• É a política, meu caro!

  • Continua após o anúncio
  • Continua após o anúncio
  • 01/05/2020 00:01

    Em 1992, em plena disputa presidencial nos EUA, foi publicado um artigo intitulado É a economia, idiota! O autor era James Carville, estrategista-chefe do vitorioso Bill Clinton contra George Bush. A mensagem enfatizava a impor-tância da situação da economia para explicar a vitória. O tripé da campanha era o seguinte: (1) Mudança versus mais do mesmo; (2) É a economia, idiota; e (3) Não se esqueça da assistência médica. Adaptando este tripé ao caso brasileiro, poderíamos dizer o seguinte: (a) Mudar o regime político ou mais do mesmo; (b) É a constituição, meu caro; (c) Não se esqueça da desigualdade.

    Até meus 40 anos, a república no Brasil, para mim, era um fato histórico consumado. No início da década de 1980, pouco depois de regressar dos meus quatro anos de estudos na área de economia na Universidade da Pensilvânia, eu tirei férias numa praia fluminense, e levei para ler os três alentados volumes da História de Dom Pedro II, de Heitor Lyra, diplomata e historiador. Foi nessa época que me dei conta de que a história do Brasil que eu havia aprendido estava muito mal contada. Dediquei-me, então, a reestudar em profundidade o século XIX para entender o que realmente havia acontecido com o País.

    Nessas últimas quatro décadas, publiquei diversos artigos em jornais de circulação nacional. Em 31 de março de 1991, no então prestigioso Jornal do Brasil (JB), saiu um ensaio curto meu, com chamada de capa no Caderno Especial dominical, em seis laudas, intitulado A Falência da República. Ele foi reproduzido no meu livro A Falência da Res Publica, lançado em 2017, como capítulo de abertura. Foi aí que me dei conta de que, quase 40 anos depois, o artigo continuava atualíssimo ao apontar o imbróglio político-institucional que travava o Brasil. De 1980 a 2020, a coleção de décadas perdidas já é de quatro.

    Em o Estado de S. Paulo, publiquei diversos artigo, merecendo registro,   nessa linha, o que saiu, em 30 de junho de 2015, com o título Armadilhas Institucionais Imobilizantes, Abordei o caso das instituições disfuncionais, que o economista russo Victor M. Polterovitch, em instigante ensaio, de 2001, no livro A Nova Rússia – A transição que perdeu o rumo, define como “um esquema geral de formação de normas ou instituições ineficientes, ainda que estáveis”. Exatamente a tragédia político-institucional que acometeu o Brasil desde 1889.    

    No jornal O Globo, de 12 de fevereiro de 2014, publiquei um artigo intitulado Iugoslávia, PT e Brasil. Caso historicamente interessantíssimo em que os trabalhadores iugoslavos, diferentemente dos países comunistas sob o tacão de Stálin, se tornaram donos das fábricas. Praticaram uma política de aumentos salariais sistemáticos que impedia a destinação de recursos para investimentos.  Conclusão: a Iugoslávia se tornou o maior exportador líquido de mão de obra para o resto da Europa naquela época. Um país que não investe é incapaz de gerar empregos e aumentar a produtividade. Tem ou não tem a cara do Brasil do PT e assemelhados dos últimos 30 anos?

    A grande mídia impressa e as TVs, após muito tempo de análises com foco no curto prazo, começaram, pelo jeito, a se dar conta de que o arcabouço polí-tico-institucional brasileiro está fazendo água por todos os lados. A boa notícia foi o artigo Presidencialismo Inepto publicado por Merval Pereira, em 28.4.2020, em sua coluna de O Globo. Ele cita o cientista político Octavio Amorim Neto e Juan Linz, politicólogo espanhol. Ambos questionam o presidencialismo por ser incapaz de fazer valer a vontade popular ao eleger determinado presidente com suas propostas e a visão dominante no legislativo composto por partidos cuja posição nada republicana entra em choque com a do partido ou coligação que elegeu o presidente. No parlamentarismo, a base de apoio ao Primeiro-Ministro é formada antes de ele assumir o poder. Mata o mal pela raiz.

    Estranho no nosso caso foi ter jogado fora uma tradição parlamentarista, que nos vinha dos tempos coloniais até 1889, sem colocar no lugar nada de-cente. No próximo artigo, abordaremos o tripé elencado no início deste artigo.

    Últimas