um clínico geral em algum hospital da cidade. 

    Ao chegar a Petrópolis, ligou para os consultórios dos médicos credenciados no plano dele. Conseguiu um “encaixe” no final da tarde da segunda-feira. Mas pagando; se fosse pelo plano, não seria atendido.

    No sábado e no domingo, ele ligou para alguns hospitais para saber se havia algum otorrinolaringologista de plantão. Pela negativa, preferiu ficar com o zumbido no ouvido. Não procurou a emergência de nenhuma clínica.

    Por essas dificuldades, com certeza, cresce a automedicação. Claro que isso é um erro. Mas, como conter essa automedicação diante de tantas propagandas de remédio nos meios de comunicação de massa? Uma dor não some assim tão facilmente sem um diagnóstico correto. 

    – Quem consulta um médico quando tem uma dor de cabeça?


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