• Edificar pela educação

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  • 20/03/2017 12:05

    Educar é edificar. Um professor, quando olha para o seu aluno formado, tem o mesmo sentimento de um operário que olha para um edifício que ajudou a construir. A consciência do dever cumprido fala no seu íntimo: “eu também participei dessa obra”. Há uma satisfação que favorece a autoestima. Quando o aluno agradece o trabalho do educador que lhe ajudou, a satisfação aumenta. 

    Pena que os edifícios, as pontes não podem falar. Se pudessem, agradeceriam o trabalho dos operários. Por outro lado, essas obras não têm senso crítico, não avaliam seus operários pelo comportamento adotado no exercício da profissão. Os professores passam por isso todos os dias, quando entram na sala de aula.

    Se um professor quer educar para a vida, inevitavelmente, tem que dar exemplo com a sua maneira de ser. O aluno pode até esquecer os conceitos da disciplina que ele leciona. Mas ficam registradas as atitudes, a coerência, os princípios éticos, a convicção com que transmite os seus ensinamentos.

    Tive a satisfação de conhecer, em Petrópolis, a professora Nilda Martins Veiga. Embora não tenha sido seu aluno em sala de aula; porém, na vida, eu tive belas lições. A dedicação com que conduzia a direção do Colégio Petrópolis era fascinante. Sabia o nome de todos os alunos, o nome do pai, da mãe. Administrava a escola como uma extensão da família. No pátio do Colégio, as crianças brincavam como se estivessem no quintal de casa. Isso dava aos pais uma segurança. 

    A Dona Nilda, como todos a chamavam, sabia usar a dose certa do amor de mãe, do carinho da professora e a tenacidade da diretora. O olhar, o tom de voz eram bem decodificados pelos seus alunos. Ela foi responsável pela formação do alicerce educacional de várias gerações de petropolitanos, principalmente dos moradores dos bairros Quissamã, Cascatinha e adjacências. Muitos pais tinham a satisfação de matricular o filho no Colégio em que estudaram. Queriam que o filho recebesse as primeiras orientações do Ciclo Básico com a Dona Nilda. Às vezes o nome dela ia à frente do nome do Colégio, que foi fundado há 61 anos, com a denominação “Escola Peter Pan”.

    Para ratificar o que falo, faço uso das palavras proferidas pelo juiz da 1ª Vara Cível, Enrico Carrano, no seu discurso de posse na cadeira de número 11 da Academia Petropolitana de Educação, em 22 de junho de 2013, ao referir-se à sua formação ginasial:

    “… Em seguida, o ginásio no Colégio Petrópolis da professora Nilda Martins Veiga, a quem presto aqui, senhor presidente, uma especial homenagem pelo incansável trabalho que, como diretora e dona de escola, desempenhou em prol da educação em Petrópolis. 

    Dona Nilda, com um zelo próprio de educador, raríssimo na atualidade, trabalhou até quando a saúde permitiu, acompanhando pessoalmente, junto dos professores, o aproveitamento de cada aluno em particular. Chamava os pais da criança que porventura estivesse passando por dificuldades (felizmente nunca foi o meu caso, ao menos até onde sei) e pedia a ajuda deles para a superação do problema, recebendo, em troca, quase sempre, carta branca para agir no que fosse preciso (também coisa rara de os pais fazerem hoje em dia)”.

    A última lição que tive da Dona Nilda consiste na luta pela vida: resistiu até as últimas forças. E partiu com a certeza do dever cumprido.

    P.S.: Em nome da Academia Petropolitana de Educação, quero externar aqui o sentimento de pesar aos familiares da professora Nilda Martins Veiga, que deixou o seu nome registrado na história da Educação de Petrópolis.


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