• Efeito manada

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  • 31/07/2016 06:00

    As eleições municipais se aproximam. As convenções para a definição das coligações e das candidaturas a prefeito e vereadores já estão sendo realizadas nesse clima de jogos olímpicos. Sempre fico apreensivo nesses momentos em que a conjuntura política em crise é colocada em segundo plano, uma vez que a atenção do povo fica voltada para os eventos esportivos ou carnavalescos, ou seja, a mobilização popular é canalizada por uma euforia que desvia o foco sobre a realidade. 

    Vamos torcer para o Brasil fazer bonito, ser medalha de ouro em organização. Mas nessas Olimpíadas sediadas no Rio, começamos mal. As instalações da Vila Olímpica, que serão ocupadas pelas delegações estrangeiras, receberam severas críticas por falhas no acabamento. 

    Na Copa do Mundo, o vexame ficou por conta da derrota de “7 a 1” para a Alemanha. Fato que revelou o estágio em que se encontra o futebol brasileiro.

    Não podemos esquecer o momento crítico que atravessamos tanto no campo econômico quanto político. E neste, muitos deveriam receber cartão vermelho por atitudes antiéticas. E aqui quero expor uma reflexão sobre o que se convencionou chamar “efeito manada”.

     Na votação do impeachment da Presidente da República na Câmara dos Deputados, na votação da cassação do ex-presidente da Câmara na Comissão de Ética, muito se falou do “voto manada”. Eu já conhecia essa prática, mas confesso que ainda não tinha ouvido essa expressão com tanta evidência.  

    A palavra “manada”, que no termo exerce uma função adjetiva, consiste em um substantivo coletivo usado para designar um conjunto de animais da mesma espécie, como búfalos, gados.  O termo “voto manada” pejorativamente foi usado para denominar parlamentares que votaram em função da votação dos outros. E dessa forma, demonstraram uma fragilidade nas suas convicções políticas. Fato este que desagrada aos eleitores conscientes, que exigem, dos políticos eleitos, uma personalidade mais coerente. “Voto manada”, por analogia, está vinculado semanticamente à expressão popular “maria-vai-com-as-outras”. 

    Um político eleito para representar o povo precisa ter uma opinião formada, uma proposta ideológica fundamentada no bem comum e não nas conveniências pessoas. Biruta é que se movimenta em função do vento.

    Quem é movido por “efeito manada” tende a criticar o chamado “voto vencido”, o que age com convicção, não muda só para agradar a outros, tem um posicionamento coerente.

     É comum ouvir falar também do “voto útil”, geralmente justificado pela ideia de eleger o “menos ruim”, principalmente quando a eleição está polarizada entre dois candidatos que despontam nas pesquisas de opinião pública.

    Quando adolescente, ouvia falar muito do voto de cabestro no interior do Estado. Os coronéis conduziam os votos de seus empregados para um determinado candidato, isto é, os funcionários votavam no candidato que ele indicasse. Os currais eleitorais também existem no meio urbano. Em determinadas comunidades, só é possível fazer campanha política com a permissão das milícias ou do tráfico.

    No período que não havia urnas eletrônicas, também se ouvia falar do “foto fantasma”. Cabos eleitorais mantinham guardados títulos de eleitores falecidos. No dia da eleição, alguém, de posse dos documentos do falecido, votava por ele.

    Quem vende o próprio voto perde o direito de reivindicar e exigir dos políticos uma coerência nas atitudes. Por isso acho que muitos deles não têm esse compromisso com uma reta conduta, porque trabalham com seus eleitores na base da barganha, no toma lá dá cá. Esse é um dos viés da corrupção. 




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