• Dia do orgulho LGBTIA+ celebra amor e luta contra a discriminação e violência

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  • 28/06/2020 23:10

    Neste domingo, dia 28 de junho, é o Dia do Orgulho LGBTIA+. A data é comemorada em tudo mundo como uma forma de dar visibilidade a comunidade LGBTIA+ e celebrar o amor em todas as suas formas. Momento importante para unir forças contra a discriminação e a violência praticada contra essa população. A Tribuna conversou com a Lívia Miranda que é professora, lésbica, militante e membro da União Nacional LGBT (UNALGBT) que fala um pouco sobre o espaço que a população LGBTIA+ ocupa em Petrópolis. 

    Repórter: O que significam as letras LGBT?

    Lívia Miranda: Essa apresentação é importante, pois as letras representam em si uma diversidade, dado que envolvem relações de afeto e gênero. Portanto, não é possível colocar as pessoas num mesmo pacote e tratar LGBT como um bloco único. Cada letrinha dessas tem suas questões específicas. Inclusive, com algumas atualizações, como as letras “IA+”, sendo L de Lésbicas; G de Gay; B de Bissexual; T de transexual; I de intersexo; A de Aliados e o sinal “+” representa todas as manifestações que ainda estamos em elaboração como sociedade. 

    R.: Acho que podemos falar sobre qual é o espaço que a comunidade LGBTIA+ ocupa hoje em Petrópolis.

    L.M.: A comunidade LGBTIA+ vem lentamente conquistando espaço em lugares privados numa trajetória bem recente na cidade. No entanto, a falta de políticas públicas para garantir acesso, organização e participação nos calendários de eventos ainda faz com que sejamos excluídos das atividades formais da cidade. 

    Isto é, o preconceito torna-se cada vez mais evidente por parte do poder público quando não contempla esta população no planejamento das áreas como educação, assistência social, emprego e renda, saúde, cultura, esporte e lazer, entre outras. Em resumo, a população LGBTIA+ é totalmente invisibilizada no que se refere às políticas públicas municipais.

    R.: O que falta para que tenham mais representatividade? 

    L.M.: A representatividade é importante, mas, muito além disso, devem ficar evidentes as pautas e o campo de atuação de determinada liderança. Por exemplo, não adianta termos um vereador ou uma vereadora LGBTIA+, mas que defende pautas homofóbicas. Da mesma forma que não adianta termos um representante negro, mas que defende o racismo ou que nega a escravidão. É claro que precisamos ter lideranças sociais e políticas LGBTIA+, mas é importante que essas lideranças sejam combativas em relação à homofobia. Só com o enfrentamento da manifestação do preconceito, da homofobia, do racismo, do machismo é que poderemos pensar numa sociedade justa e democrática.

    R.: Sobre os casos recentes de violência, como você vê a lgbtfobia na cidade? Em relação aos locais para atendimento nesses casos, quais são os principais relatos das vítimas quando chegam nesses locais?

    L.M.: Para responder essa questão é preciso iluminar um cenário muito triste: a classificação daquelas pessoas que podem viver e de quem não tem esse direito. Ou seja, no entendimento das pessoas preconceituosas isso é evidente: homossexuais e pessoas trans não têm direito à vida nem a demonstrar afeto em público. Esse é um problema muito profundo na nossa sociedade e que só é possível ser alterado com planejamento de ações a curto, médio e longo prazos. Fato é que Petrópolis não tem planejamento nem política pública que considere atender pessoas LGBTIA+ que sofram violência. Vale lembrar que muitos casos de homofobia não são notificados ou, então, são travestidos de outro tipo de violência. No entanto, quando essa violência ganha notoriedade, a solução e acompanhamentos desses casos se dão de maneira improvisada. 

    R.: De que ferramentas precisamos para combater a lgbtfobia na cidade?

    L.M.: A superação dessa realidade violenta só ocorrerá com a conscientização de todas as pessoas do quanto é importante defender a vida. E nisso não nos cabe escolher quem vive e quem morre: todas as pessoas devem ter o direito de viver uma vida digna. Mas essa conscientização também precisa ser política, pois viver é um ato político. Portanto, a nossa participação na elaboração das políticas públicas é fundamental para avançarmos na garantia e nas conquistas de direitos. Além disso, vale ressaltar que a denúncia por crime de homofobia deve servir para orientar, inclusive, as ações de segurança pública. Para tal, é imperioso que a vítima da violência tenha o direito da denúncia respeitado, atendido e que a denúncia seja investigada posteriormente. Uma ação específica e urgente no âmbito municipal é a criação do Conselho Municipal da Diversidade, pois é dali que devem emergir ações futuras específicas. Destacamos que a UNALGBT participa com titularidade no Conselho Municipal de Saúde, mas, para além da área da saúde, precisamos discutir questões em todas as áreas que afetam a pessoa humana e, por isso a necessidade da participação em todos os conselhos municipais.

    Além disso, é no combate à LGBTfobia que os aliados mais podem nos apoiar, pois em vez de rir de uma piada homofóbica numa mesa de amigos, cabe questionar a razão de ser desse pensamento. A pergunta: “Por que você pensa isso?”, pode ser um bom começo para o enfrentamento de uma violência.

    R.: Sobre o mês do orgulho LGBTIA+, de que formas a sociedade pode contribuir para dar mais visibilidade ao movimento?

    L.M.: As datas de conscientização são importantes para darmos visibilidade para aquelas populações sempre apagadas e anuladas na sociedade. No entanto, muito além de comemorar, é necessário tratar das questões que nos afligem, como a dificuldade da pessoa transexual estar empregada formalmente com todos os direitos trabalhistas, a necessidade de tornar mais acessível e continuado o tratamento hormonal na rede pública de saúde, combater o preconceito que ocorre em todas as esferas da sociedade, garantir que o nome social seja respeitado, fortalecer as instituições que combatem a violência, criar núcleos de acolhida à pessoa vítima da violência entre outras ações.

    Por fim, quando clamamos “Nenhuma vida a menos!” é no sentido de que todas as vidas são importantes. Não podemos permitir que nenhum dos nossos seja violentado por ser quem é ou por amar quem se quer amar. Enquanto nossas vidas forem ameaçadas e formos impedidos de viver uma vida com dignidade, não haverá democracia plena. Por isso que amamos, resistimos e lutamos!

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