• Decisão sobre charretes pode ficar para 2018

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  • 05/03/2017 09:00

    A polêmica que envolve as tradicionais charretes do centro histórico de Petrópolis ainda está longe de terminar. O projeto para realização de um plebiscito que decidirá entre a extinção ou permanência do serviço foi protocolado pelo vereador Reinaldo Meirelles (PP) mas ainda não tem data para acontecer. A expectativa é de que o referendo seja realizado junto às eleições de 2018. 

    “Eu até entendo que muita gente vai falar que temos outras prioridades para resolver nesse momento, mas já que esse assunto está em discussão, nós como legisladores temos que dar o nosso parecer. O meu entendimento é que vivemos numa democracia representativa, onde o povo escolhe os seus políticos e estes, por sua vez, os representam. Então eu sugeri a realização do plebiscito justamente para que a democracia seja feita. Entendo que a minha opinião particular é insignificante, e que um grupo não pode decidir pela cidade inteira. Tem que ser a maioria”, declarou Meirelles. 

    O vereador falou também da importância de refletir e se aprofundar sobre o tema, antes de tomar qualquer providência ou posição, seja contra ou a favor. “A retirada dessas charretes pode quebrar uma tradição da cidade. Isso impacta na economia, no turismo e com certeza pode trazer prejuízo. Por outro lado, a permanência delas, segundo defensores, está provocando o sofrimento dos animais. Então a gente precisa decidir e resolver isso de forma inteligente e democrática, sem que ninguém se saia prejudicado”, completou o parlamentar. 

    O projeto de resolução criado Meirelles foi protocolado pelo Legislativo, e agora segue os trâmites legais da Casa. O texto ainda deve passar pela análise das comissões internas, onde será discutido e debatido quantas vezes necessário. Posteriormente, poderá ser levado ao Plenário para discussão e votação. Caso aprovado, passa para as mãos do presidente da Câmara até que seja validado. 

    “Pela lei orgânica ele é aprovado e tem alguns meses para ser realizado. Mas nós podemos votar em primeiro turmo, por exemplo, e protelar os trâmites para coincidir as datas com as da eleição de 2018. Assim não vai gerar custos para o município, e nós poderemos fazer junto com o referendo”, completou. 


    Tema divide opiniões

    Enquanto a discussão segue os trâmites, a polêmica parece não ter fim, e divide opiniões nas ruas da cidade. A carioca Daniela Mello não deixa de passear nas charretes em suas visitas a Petrópolis. “Eu moro no Rio e sempre venho para cá passear com a família. Ando de charrete porque vejo que, além de ser um passeio lindo e encantador, os cavalos são bem tratados. E toda vez, antes de passear eu dou uma olhada para ver se os animais estão bem”, explicou. Ciente das discussões polêmicas que envolvem as vitórias, a advogada não acha que a extinção ou substituição seja a melhor saída. “Os cavalos são bem tratados e isso está visível. A gente vê tanta coisa pior por aí”, disse. 

    Por outro lado, Lucilene Martins, que é fonoaudióloga, acha um absurdo que o serviço ainda esteja em pleno funcionamento. “Eu tenho muita pena de ver esses cavalos aqui em pé o dia inteiro. Em pleno século 21 as pessoas ainda não arrumaram um jeito de substituir isso por outra coisa?”, questionou, reclamando. 

    A ideia de trocar as vitórias por veículos automotores vou comentada pela vereadora Gilda Beatriz, que havia proposto a criação de uma Comissão Especial de Discussão na sede do legislativo. Porém, a proposta foi recusada e derrubada pela maioria dos vereadores da casa. “Não entendemos que o plebiscito seja o melhor caminho. Escolher entre “sim ou não” não tem uma resolução pacífica que atenda às necessidades dos charreteiros. Temos famílias que dependem daquilo. Embora seja uma atividade que desperta preocupação, ela deve ser substituída aos poucos. Não pode ser de uma hora para outra como propõe o plebiscito. A Gilda continua em contato com os protetores e charreteiros, de forma amigável. Nada parecido com o que aconteceu aqui na Câmara. O trabalho não vai parar”, disse Patrícia Santana, assessora da Gilda Beatriz. 


    Cavalos são acompanhados por veterinários

    Atualmente o ponto de vitórias da Rua da Imperatriz, em Petrópolis, conta com cerca de 45 cavalos, distribuídos em 13 charretes. Todas regulamentadas e fiscalizadas pela Companhia Petropolitana de Trânsito e Transportes (CPTrans). Os equipamentos passam por vistorias anuais e os animais são acompanhados de perto, trimestralmente por equipes de veterinários.

