• Dia Internacional do Deficiente impulsiona debates sobre inclusão

  • Continua após o anúncio
  • Continua após o anúncio
  • 02/12/2019 08:50

    Acessibilidade e inclusão são pontos de destaque quando se fala em políticas públicas para o cuidado das pessoas com deficiência. O assunto foi tema essa semana do 1º Simpósio em Defesa da Pessoa com Deficiência: Cuidados e Inclusão, realizado pela OAB, reunindo profissionais e representantes da sociedade civil que discutiram sobre questões pertinentes à melhoria da qualidade de vida e garantia do acesso aos serviços básicos para a pessoa com deficiência.

    O evento intensifica as ações do Dia Internacional do Deficiente, comemorado no próximo dia 3 de dezembro. Os pontos colocados em discussão fazem parte da rotina da aposentada Luziane de Fátima Rodrigues da Silva, de 54 anos, que há nove anos vive a realidade da busca por serviços para o filho, Daniel, adotado quando tinha seis meses de vida.

    Quando Luziane decidiu pela adoção, não imaginava as dificuldades que encontraria para garantir os cuidados essenciais do filho e, principalmente, a inclusão em serviços básicos, como educação. Daniel nasceu com hidrocefalia e passou os primeiros seis meses de vida no hospital e tinha como destino o orfanato quando recebesse alta.

    Mas Luziane, ao saber da história da criança, se prontificou à adoção, para a qual já tinha a habilitação. “Na época, eu trabalhava como feirante. Conheci muitas pessoas, muitos da área médica que trabalhavam em um hospital próximo do meu trabalho, que me contaram a história da criança que tinha sido deixada no hospital e dali iria para o orfanato, onde certamente não sobreviveria. Essa história ficou em minha mente por dias, até que decidi que adotaria aquela criança, que mudou a minha vida”, lembra.

    Desde que decidiu adotar Daniel, Luziane passou por várias dificuldades para aprender a lidar e cuidar da criança, que sempre exigiu cuidados especiais para tratar as múltiplas deficiências. “Quando trouxe ele para casa eu não tinha nenhuma roupa de bebê, uma fralda. Comecei uma nova vida”, conta. E foi uma nova vida carregada de obstáculos. Um deles a inserção da criança em uma instituição de ensino, algo que até hoje, aos nove anos, não foi possível. “Tentei várias instituições, cada uma apresentava uma impossibilidade. A que aceitava deficiente visual, não aceitava cadeirante, por não ter acesso e vice-versa. As que ofereciam acesso, não tinham profissionais especializados”, ressalta a mãe, que após várias tentativas, desistiu e optou por ela mesma cuidar das necessidades do filho.

    A falta de especialista para o cuidado de crianças com deficiências é um dos agravantes apontados pela mestre em Educação, Fabiana Pimentel, que participou do Simpósio da OAB. Segundo ela, atualmente é possível encontrar instituições que recebem crianças com múltiplas deficiências como o Daniel, mas ainda há a carência de profissionais especializados que ofereçam o cuidado individualizado que alguns casos exigem. “Falta capacitação dos professores, geralmente as instituições contam com estagiários em pedagogia, que não dão conta em dar o atendimento de qualidade. As políticas públicas existem, mas ainda são muito rasas”, destaca a professora, reforçando que uma criança como o Daniel muito tem a evoluir se tiver o atendimento correto: “Conheço casos de crianças com múltiplas deficiências que tiveram o desenvolvimento motor e a fala melhoradas”. 

    Famílias lutam por direitos

    Além da possibilidade de melhorar o desenvolvimento, o convívio social é algo que para Luziane seria de grande importância, não apenas para o Daniel, mas para as demais crianças, no sentido de terem a chance de conviver com o diferente. “Muitas pessoas chegam na vida adulta sem nunca terem tido contato com uma pessoa com deficiência e isso faz com que muitas vezes a presença de uma pessoa diferente, cause estranheza”, pontua Luziane, frisando que hoje sente não apenas a falta de instituições de ensino, mas  a inexistência de espaços públicos que tenham condições de acolher um deficiente. “Não temos praças com brinquedos para cadeirantes. Antigamente, tinha um brinquedo no Parque de Itaipava, que quebrou e nunca mais foi recolocado. A interação com o outro, em espaços livres é algo que faz muito bem para o meu filho e seria importante que fosse possível, para que se mude a percepção na sociedade”, reforça.

    A falta de mobilidade é outro ponto dificultador apontado por Luziane e também discutido por profissionais engajados pela causa. “A falta de mobilidade, que impacta na acessibilidade são outros fatores que precisam ser mudados”, conta a professora Fabiana, estimando que a luta pelo estabelecimento e prática de políticas públicas ganham força nos dias de hoje, quando se observa um maior engajamento dos pais das crianças ou pessoas com deficiência em lutar pelos direitos. “Os pais que antes negavam a dificuldade do filho, começaram a expor mais os problemas e se abrirem para essa causa. Há, nos dias de hoje, maior consciência dos direitos”, pontua na educadora.

    E nesse ponto, Luziane é mais um exemplo. Na busca por melhores mecanismos para cuidar das necessidades do filho, hoje além de mãe, ela voltou a estudar. Há dois anos, iniciou a faculdade de psicologia e vislumbra na futura profissão, a possibilidade de oferecer mais cuidados para o filho, mas também estender a ajuda a outras pessoas. “Penso em poder ter uma atuação mais ativa e inclusive adotar outras crianças, que assim como Daniel, não serão uma opção para a adoção”, conta, ressaltando que quando se disponibilizou para adotar uma criança, não fez distinções. “Muitas pessoas quando pensam em adotar selecionam a idade e o tipo de criança que querem e com isso, muitas crianças acabam sendo deixadas nos orfanatos. O Daniel foi uma benção na minha vida”, destaca. 

     

    Município conta com serviços e unidades especializadas para o cuidado de pessoas com deficiência

    Apesar da dificuldade da mãe de Daniel, a Prefeitura informou em nota que a rede oferece suporte. Na Educação, há 1162 alunos com deficiência matriculados. Os estudantes são atendidos em escolas regulares e acompanhados pelo Departamento de Educação Especial – que conta com uma equipe multidisciplinar especializada. O ensinamento do braile, orientação e mobilidade, técnicas de baixa visão, psicomotricidade, apoio pedagógico são algumas das oficinas ofertadas.

    Na Saúde, a rede conta com o Centro de Atenção Psicossocial Infantil (CAPsI), com serviço de cuidado diário, que tem como objetivo o atendimento de crianças e adolescentes com comprometimento psíquico, como também oferecer um suporte afetivo/emocional aos seus familiares e orientações. Essas unidades são referência no município para o cuidado das crianças diagnosticadas com autismo. 

    Sobre mobilidade urbana, a Prefeitura informou que conta com o Manual de Calçadas Acessível, que tem como objetivo atender a população com mais segurança e qualidade. Todo o projeto já foi apresentado para os Conselhos Municipais do segmento e está disponibilizado no site da Prefeitura, no entanto, não esclareceu como vem atuando para implantar as medidas de melhoria da acessibilidade. 

     

    Últimas