• “Ele não sorri”

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  • 04/04/2017 12:00

    Foi o que disse Carlos Augusto Montenegro, presidente do Ibope, sobre as dificuldades que Henrique Meirelles terá como candidato a presidente da República. Ainda que não queira, não deva ou não possa sorrir, sem um simples sorriso, nada feito, segundo o presidente do mais antigo instituto de opinião do país.

    Montenegro fez previsões a respeito das eleições de 2018, já ponderando os efeitos da Lava-Jato sobre o quadro geral da disputa. Em qualquer hipótese, assegura que Lula estará no segundo turno, mas que vencerá somente se seus adversários forem “muito ruins”. Admitiu que há espaço para “outsiders”, candidatos de fora do universo da política ou que assim se apresentem, e acrescentou que o presidente Michel Temer não chegará a 3% dos votos, caso dispute a reeleição.

    Em seus prognósticos, não há nenhuma novidade, porquanto todos mais ou menos visíveis e possíveis. Lula, seu partido e derivações lulopetistas, com a grave crise em que mergulharam o país e as instituições democráticas, retornarão aos seus números históricos, conseguidos após a estratificação da legenda junto ao eleitorado. Ficarão agora limitados a algo em torno de 25/30%, agravados com a rejeição do PT e de Lula, que alcança mais de 55%, percentual difícil de ser superado, para não dizer impossível. Como é curial ningu& eacute;m consegue vencer eleição de dois turnos com percentual que ultrapasse 50% de rejeição, considerando que os índices espelham a consolidação da não opção ou do não voto. Portanto, sem ultrapassar a repulsa, ainda em ações preliminares da campanha, a derrota deverá afigurar-se como inexorável. Assim, mesmo com adversários frágeis ou de baixa qualidade, torna-se praticamente inviável uma disputa exitosa do ex-metalúrgico no próximo pleito presidencial.

    Michel Temer não marca como governante e não tem sequer o domínio de sua própria cozinha palaciana. Ao invés de falar à sociedade e aos movimentos de massa que viabilizaram o impeachment de Dilma Rousseff, preferiu exercer a política do conchavo e do cambalacho com o Congresso Nacional. Ao contrário do que fez Itamar Franco, que assumiu o poder em circunstâncias semelhantes, tem-se tornado refém das forças do franciscanismo congressual do é dando que se recebe, do toma lá da cá, numa composição escrachada e fisiológica, que não permite possa estabelecer-se maiores distin ções com o governo deposto. Some-se a tantos equívocos a formação de uma equipe encastelada no coração do Planalto, ao redor do presidente, que vem sendo progressivamente castrada pela Lava-Jato e seus braços paralelos, como ocorreu com Romero Jucá e Geddel Vieira Lima, devendo ainda acontecer com Eliseu Padilha e Moreira Franco.

    Bem, chega-se novamente à ausência de sorriso em Meirelles, evidenciada pelo senhor do Ibope. Registre-se desde logo que, além de sisudo por natureza, o atual ministro da Fazenda mostra-se um tanto quanto desventuroso na aparência. É o oposto de Fernando Henrique Cardoso, com ares de galã dos anos 50, em quem certamente os defensores de Meirelles como presidenciável buscam inspiração. Talvez, por isso mesmo, não possa ser vendido como um belo produto de marketing, com lábios distendidos e expressões de grande simpatia. Frise-se que a presente situação é bastante diferente, com atores em cena que nem de longe lembram os mentores e executores do Plano Real, que redirecionou o futuro da economia e repôs o pais nos trilhos do desenvolvimento sustentado, com ou sem sorriso.

    paulofigueiredo@uol.com.br

     

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