    A coordenadora da Ong Anima Vida, e defensora da causa animal, Ana Cristina Ribeiro, acompanha de perto a situação há muito tempo. “Pelo decreto regulador da atividade, a cada três meses, os charreteiros contratam veterinários que avaliam e emitam laudo que é entregue a CPTrans, que é o órgão controlador.  Como o anima vida tem relacionamento ótimo com esses profissionais, acabamos intermediando esse contato entre veterinários e charreteiros e acompanhando grande parte dos exames, essa avaliação trimestral”, explicou Ana.

    A defensora guarda toda a documentação sobre a saúde dos animais. “Tenho tudo guardado, porque estamos vendo de perto isso tudo. Todos os charreteiros que atendemos seguem à risca a recomendação dos veterinários, e até hoje não tivemos nenhum problema com isso, desde que começamos a acompanhá-los. Nunca ouvi falar nem vi um charreteiro que se contrapôs aquilo que o veterinário disse. Eles custeiam o tratamento dos cavalos com recurso próprio”, detalhou.

    O charreteiro Adilson Rosa Garcia, que trabalha há 58 anos com as vitórias disse que gasta em média R$ 3,2 mil com seus cavalos mensalmente. “Eu cuido deles como se fosse meus filhos. É claro que são animais de trabalho, mas tenho todo cuidado e amor com esses bichos. Os meus só trabalham no fim de semana, e ao longo de todos os dias úteis ficam soltos no pasto. Comem ração duas vezes por dia, e a terceira refeição é composta por feno. Quem pensa que eles são explorados como são em alguns lugares está muito enganado. Meus cavalos são chipados e avaliados a cada trimestre por uma equipe de veterinários. Tenho todos os documentos em mãos. Calendário de vacinas e também os atestados, porque sem eles não teria nem licença para rodar”, completou. 

    Ao saber da notícia sobre a possibilidade do fim do serviço, Adilson chorou. “Esses bichos são o meu sustento. São o sustento da minha família. Eu trato eles com muito amor, porque são animais como a gente. Tanto que comecei a fazer serviço de bombeiro hidráulico para custear as despesas com meus cavalos”, contou. 


    Destino dos animais é preocupação

    Ana Cristina, que não manifestou opinião sobre a polêmica das charretes disse que o foco da preocupação é com o destino dos animais, caso realmente as charretes sejam extintas ou substituídas. “O plebiscito me preocupa porque até hoje quem lidera esse movimento contra charrete ainda não deixou claro qual será a destinação dos animais. Porque para libertar os animais têm que ter garantias de que eles sejam bem tratados. Conhecemos a realidade desses animais de perto. São cavalos, são bichos de grande porte, que necessitam de cuidados e que têm tido muita atenção. Esses cavalos dão uma despesa muito alta e não sei como vão fazer para custear isso caso o serviço acabe”, declarou, destacando que a ong Anima Vida entende como arriscada a medida de substituição das charretes. “Não se pode votar num plebiscito sem conhecer o que está por trás disso. Quem vai arcar com essas despesas? Assim os cavalos serão vendidos e vão trabalhar em condições muito piores. Não vivo num mundo de rosas. Eu vivo no mundo real. E nele trabalho para que um dia chegamos nesse mundo fantasioso. É muito caro, tudo muito caro. Os cavalos hoje precisam trabalhar porque infelizmente é o trabalho que os mantém. Assim como os animais de competição, que apesar dos cuidados especiais também são muito sacrificados fisicamente. Eles não têm vida de cavalo, como os de Petrópolis, que ficam soltos por grande parte do dia”, completou. 

    Para Ana, a retirada das charretes deveria ser feita gradualmente, de forma que não prejudique os animais. “Tudo isso tem que ser gradual. Não vai achando que eles terão vida mansa para o resto da vida, se forem desativados. Não tenho nada contra nem a favor da charrete. Sou a favor de uma vida digna para o animal. Se não tiver condição de fazer ter vida sem trabalho, que ele tenha um trabalho fiscalizado, com regras severas”, completou, citando como exemplo os jegues da Praça da Liberdade, que acabaram sendo soltos nas ruas da cidade. 



    Opinião nas ruas

    A reprovação da Comissão Especial que debateria os assuntos relacionados às charretes, na Câmara Municipal, que gerou polêmica e tumulto durante a votação no mês passado, teve repercussão nas ruas, e acabou despertando a atenção de muita gente sobre o assunto. O estudante de jornalismo Uilian Santos defende a melhoria no serviço. “Sou a favor das charretes desde que em condições dignas para os animais e charreteiros. Até porque não vejo garantias que os animais serão fiscalizados caso proíbam as charretes. Lembra dos bodinhos da praça? Foram retirados e não temos notícias.” questionou.

    Já a estudante Stephany Yamamoto tem uma opinião contrária. “Tantas cidades já acabaram com esse tipo de exploração, Petrópolis deveria seguir o exemplo! É um ato de solidariedade e respeito à vida do animal!”, disse.

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