• Defesa pessoal de Petrópolis ensinou militares dos Emirados Unidos

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  • 14/02/2020 16:07

    Petrópolis tem muitas qualidades que o país reconhece. Suas belezas naturais, a história que remonta os tempos do império e sua forte indústria têxtil são alguns dos predicados que faz a Cidade Imperial se tornar conhecida no Brasil e no mundo. O que poucos sabem, porém, é que o talento petropolitano para a defesa pessoal é tão importante quanto seus símbolos e uma família construiu isso num trabalho de décadas que transformou vidas e preparou militares em um emirado do Golfo Pérsico.

    Afinal, se perguntar aos seus avós e pais, quem não conhece a Dinastia Crézio Chaves? A metodologia própria criada pelo jiu-jitsu incentivou gerações inteiras a conhecerem o melhor da popular arte marcial, um fato admirado até mesmo pela icônica Família Gracie, que transformou o jiu-jitsu em um produto de exportação para o mundo inteiro. Os petropolitanos que integram os “Crézio Chaves” também levaram seus métodos para o exterior. Durante cinco anos, os Emirados Árabes aprenderam para valer os segredos de combate pessoal de altíssimo nível, criado na Cidade Imperial.

    Tudo começou quando Cleone Maria Cardoso de Souza, a Cléo Chaves, se casou com o paulistano Fábio Alessandro Tezzei, este especialista em kickboxing e um fã incondicional de outro membro da Família Crézio, Crézio de Souza, o Crezinho, este reconhecidamente um dos melhores atletas de jiu-jitsu que o país conheceu. Cléo – a primeira faixa preta de jiu-jitsu daqui – e Fábio aceitaram o desafio de treinar militares e policiais dos Emirados Árabes em uma experiência que extrapola a luta em si: a experiência cultural no país estrangeiro, rico em petróleo, transformou a vida deles para sempre.

    Durante os cinco anos vividos no Golfo Pérsico – uma das regiões do planeta com mais problemas geopolíticos –, Fábio e Cléo trabalharam muito. Ele, por um lado,  trabalhou em vários aspectos da defesa pessoal com militares árabes das forças especiais e não viu dificuldades em absorver a cultura islâmica. Pelo contrário. Curtiu muito esse período em algo que mudou sua vida para sempre. “Não conhecia nada sobre a cultura islâmica e seus preceitos. Aos poucos, me adaptei bem a tudo e conseguimos desenvolver um ótimo trabalho por lá. Muita amizade e quebra de preconceitos, eu diria, marcaram esse período”, disse Fábio, que revelou ter tido  também muito contato com Mohammed bin Zayed Al Nahyan, príncipe herdeiro dos Emirados Árabes.

    Para Cléo Chaves, o trabalho ficou concentrado nos ensinamentos de defesa pessoal a policiais e militares mulheres do país. Formada em educação física e com mestrado na França, ela combinou o que aprendeu desde os quatro anos com sua família e passou tudo para as árabes. Depois de ter apresentado seu projeto às autoridades dos Emirados Árabes, conquistou de vez e se tornou uma legítima Team Leader, uma autoridade local nos ensinamentos do jiu-jitsu e outras defesas pessoais. A interação cultural também trouxe um enriquecimento tamanho que guarda com carinho os anos passados na região. “A minha aceitação por lá foi muito boa. Foram anos de intenso trabalho e experiências que jamais esquecerei”, explicou a fera feminina do esporte.

    Hoje, a dupla se dedica integralmente em dar sequência ao legado de Crézio Chaves no Centro de Lutas. Lá, dezenas de alunos de diferentes faixas etárias – homens e mulheres – são ensinados com a mesma técnica que, durante gerações, formou inúmeros professores e faixas pretas, habilidosos lutadores que disputam campeonatos em todo o país. Fábio, por exemplo, é uma pessoa que recebe a todos com um sorriso no rosto, embora dentro do dojô (lugar onde se pratica a defesa pessoal) vira uma fera. Com Cléo não é nada diferente: com a mesma efetividade que sua família vem escrevendo a história do esporte, se dedica integralmente a formar uma nova geração de lutadores.  

     

    Pai de Cléo, Crézio desafia lutadores de sua faixa etária do mundo todo

    A dinastia Crézio revoluciona o esporte pelo mundo. A raiz disso tudo remonta a década de 60, quando cearense Crézio Chaves veio para Petrópolis e trouxe com ele a emergente técnica do jiu-jitsu, embora não fosse a única defesa pessoal que conhecia: sabia muito sobre judô e até capoeira. Essa combinação de fatores o fez abrir sua primeira academia, em 1960. Com a ajuda de Manoel do Carmo, ex-vereador e amigo pessoal, Crézio começou uma história bonita no esporte que rende frutos até hoje.

    É fato que o trabalho desenvolvido por Fábio e Cléo nos Emirados Árabes Unidos  tinha como base o aprendizado acumulado de anos de Crézio Chaves, que é uma das figuras mais simpáticas do meio esportivo. Além de um exímio lutador de vale-tudo na década de 60, era uma das raras pessoas com quem teve a chance de treinar com personalidades como Carlson Gracie e Hélio Gracie – este último uma lenda que o respeitava muito. 

    Aos 86 anos, Crézio Chaves abre sua academia todos os dias, no Centro Histórico, para fazer aquilo que é sua rotina de décadas: ensinar lutadores em vários estilos, pouco importando a idade. É uma lenda viva e admirado por alunos e família, já que formou também os filhos Crézio e Cleiton de Souza – faixas pretas que são verdadeiros craques do dojô. Assim como sua filha Cléo, alguns de seus alunos também tiveram a oportunidade de repassar tudo que aprenderam com o mestre no exterior: Wanderley Mariano, de 48 anos, esteve neste ano na Alemanha proferindo palestras a convite do professor de capoeira, Tiroteio.

    Com uma saúde invejável e uma disposição incrível, Crézio Chaves aproveitou a visita da reportagem da Tribuna ao Centro de Lutas e ousou fazer um desafio: ele está disposto a enfrentar qualquer lutador do Brasil e do mundo em um vale-tudo (hoje conhecido como MMA), dentro de sua faixa etária. Ele, que pode se orgulhar por ter a maior graduação de um faixa preta de jiu-jitsu no Brasil, diz que pode encarar qualquer um.

           

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