• Doutorando em história diz que Brasil vai entrar na Rota da Seda

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  • 27/05/2019 18:10

    A Câmara de Comércio Brasil-China foi reativada. Uma delegação brasileira passou uma semana no país asiático para discutir a relação entre as partes e principalmente negócios. À frente da comitiva está o vice-presidente da República, Hamílton Mourão, que defendeu abertamente na ampliação de compras e vendas, mas sobretudo não deixou de tocar num ponto importante: a possível inclusão brasileira na versão do século 21 da Rota da Seda.

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    No entanto, o vice deixou bem claro que a decisão final a respeito de novos negócios envolvendo o Brasil e a China só sairá em agosto, quando o Presidente da República, Jair Bolsonaro, viaja para Pequim e tratará do assunto com seus pares. Ou seja, caberá a ele definir todos os termos de uma nova relação com o parceiro asiático, inclusive a Rota da Seda.

    A Tribuna ouviu o pesquisador do Nucleas-Uerj, doutorando em história social pela UniRio, João Cláudio Platenik Pitillo, sobre o possível ingresso brasileiro na segunda versão da Rota da Seda e todas as suas nuances que vão além da economia. Ao ser indagado sobre a possibilidade de Bolsonaro se recusar a ingressar no plano comercial chinês, João Cláudio descarta que isto possa vir a ocorrer.

    “O Brasil já está na Rota da Seda. A China propôs a construção de uma ferrovia chamada Bioceânica, que liga o Nordeste ao Peru ainda no Governo da Dilma, mas com o golpe ocorrido contra a presidenta o projeto ficou adormecido. Recentemente, parlamentares chineses conversaram sobre este assunto com o presidente da Câmara, Rodrigo Maia, para retomar os esforços na implementação desse projeto. Na minha opinião, não tem como o Brasil ficar de fora, até porque a China é hoje o nosso maior parceiro comercial e dificilmente o presidente rejeitaria esse acordo”, disse o pesquisador.

    Na campanha eleitoral, Jair Bolsonaro havia feito críticas ao comportamento da China no mercado brasileiro, suscitando o temor de que poderia dar uma guinada diferente nas áreas da política e da economia em relação ao parceiro. Só que essa impressão deve ficar no campo do discurso, pois segundo João Cláudio, tudo isso não passa de um arroubo ideológico que não encontra par na realidade.

    “O Bolsonaro não tem saída. O grito dele é puramente ideológico. A China tem hoje muitos investimentos no Brasil e seria um tiro no pé qualquer mudança no sentido de diminuir o comércio e os negócios por aqui. No final, ele vai buscar o ingresso brasileiro na Rota da Seda porque é um ótimo negócio para os dois lados”, explicou ele, citando que a contrapartida chinesa ao projeto está ligado a investimentos é a melhoria, principalmente no setor aeroportuário.

    A versão da nova Rota da Seda é a ampliação do comércio e aduaneiro entre a China e seus parceiros em investimentos que superam os bilhões de dólares. Para o país, a criação da Bioceânica vai escoar os produtos brasileiros por uma ferrovia que vai sair mais barato do que o transporte como ocorre hoje, em que navios precisam de milhares de quilômetros até chegar ao país de destino. Países africanos, asiáticos e até europeus (a Itália e a Turquia sinalizaram para Pequim que têm interesse no negócio) manifestaram favoráveis ao ingresso daquele que é apontado como o maior plano comercial entre países na história. 

    Originalmente, a Rota da Seda foi estabelecida no século 1 DC, quando a China fez obras importantes pelo país para escoar, em primeiro plano, a seda produzida no país.  O projeto foi tão bem-sucedido que vários países vizinhos aderiram ao plano, trazendo riquezas que beneficiaram as partes. A versão do século 21 pretende incluir mais de 40 países. 

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