• Cratera da BR-040 completa dois anos sem solução efetiva para os moradores

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  • 05/11/2019 15:45

    Dois anos após o incidente que levou à interdição de 55 casas e da Escola Leonardo Boff devido à abertura de uma cratera às margens da BR-040, na altura do km 81 da pista de descida, os moradores da Comunidade do Contorno ainda cobram soluções por parte da Concer – concessionária que administra a rodovia. O buraco de cerca de 70 metros de diâmetro foi coberto com 323 caminhões de pós de pedra, mas até hoje ainda não há uma resposta oficial sobre as causas do incidente. 

    “O que nós queremos são respostas da Concer e que eles cumpram com o que foi combinado. Eles apresentaram um plano de recuperação da área para o Ministério Público, que deveria garantir segurança para que os moradores voltassem para suas casas, no entanto, não cumpriram. Estão em silêncio enquanto nós lutamos para recuperar a nossa história”, disse a moradora Angélica Domingas. 

    Até o momento, apenas 22 casas e a escola foram desinterditadas, mas apenas 12 moradores tiveram coragem de voltar a viver no local. Foto: Bruno Avellar/Tribuna de Petrópolis

    Vinte e quatro meses depois da tragédia, 22 casas e a escola foram desinterditadas na região do Contorno. Os imóveis foram liberados pela Defesa Civil (DC) depois de analisarem os laudos elaborados por uma empresa contratada pela Concer. As residências liberadas estão na área externa do raio de 50 metros do perímetro da cratera. De acordo com os relatórios da concessionária, neste ponto não há evidência de riscos.

    Apesar de 22 casas estarem liberadas, apenas 12 moradores retornaram para a comunidade. O restante continua recebendo o aluguel de R$ 1 mil oferecido pela Concer. “Alguns não retornaram por não se sentirem seguros com os laudos da Concer, o que garante que não ocorre de novo. Por isso, cobramos que o plano de recuperação seja cumprido o que trará mais segurança para a comunidade”, comentou Angélica. 

    Ela retornou à região no fim do ano passado e diz que teve gastos para reforma da casa. “Todos os imóveis foram furtados, tiveram toda a fiação da rede elétrica levada, portas e janelas quebradas e arrombadas. Além disso, foi preciso arrumar telhados e pintar as casas. É um gasto que muitos moradores tiveram e que a Concer não quis se responsabilizar. Deixamos nossas casas porque fomos obrigados e demoramos a retornar porque não nos foi permitido. O mínimo seria receber essa ajuda de custo que nunca chegou”, comentou a moradora.

    Para o outro morador Haroldo Wayand, de 84 anos e que desde 1947 residia no Contorno, faltou respeito à vida e as obras de escavação do túnel foram as causas da abertura da cratera. “Podem apresentar quantos laudos milionários quiserem, a cratera se abriu por causa do túnel que estava sendo aberto embaixo das nossas casas. Além disso, ainda abandonaram a obra de forma totalmente irresponsável sem pensar na vida das pessoas da comunidade”, citou o morador.

    Haroldo ainda não voltou para o Contorno, porque sua casa está no perímetro interditado pela Defesa Civil. Ele e a família pretendem retornar ao imóvel que está bem próximo do local da cratera. “Minha história é aqui e não tenho medo nenhum de voltar. Quero sim que a Concer garanta com documentos que a região é segura e que recupere a área para que possamos voltar”, ressaltou o morador. No plano de recuperação, a Concer se comprometeu em fazer o retaludamento da área afetada, drenagem e acesso da comunidade. 

    Para outra moradora que também retornou a sua casa em janeiro desse ano, o principal agora é lutar para a fortalecimento da comunidade. “É sempre uma luta permanecer aqui. Enfrentamos problemas antes da cratera com ações que pretendiam nos retirar daqui. Aqui no Contorno está a minha história de vida e da minha mãe”, frisou Emily dos Santos, de 19 anos. “A perda maior para todos nós foi do pertencimento a este lugar e não apenas da questão estrutural das casas, vai muito além disso”, afirmou.

    Há dois anos, um buraco com 70 metros de diâmetro se abriu no KM 81 da BR-040, interditando 55 casas e a Escola Leonardo Boff. Foto: Arquivo/Tribuna de Petrópolis

    Obra na Escola Leonardo Boff ainda não começaram

    Outro ponto abordado pelos moradores é sobre as obras de reforma da Escola Municipal Leonardo Boff. A Prefeitura já realizou a licitação, mas até o momento, os trabalhos ainda não começaram. “Queremos que a reforma aconteça em conjunto com a recuperação de toda a área da comunidade. Como vamos reabrir uma escola no ano que vem em um local com aspecto de abandono e sem as intervenções que vão garantir a segurança?”, questionou a moradora Angélica Domingas, que também é diretora da unidade.

    A escola existe há mais de 30 anos e atende cerca de 80 alunos da Educação Infantil a Ensino Fundamental em horário integral. Depois da tragédia, a instituição passou a funcionar em um imóvel alugado pela Concer, na Rua Duarte da Silveira. 

    Em nota, a Prefeitura informou que aguarda que a empresa vencedora da licitação entregue o cronograma da obra para que a mesma possa ter início. Ainda na nota, a Prefeitura informou que caso a reforma não seja concluída até o início do ano letivo de 2020, a escola permanecerá funcionando no imóvel alugado pela Concer.

    Indenizações ainda não foram pagas

    Uma ação civil pública que tramita na Vara Federal prevê uma indenização superior a R$ 206 milhões por parte da Concer pelos danos causados com a abertura da cratera há dois anos. Propostas de indenização extrajudiciais também já foram feitas pelos moradores, todas negada pela concessionária. Em nota, a empresa informou que não iria se pronunciar sobre o assunto. 

    Os moradores pediram um valor de R$ 300 mil para quem não quisesse retornar a comunidade e R$ 150 para quem voltasse. “Não concordaram com os valores que pedimos e também não fizeram contrapropostas. Tudo o que estamos fazendo nas nossas casas, toda reforma, é com dinheiro de cada um sem ajuda nenhuma da Concer”, comentou a moradora Angélica Domingas.

    A cratera se abriu na manhã do dia sete de novembro de 2017 bem no local onde a Concer escavava o túnel da nova subida da serra. Os trabalhos estão paralisados desde 2016 e o que tudo indica é que o abandono das intervenções pode ter ocasionado o incidente. A própria concessionária admitiu que desde novembro do mesmo ano em que as obras foram paralisadas, deixou de monitorar a região onde as escavações aconteceram.

    “Faltou responsabilidade, compaixão e empatia com a gente. Dois anos depois e ainda estamos sem respostas, com uma comunidade abandonada por todos: Concer, ANTT e poder público”, lamentou outro morador Paulo Proença.

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